Como os leitores do blog puderam acompanhar nos últimos meses, lendo os nossos textos, decorreu no Porto a exposição científica “A Evolução de Darwin”, que terminou no dia 17 de Julho. Posso dizer que foi um sucesso, repetindo o que acontecera em Lisboa (2009), na Fundação Calouste Gulbenkian.
Serve isto para dizer que do contacto que estabeleci com as pessoas, concluo que estas encontram-se extremamente receptivas a exposições de cariz científico, e que possuem um entendimento razoável desta temática particular da evolução das espécies. De facto, o conhecimento geral está presente na visão que as pessoas têm desta importante teoria, o que falha são alguns pormenores, alguns detalhes – que obviamente não se espera que o público em geral domine, mas para isso é que existem exposições como esta e bibliografia de divulgação disponível, para informar e esclarecer.
No que concerne a bibliografia, existem inúmeros livros estrangeiros sobre o tema publicados em Portugal, e muitos deles já traduzidos, mas não são esses que vou abordar hoje. Tenciono divulgar duas obras de uma cientista portuguesa, a professora universitária Teresa Avelar, que tem dedicado boa parte do seu tempo a esclarecer esta temática importante não só para a Biologia, como para todos nós, pois elucida-nos sobre a natureza que nos rodeia.
O primeiro livro que vou abordar é “Evolução a duas vozes” (2009), escrito em colaboração com o padre e teólogo Joaquim Carreira das Neves. Quando menciono este livro junto do público, sou frequentemente interpelado com a afirmação de que se tratará de uma visão evolucionista (T. Avelar) e outra criacionista (J. C. das Neves). Ora, nada mais errado, porque, como logo explico às pessoas, o padre não defende uma visão criacionista, assim como a igreja católica também não o faz. Já agora, esta visão não é apenas característica do catolicismo, mas também de outras variantes cristãs, algumas protestantes (1). Ou seja, para as religiões tolerantes, e que estão abertas a um diálogo com a esfera científica, existe uma aceitação e compreensão desta temática, aceitando a evolução como um facto, que é – actualmente não se faz uma interpretação literal do Génesis, o primeiro livro da Bíblia (2). Na minha opinião, este é um dos livros mais importantes publicados em Portugal sobre esta temática, pois, de um lado, a professora Teresa Avelar explica de um modo claro as ideias da Teoria da Evolução das Espécies, e, noutro lado, o padre J. Carreira das Neves transmite a visão da religião sobre o mesmo tema, assim como sobre a interpretação do Génesis. As duas opiniões em conjunto contribuem para um necessário esclarecimento da sociedade, através de uma leitura acessível a qualquer público.
Outro livro da autoria da professora universitária é intitulado “A Evolução culminou no Homem?” (2010), que pretende desmistificar alguns preconceitos e elucidar sobre os pormenores, os tais detalhes que mencionei acima, sobre a evolução. O título, bastante sugestivo, reflecte a crença generalizada de que o homem é a espécie “mais evoluída” (??) e que a evolução culminou no homem, o que é um erro. Se por mais evoluído entendermos mais complexo, então é necessário dizer que estruturas é que se estão a comparar e com que seres vivos. Por exemplo, a nível genético as plantas possuem mais cromossomas que os seres humanos, nessa perspectiva são mais complexas. Além disso, a evolução não se dá de forma linear começando nas bactérias e acabando nos humanos, a evolução é ramificada (este tema já foi aqui abordado, em textos anteriores). Este é um excelente livro para quem pretende complementar o seu conhecimento desta temática.(3)
Estes livros encontram-se facilmente à venda na FNAC ou na Bertrand, assim como no WOOK:
Notas:
(1) – ler Richard Dawkins, “O Espectáculo da Vida – a prova da evolução”, Casa das Letras, 2009 – no capítulo 1.
(2) – A excepção vai para alguns círculos cristãos menos informados, e para uma corrente Evangélica com bastante peso nos Estados Unidos da América.
(3) – Teresa Avelar é ainda co-autora de “Quem tem medo de Charles Darwin” (2004), da Relógio d’Água, e de “Evolução e Criacionismo – Uma relação impossível” (2007), da Quasi Edições. Neste último livro, a maioria dos capítulos são da sua autoria. Também traduziu a "Autobiografia" de Charles Darwin.