Aldous Huxley |
“Admirável Mundo Novo” (1932) é um livro da autoria do escritor inglês Aldous Huxley (1894-1963), podendo ser enquadrado dentro das temáticas ficção científica e ficção distópica (1). Esta ligação de A. Huxley à Ciência não se dá por mero acaso. De facto, o autor cresceu num meio em contacto com esta área do saber: Era neto do famoso cientista Thomas Henry Huxley (1825-1895), evolucionista convicto, conhecido como “Bulldog de Darwin”, por ser defensor acérrimo do naturalista britânico; irmão do biólogo Julian Huxley (1887-1975) (2); e meio irmão de Andrew Huxley (n. 1917), Prémio Nobel da Fisiologia e Medicina (1963).
Nesta obra, Huxley descreve uma sociedade futura bem organizada, em que os habitantes vivem em paz e felizes, mas à custa de um Estado controlador. A sociedade encontra-se dividida em castas, em que os indivíduos das castas inferiores são feios e estão destinados à realização de trabalhos menores, e os das castas superiores, os Alfa mais, estão destinados a colaborar na organização da sociedade. Os indivíduos das diferentes castas são condicionados física e psicologicamente à nascença e nos primeiros anos de desenvolvimento: todos os habitantes são criados em laboratório como bebés-proveta, muitos deles são clones, e condicionados geneticamente através de diferentes procedimentos ao longo da cadeia de produção; enquanto crianças são educados por meio de um processo hipnopédico, em que ouvem ensinamentos morais repetidas vezes (ensinamentos esses, diferentes para as várias castas). A maior parte da ciência, a arte e a religião foram abolidas. Mas no meio de tanta regulamentação e diferenças sociais porque é que não há revoltas? Porque todas as pessoas foram condicionadas a gostar do que fazem, e, além disso, tomam “soma”, uma droga que as ajuda a relaxar. No entanto, alguns cidadãos ocasionalmente questionam este modo de vida, e o personagem Bernard Marx é disso exemplo.
Marx, psicólogo, viaja para uma reserva histórica em que as pessoas desse local vivem de acordo com os costumes antigos. Aí conhece um índio, de nome John, mais conhecido como o “Selvagem”, que nascera na Reserva, mas tem uma ligação misteriosa com a sociedade civilizada. Ao descobrir o segredo de John, Marx decide dá-lo a conhecer à sua sociedade. O interessante é saber como John vai reagir a uma realidade assaz diferente da sua, e como a sociedade vai conseguir lidar com o Selvagem. Decerto poderemos esperar, à partida, um choque de culturas, mas o confronto irá ainda mais longe: John é um selvagem que conhece bastante bem a obra de William Shakespeare e depara-se com uma sociedade que ignora a literatura clássica, é um ser que tem dificuldade em aceitar que sejam todos iguais e que pensem e actuem de maneira igual (de acordo com a sua casta), o que o leva a indignar-se com o “Admirável Mundo Novo” (3) que encontra.
Este é um livro que analisa o risco de ausência de espaço para a individualidade numa sociedade, mais do que através de uma pressão social para todos agirem do mesmo modo, através de um condicionamento de desenvolvimento, realizado por quem governa, e da provável irreversibilidade deste processo. O enredo deste livro e o de “1984” de Orwell partem da intenção de criar uma sociedade melhor (utopia), mas que devido à falta de ética (possível explicação) na acção humana, esse pressuposto acaba por degenerar numa realidade opressora e perturbadora (distopia). Talvez a mensagem dos autores seja: “A favor da criação de uma sociedade melhor, mas com cautela.”
Notas:
(1) – Quando se descreve um lugar demasiado perfeito quando comparado com a nossa realidade, designamo-lo de Utopia, mas quando esse lugar é demasiado perturbador ou horrível quando comparado com a realidade, então, designamo-lo de distopia. Obras como “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley, ou do aqui já mencionado “Mil Novecentos e Oitenta e Quatro” de George Orwell, são consideradas distópicas.
(2) – Julian Huxley era amigo do escritor de ficção científica H. G. Wells, também já mencionado neste blog (Julho 2011).
(3) – Alusão à obra “Tempestade” (V, 1), de William Shakespeare. Aliás, o livro está repleto de referências a diversos textos deste autor.
Bibliografia:
Aldous Huxley, "Admirável Mundo Novo", Editora Livros do Brasil, Lisboa, 2006 - Tradução: Mário Henrique Leiria
2 comentários:
Adorei esse livro. A par do 1984. ;)
Muito bom texto, João! ;)
Olá Ana,
Obrigado, ainda bem que gostaste. Também já li o teu outro comentário no post do Orwell ;)
Trata-se de dois livros que adquiri há um par de anos, mas só recentemente tive oportunidade de ler. Se tiveres outras sugestões de leitura sobre temas idênticos, diz.
Cumprimentos,
João M.
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