No seguimento das considerações anteriores sobre os protagonistas da História Regional, vem a propósito falar de alguns portugueses da Bairrada. "A divisão administrativa que modernamente recebeu o nome de
Beira Litoral, proposto já no século passado por Barros Gomes, inclui nas suas sub-regiões uma zona interior, fertilíssima, de pequeno relevo orográfico, limitada a Leste pelo Buçaco; constituem-na, essencialmente, os concelhos de Oliveira do Bairro, Anadia e Mealhada, mas ocupa ainda um pouco dos concelhos de Águeda e de Cantanhede, e uma pequena parcela do concelho de Coimbra, ao Norte, até a povoação de Souselas: a
Bairrada." (1) No início do século XX, a Bairrada era uma zona de indústria cerâmica, já que era favorecida pela constituição argilosa do solo; aí se produziam igualmente bons vinhos, fortes, maduros, encorpados, taninosos, que eram exportados com sucesso para África e para o Brasil; nesse tempo, a abundância de pinheiros oferecia matéria-prima ao trabalho de algumas serrações e a oliveira inseria no mercado notáveis azeites. Isto, brevemente, quanto à caracterização física da região. (2) Quanto à sua riqueza humana, a Bairrada foi o local de nascimento e de trabalho de várias gerações de figuras notáveis. Lembremos, por exemplo, o poeta arcádico Francisco Joaquim Bingre (1763-1856), que viajou pela Bairrada, tendo morado em Ílhavo em 1801; o poeta António Feliciano de Castilho (1800-1875), que viveu em Águeda de 1826 a 1834 e escreveu influenciado pelo ambiente bairradino; António de Lima Fragoso (1897-1918), compositor, nascido em Cantanhede, notavelmente dotado, sem, porém, ter tido tempo de amadurecer a sua arte; Tomás da Fonseca (1877-1968), escritor republicano, que percorreu a Bairrada e divulgou um outro artista - o poeta popular Manuel Alves (1843-1901), de Anadia, cujos
Versos dum Cavador fez publicar; a escritora e professora Ercília Pinto (1914-1980), que publicou poesia, crónicas, teatro, ensaios. Finalmente, relembramos o Padre Acúrsio Correia da Silva (1889-1925), um homem de ampla cultura, que organizou a
Plêiade Bairradina (1918), um grupo cultural que colaborava no semanário
Gente Nova e cujas obras literárias pessoais, ao que parece, estão infelizmente perdidas. Muitos mais haveria a recordar, mas receamos não ser aqui o espaço próprio para esse trabalho. Sobre estas e outras figuras da Bairrada, que enriqueceram o património humano da sua terra e de Portugal, existe uma obra recente:
Figuras das Letras e Artes na Bairrada, Arsénio Mota, 2001. A ler e a aprofundar, a bem da nossa História.
(1) Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol.4, p.17.
(2) Para estas referências, idem, pp.17-18.