Qualquer orgulhoso dono de um cão ou gato dirá que o seu animal de estimação o consegue reconhecer. Esta afirmação não será novidade para o leitor. Na verdade, muitas espécies de animais são capazes de reconhecer pessoas individualmente.
Mas, como é que sabemos isso?
E, mais estranho ainda...e se esse animal for um polvo?
Há muitas histórias anedóticas de tratadores que acham que os polvos nos aquários os reconhecem e discriminam em relação a outras pessoas (por exemplo, aproximando-se do tratador, mesmo que este esteja num grupo). A confirmar-se esta hipótese, isso significaria que o polvo é capaz de executar mais uma complexa tarefa, uma vez que conseguiria discriminar, aprender e recordar!
O polvo tem-se revelado um animal extraordinário em muitos aspetos e muitos estudiosos dos moluscos, e do comportamento animal em geral, não duvidarão desta sua capacidade, já que os consideram um dos animais mais interessantes do planeta. Diz-se até que é o invertebrado mais inteligente que existe, de tal forma que é o único invertebrado que merece estatuto de protecção na lei inglesa que regula o uso de animais em laboratório.
Mas, como sempre acontece em ciência, gostos e impressões pessoais à parte, são necessárias provas claras.
Enteroctopus dofleini |
Usando o polvo-gigante-do-Pacífico Enteroctopus dofleini) testaram se era ou não verdade que os polvos reconhecem e discriminam os seres humanos individualmente.
Para isso, montaram uma experiência curiosa.
Capturaram 8 polvos que colocaram em tanques individuais. Cada polvo recém-capturado era observado duas vezes por dia por dois investigadores diferentes vestidos com roupa igual. Um dos observadores, para além de anotar vários aspectos do comportamento do animal, alimentava-o. O outro, fazia o mesmo tipo de observações mas também "cutucava" o polvo com um pau (algo inofensivo, mas seguramente irritante para o animal). Alguns cuidados extra, mas necessários às conclusões: diferentes polvos eram observados por diferentes pares de observadores, de forma a que os possíveis efeitos observados não fossem devidos àquelas pessoas em particular, e se pudessem extrapolar.
O que os investigadores exploraram foram vários aspetos do comportamento que poderiam ser indicativos de stress, como por exemplo, a existência ou não de uma mancha colorida mais escura na pele à volta do olho (eyebar).
No
princípio
do
estudo,
os
polvos
geralmente
fugiam
de
ambos
os
investigadores
desconhecidos.
Mas,
à
segunda
semana de observações,
já
se
notava
que
os
polvos
se
aproximavam
dos
investigadores
que
os
alimentavam,
não
mostrando
sinais
de
stress.
Pelo
contrário,
afastavam-se
do
outro
investigador
(o
“mau
da
fita”),
mostrando
vários
sinais
de
stress, incluindo a eyebar.
Aqui ficam alguns vídeos demonstrativos:
- Aprendizagem por observação (a qualidade do vídeo não é muito boa, mas faz parte de um documentário muito interessante acerca dos polvos):
- Fantástica capacidade de mímica na espécie indonésia Thaumoctopus mimicus:
Não voltará a olhar o polvo com os mesmos olhos...e ele, como o verá a si?
Foto de Veronica von Allworden que aparece no artigo original. |
Artigo: Roland C. Anderson, Jennifer A. Mather, Mathieu Q. Monette & Stephanie R. M. Zimsen (2010): Octopuses (Enteroctopus dofleini) Recognize Individual Humans. Journal of Applied Animal Welfare Science 13: 261-272
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