Qualquer orgulhoso dono de um cão ou gato dirá que o seu animal de estimação
o consegue reconhecer. Esta afirmação não será novidade para o
leitor. Na verdade, muitas espécies de animais são capazes de
reconhecer pessoas individualmente.
Mas, como é que sabemos isso?
E, mais estranho ainda...e se esse animal for um
polvo?
Há
muitas histórias anedóticas de tratadores que acham que os polvos
nos aquários os reconhecem e discriminam em relação a outras
pessoas (por exemplo, aproximando-se do tratador, mesmo que este
esteja num grupo). A confirmar-se esta hipótese, isso significaria
que o polvo é capaz de executar mais uma complexa tarefa, uma vez
que conseguiria discriminar, aprender e recordar!
O polvo tem-se
revelado um animal extraordinário em muitos aspetos e muitos
estudiosos dos moluscos, e do comportamento animal em geral, não
duvidarão desta sua capacidade, já que os consideram um dos animais
mais interessantes do planeta. Diz-se até que é o invertebrado mais inteligente que existe, de tal forma que é o único invertebrado que merece estatuto de protecção na
lei inglesa que regula o uso de animais em laboratório.
Mas, como sempre acontece em ciência, gostos e impressões pessoais à parte,
são necessárias provas claras.
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Enteroctopus
dofleini |
E é aí que entram os protagonistas desta investigação:
Roland C.Anderson e Stephanie R. M. Zimsen do
Aquário de Seattle (EUA),
Jennifer A. Mather da
Universidade de Lethbridge (Canadá) e Mathieu Q. Monette da Universidade de Bruxelas (Bélgica).
Usando o polvo-gigante-do-Pacífico
Enteroctopus dofleini)
testaram
se
era
ou
não
verdade
que
os
polvos
reconhecem
e
discriminam
os
seres
humanos
individualmente.
Para
isso,
montaram
uma
experiência
curiosa.
Capturaram 8 polvos que colocaram em tanques individuais. Cada
polvo
recém-capturado
era
observado
duas
vezes
por
dia
por
dois
investigadores
diferentes
vestidos
com
roupa
igual. Um
dos
observadores,
para
além
de anotar vários aspectos do
comportamento
do
animal,
alimentava-o. O
outro, fazia o mesmo tipo de observações
mas
também "cutucava"
o
polvo
com
um
pau
(algo
inofensivo,
mas
seguramente
irritante
para
o
animal). Alguns cuidados extra, mas necessários às conclusões: diferentes polvos eram observados por diferentes pares de observadores, de forma a que os possíveis efeitos observados não fossem devidos àquelas pessoas em particular, e se pudessem extrapolar.
O que os investigadores exploraram foram vários aspetos do comportamento que poderiam ser indicativos de stress, como por exemplo, a existência ou não de uma mancha colorida mais escura na pele à volta do olho (eyebar).
No
princípio
do
estudo,
os
polvos
geralmente
fugiam
de
ambos
os
investigadores
desconhecidos.
Mas,
à
segunda
semana de observações,
já
se
notava
que
os
polvos
se
aproximavam
dos
investigadores
que
os
alimentavam,
não
mostrando
sinais
de
stress.
Pelo
contrário,
afastavam-se
do
outro
investigador
(o
“mau
da
fita”),
mostrando
vários
sinais
de
stress, incluindo a eyebar.
Confirmou-se
assim que a impressão de muitos tratadores era real e que também os
polvos reconhecem pessoas de forma individual, para além de outros
feitos fantásticos já demonstrados, como: expressão de personalidade, atividades de jogo,
habilidades de aprendizagem e memória a curto e longo prazo, excelente deteção visual e
olfativa, mestria na mímica e camuflagem “inventiva”.
Aqui ficam alguns vídeos demonstrativos:
- Aprendizagem por observação (a qualidade do vídeo não é muito boa, mas faz parte de um documentário muito interessante acerca dos polvos):
- Fantástica capacidade de mímica na espécie indonésia Thaumoctopus mimicus: