No livro “Não podemos ver o vento”, Clara Pinto Correia usa o tema dos Grupos Especiais como fio condutor do enredo. A personagem principal é Mariana Mindelo, uma psicóloga que decide estudar o comportamento de um grupo restrito de homens que esteve na Guerra do Ultramar, os Grupos Especiais (GEs) e Grupos Especiais Pára-quedistas (GEPs), homens treinados arduamente para fazer frente às guerrilhas, mas que foram esquecidos pelo Estado no Pós-Guerra. A definição e a história dos GEs podem ser encontradas, com mais detalhe, nos capítulos 6 e 21 do livro. A maioria destes homens ficou sem qualquer tipo de acompanhamento psicológico após o regresso a Portugal, isto depois de tudo o que presenciaram em clima de guerra (incluindo formatação psicológica e assassínios que foram forçados a cometer), trazendo sequelas não só físicas mas também de foro mental, manifestadas por comportamentos de isolamento ou de agressividade, por exemplo. Assim, Mariana pretende desenvolver um estudo académico do crescimento pós-traumático (ao invés do stress pós-traumático) seguindo uma linha de investigação enquadrada na actual “Psicologia do Optimismo”, de modo a compreender também de que modo estes acontecimentos contribuíram para a actividade criadora ou empreendedora de alguns destes indivíduos (por exemplo, o caso de Guilherme que administra a estância turística).
Mas à medida que se desenrola o fio deste novelo, conhecemos outras facetas da personagem principal, para além do seu interesse académico. Mariana é mãe de duas gémeas adolescentes e tem de lidar com os problemas da juventude actual, é uma mulher separada que continua em busca da sua paixão. Ou seja, não é mais que uma mulher comum que, como tal, divide-se em múltiplas tarefas tentando ter sucesso em todas elas, quer seja a nível profissional, pessoal ou familiar, com todo o desgaste que isso implica. Trata-se de uma personagem muito humana, com quem facilmente se estabelecem laços de empatia.
O livro trata de vários mistérios: a vida actual dos GEs, a vida de Mariana Mindelo e da sua família, os segredos das várias personagens com quem Mariana estabelece contacto, e quando pensamos que estamos prestes a entender tudo, eis que a história se prepara para dar uma tremenda reviravolta. Tudo isto, descrito em capítulos que não seguem uma sequência temporal, que são como peças de um puzzle que tentaremos montar de modo a visualizar o panorama geral.
Para escrever este livro, a autora entrevistou ex-membros dos GEs, conversou com psicólogos e estudou o tema da Psicologia do Optimismo, de modo a elaborar uma obra não só fascinante do ponto de vista literário, como também interessante do ponto de vista académico.
Brevíssima nota sobre a autora:
Clara Pinto Correia é bióloga e escritora, autora de inúmeras obras sobre diferentes áreas como literatura, biologia, história das ciências e divulgação científica.
Bibliografia:
Clara Pinto Correia, "Não podemos ver o vento", Clube de Autor, Lisboa, 2011
1 comentário:
A primeira análise ao livro feita na net, foi realizada por nós. (tudo o que se encontra até ao momento são descrições disponibilizadas pela editora). O nosso blog na vanguarda :)
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