quarta-feira, 21 de março de 2012

Dos trópicos para os pólos: a invasão das lulas Humboldt no Pacífico.



Resumo
As lulas Humboldt, Dosidicus gigas, são predadores endémicos do Pacífico Tropical Oriental, que atingem entre 2 a 3 m de comprimento e mais de 50 quilos de peso. Embora estas lulas apresentem das taxas metabólicas mais elevadas do planeta, elas realizam, diariamente, migrações verticais para regiões profundas (mesopelágicas) “mortas”, também conhecidas como “zonas de oxigénio mínimo” (ZOM). No futuro, os níveis elevados de dióxido de carbono (previstos entre 730-1000 ppm em 2100) desencadearão graves problemas na ecologia migratória destes organismos, uma vez que a consequente acidificação dos oceanos (DpH=0.3) diminuirá significativamente as suas taxas metabólicas (31%) e os seus níveis de actividade (45%) durante a sua permanência em águas pouco profundas à noite (~70 m de profundidade). Concomitantemente, com a expansão das ZOM associada ao aquecimento global, as lulas terão de migrar para águas menos profundas para compensar a dívida de oxigénio que acumulam (durante o dia) nas águas profundas e hipóxicas das ZOM (~300 m). Deste modo, o efeito combinado da acidificação e aquecimento na superfície e a expansão da hipóxia em profundidade irá comprimir o habitat pelágico desta espécie e na ausência de adaptação ou migrações horizontais, a interacção destas variáveis ambientais poderá definir, a longo prazo, o futuro deste importante predador no Pacífico Tropical Oriental.

 Biografia
Doutor Rui Rosa – Biólogo, doutorado pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa em 2005, e investigador de pós-doutoramento na Universidade de Rhode Island, EUA, até 2008. Actualmente, é Coordenador do Laboratório Marítimo da Guia (LMG-CO-FCUL) e Investigador Auxiliar no Centro de Oceanografia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Ao longo dos últimos anos, participou em projectos financiados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), Swedish Environmental Protection of Agency (EPA) e American National Science Foundation (NSF-USA). É autor de inúmeras publicações científicas em revistas indexadas da especialidade, livros científicos; recebeu ainda vários prémios (Prémio IMAR - Luiz Saldanha; Prémio do Mar - D. Carlos; JEB Fellowship Award em 2005 e 2006) e bolsas de investigação (US National Science Foundation, Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação para a Ciência e Tecnologia) de índole nacional e internacional. O seu actual interesse de investigação é o de compreender de que modo é que as alterações climáticas irão afectar processos biológicos críticos, nomeadamente a regulação ácido-base, o metabolismo energético, o crescimento e os processos de calcificação em espécies marinhas costeiras.

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