Sobre a Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS):
A FFMS tem como missão contribuir para o desenvolvimento da sociedade, o reforço dos direitos dos cidadãos e a melhoria das instituições públicas através da promoção e da demanda pelo conhecimento da realidade portuguesa. Nos estudos efectuados, a análise deve ser rigorosa e, após a obtenção de resultados, estes devem ser divulgados e servir de base para debate, assim como para a formulação de recomendações e sugestões, tendo em vista o melhoramento das instituições e da vida em comum. Um dos grandes objectivos é disponibilizar aos cidadãos a maior massa de informação possível, pois, como explica no site da Fundação, “os cidadãos informados são os que estão mais habilitados a formar uma opinião independente e livre”. (1) Neste âmbito, foi criada a colecção “Ensaios da Fundação” cujo desígnio principal é pensar livremente.
Os Ensaios da Fundação:
Já se abordou, neste blog, um dos ensaios intitulado “Economia Portuguesa – As últimas décadas” (2010), do historiador Luciano Amaral, cujo texto pode ser encontrado
aqui.
No início deste ano, foram publicados novos ensaios, dos quais destaco “A Ciência em Portugal”, da autoria de Carlos Fiolhais, professor de Física da Universidade de Coimbra, e “Filosofia em Directo”, de Desidério Murcho, professor de Filosofia na Universidade Federal de Ouro Preto, Brasil.
“A Ciência em Portugal”
Este livro é importante na medida em que ajuda a entender como funciona a ciência em Portugal – Quem financia, quem faz, como são avaliados os resultados, quem e como divulga, etc.
A obra tem início com uma introdução que faz uma análise gráfica e histórica do estado da ciência em Portugal nos últimos anos; seguido de um brevíssimo capítulo dedicado à História da Ciência Portuguesa (2). De seguida, aborda a Organização da Ciência através do papel do Ministério para a Ciência e Tecnologia, das Unidades de Investigação, Laboratórios Associados e Laboratórios do Estado; procura-se saber como está a decorrer a produção científica no nosso país e como isso pode ser avaliado (e.g. como o número de pessoas formadas, o número de artigos científicos, o impacto desses artigos, o número de patentes, entre outros); e aborda-se ligeiramente a relação triangular Ciência, Tecnologia e Economia. Os capítulos seguintes dedicam-se à relação entre a ciência e o público, dando-se ênfase à estreita colaboração com as escolas, assim como com o chamado ensino informal e o papel da divulgação científica.
O progresso de um país está estreitamente ligado ao desenvolvimento da ciência e tecnologia, e por isso é importante que os cidadãos entendam os rudimentos destas áreas. O ensino da ciência pode ser feito dentro das salas de aula (ensino formal) ou fora das salas de aula (ensino não formal, e.g. museus), sendo estes dois modos de ensino complementares. Estudos indicam que a aprendizagem de conceitos científicos por adultos faz-se ao longo da vida através de ensino não formal, mas a compreensão dessas ideias é tanto maior quanto o nível de escolarização (importância do ensino formal) (3). O autor é crítico no modo como se ensinam as ciências, defendendo que é necessário valorizar cada vez mais o papel da experimentação e do raciocínio crítico dentro das salas de aula, de modo a, por exemplo, saber distinguir ciência de pseudociência (4). Contributos positivos têm sido dados pela Agência Ciência Viva, assim como através de livros de divulgação científica (referem-se algumas editoras como Publicações Europa-América, Editorial Presença ou a Gradiva), por Museus e Exposições e por associações de ciência.
São apresentadas algumas soluções para melhorar a aprendizagem de ciências: palestras de cientistas nas escolas e em museus ou centros de ciência, realização de Dias Abertos em Universidades ou Instituições Científicas, Actividades de Verão da Ciência Viva. No final do livro, também são apresentadas ideias para ampliar a divulgação científica, como por exemplo tentar captar mais atenção dos Media, apoiar os museus e centros de ciência e fomentar novos, fomentar actividades de associativismo científico, ou promover a ligação entre Ciências e Humanidades (artes e letras).
“Filosofia em Directo”
De acordo com o prefácio do autor, este livro não tenciona ser nem escolar nem académico, e por essa razão não apresenta referências bibliográficas ao longo do texto, nem referências a filósofos antigos ou contemporâneos; pretende apenas apresentar o raciocínio filosófico, o que consegue através de inúmeros exemplos práticos ao longo da obra (para esses exemplos, o autor recorre a personagens ou a acontecimentos do livro “Os Maias”, do escritor Eça de Queirós).
Desidério apoia o leitor na reflexão de vários temas que acompanham a Humanidade ao longo de milhares de anos, como a Democracia, a Liberdade, a Autonomia, o Valor, o Sentido, a Realidade, a Contingência, o Raciocínio e a Verdade. Passo a passo, ensina-nos a reflectir filosoficamente. A título de exemplo, ainda no primeiro capítulo explica o que é a Democracia para de seguida demonstrar, através de argumentos lógicos, por que é contra a Democracia; mas isto serve de pretexto para desmontar o raciocínio anterior, demonstrando que por vezes um raciocínio pode ser lógico mas, apesar disso, estar errado por partir de premissas erradas, alertando-nos assim para a necessidade de espírito crítico.
Ao ler este livro, não pude deixar de pensar como serviria para uma boa introdução à disciplina de filosofia no secundário, ou como leitura complementar das aulas.
Notas:
(2) – Este tema é desenvolvido no livro de Carlos Fiolhais e Décio Martins, “Breve História da Ciência em Portugal” (2010).
(3) – Carlos Fiolhais, (2011), p. 56
(4) – Idem, pp. 61-62
Bibliografia:
- Carlos Fiolhais, “A Ciência em Portugal”, Fundação Francisco Manuel dos Santos & Relógio d’Água Editores, Lisboa, 2011
- Carlos Fiolhais e Décio Martins, “Breve História da Ciência em Portugal”, Gradiva Publicações e Imprensa da Universidade de Coimbra, Coimbra, 2010.
- Desidério Murcho, “Filosofia em Directo”, Fundação Francisco Manuel dos Santos & Relógio d’Água Editores, Lisboa, 2011
- Luciano Amaral, “Economia Portuguesa – As últimas décadas”, Fundação Francisco Manuel dos Santos & Relógio d’Água Editores, Lisboa, 2010