Teve lugar na
passada semana de 12-16 de Setembro, em Trieste (Itália) e Ljubljana (Eslovénia),
o primeiro Pilots Training Course forMuseum Explainers, Educators and Young Scientists involved in outreachprogrammes. Esta foi uma interessante formação dirigida a todos aqueles que
trabalham em comunicação de ciência, mas particularmente àqueles que estão
associados a centros ou museus de ciência. O curso foi organizado pelo grupo
THE GROUP (Thematic Human interface and Explainers), que faz parte da organização ECSITE (The European Network of Science Centresand Museums) e que se dedica particularmente aos
monitores de ciência, desde a sua formação até à sua valorização nos locais de
trabalho, que podem ser tão variados como: centros interativos de ciência,
museus de história natural, zoos, aquários, empresas de atividades educativas,
etc. Tive a oportunidade de, graças a uma bolsa Grundtvig
da Agência Nacional PROALV, assistir a este curso e foi uma experiência
marcante.
Embora pareça ser
uma comunidade variada, variável e heterogénea, os monitores de ciência, ou “pilotos”
(a designação que usámos durante o curso,) partilham muitas características, independentemente
do seu país de origem, background,
local de trabalho ou designação que lhe atribuem (monitor, explicador, guia,
demonstrador, facilitador, etc.). Isto mesmo se pôde verificar no primeiro
workshop do curso, onde debatemos e expressamos artisticamente o que era um
monitor de ciência. Estes foram alguns dos resultados:
Scinamator -o resultado artístico do meu grupo de trabalho. |
Mapa conceptual sobre as competências dos monitores. |
No segundo dia do
curso, debatemos e trabalhamos acerca da aprendizagem, tema sempre presente na
comunicação de ciência. Será que os visitantes de um centro de ciência aprendem
alguma coisa? O quê? E o que é que queremos que eles aprendam, na verdade? Eu
gostei particularmente da abordagem da Maria Xanthoudaki, directora dos
Serviços Educativos e Relações Internacionais do Museo Nazionale della Scienza e della Tecnologia Leonardo da Vinci(Museu Nacional da Ciência e Tecnologia) em Milão:
quero que o visitante saia do museu levando algo de novo dentro de si. Esse “algo
novo” pode não ser necessariamente um conhecimento científico, pode ser só uma
sensação, pode ser o desejo de ir em busca de alguma informação nova sobre
algum tema que desconhecia, … Esta aproximação à problemática parece-me muito
interessante porque é também aquilo que me leva a ser comunicadora de ciência.
Não é necessariamente a transmissão de novos conhecimentos aos meus receptores (embora
também o seja), mas é sobretudo querer marcá-los de alguma forma,
transformá-los nalgum aspeto e, assim, mudar a sua percepção em relação à
ciência e o fascínio da descoberta.
Ao terceiro dia,
o curso mudou-se de malas e bagagens para Ljubljana, na Eslovénia. Aí, tivemos
a oportunidade de conhecer o Hišaeksperimentov (A Casa das Experiências)
e o excelente trabalho que aí fazem no âmbito, entre outros, dos shows de
ciência: animadas demonstrações de ciência (ou aventuras de ciência, como lhes chamam no Hiša)
que podem ser dirigidas a distintos públicos, dos 8 aos 80. Assistimos ao
famoso Soundology, uma aventura com o
som.
Este grande pequeno
centro de ciência “mãos-na-mass”, único na Eslovénia, nasce em 1995 fruto da
vontade e persistência do seu director, Miha
Kos, doutorado em Física. O seu lema é este provérbio chinês: "Eu ouvi e
esqueci, eu vi e recordei, eu fiz e então soube” e tem uma bela equipa a
trabalhar não só no centro mas também por todo o país. Podem ver o Miha em acção
aqui, durante o Festival de Ciência em Ljubljana:
Se forem a
Ljubljana, esta é uma visita obrigatória.
Outro tema muito
trabalhado no curso foram as actividades de diálogo/debate. Como levar o
público a um debate sobre ciência? Como levar os visitantes de um centro/museu
a dialogar acerca daquilo que estão a observar ou a experimentar. Como em
muitas outras situações deste género, o melhor é usar um “isco” com que as
pessoas de relacionem de forma muito próxima: algo do seu dia-a-dia ou das suas
memórias de infância. Um exemplo: uma figura da banda-desenhada. É relativamente
fácil pegar na imagem de um super-herói ou outra figura da cultura popular
como ponto de partida para um debate/conversa sobre ciência. Na Universcience – Cité des Science & de l’Industrie(Cidade das Ciências e Indústria) em Paris, fizeram isto mesmo à volta da exposição Science [et] Fiction(Ciência e Ficção), utilizando como ponto de partida imagens de banda-desenhada
de ficção científica, incluindo a Guerra das Estrelas. Thiérry Dasse, mostrou-nos
parte da divertida actividade prática que desenvolveu para essa exposição:
E, esta, foi
também uma forma muito importante de aprender: a partilha de experiências por parte dos participantes.
Nas duas sessões Pilots Piloting,
tivemos a oportunidade de partilhar demonstrações, shows, ou “simplesmente”
falar um pouco acerca do trabalho que se faz na instituição de origem, de uma
ideia para uma actividade ou para a formação e motivação dos monitores. Nesta
vertente, o treino teatral saiu vencedor como um excelente ponto de partida
para facilitar a abordagem dos monitores ao público, o à-vontade dos monitores
e até a introdução de algum humor na nossa comunicação.
Como não podia
deixar de ser, abordámos também a sempre difícil avaliação. Como saber que
estamos a atingir os nossos objectivos? Este tema foi tratado tanto a nível da
avaliação institucional como dos monitores, de uma forma mais específica. Como trabalho
de grupo (um de muitos), deveríamos planificar um formulário de avaliação para
diferentes actividades, tarefa que se revelou bem mais difícil do que à partida
aparentava.
Resumindo, esta é
uma formação que me parece de interesse fundamental para todos aqueles que
trabalham com público em diferentes instituições onde se faz divulgação
científica. Para quem estiver interessado, estejam atentos ao site da ECSITE e
às conferências anuais, onde há sempre
dois dias de formação prática para monitores (e outras formações direccionadas
a outros aspectos das instituições, como a obtenção de financiamento, por exemplo). A próxima
conferência será no final do mês de Maio de 2012, em Toulouse (França). Se são monitores e querem partilhar experiências com colegas de todo o mundo, podem também unir-se à comunidade Pilots, através do Pilots Hub!
Cá fica, para a posteridade, a foto do grupo internacional e multi-cultural que participou nesta formação:
Cá fica, para a posteridade, a foto do grupo internacional e multi-cultural que participou nesta formação:
2 comentários:
Tenho pena que em Portugal não tenhamos mais eventos destes. E em Língua Portuguesa ;) e não necessariamente inglesa.
Bem, Diana, depois podes ir partilhando os teus novos conhecimentos e competências com o resto do pessoal :) :)
Pelo menos eu tento retirar ao máximo os ensinamentos dos colegas de diversas áreas, e aplicá-los na prática. ;)
Claro que, e em especial nas redes sociais, depende dos dias... :P a paciência nem sempre é das maiores com pessoas que não estão interessadas em aprender. :)
Ana, este foi um curso europeu.
Mas, por exemplo, já houve em Portugal (Lisboa) uma conferência da ECSITE que incluia as formações.
Claro que, ao ser um evento europeu, a língua de trabalho é o inglês.
Isto não invalida que não se possam organizar formações deste género em Portugal e em português. Agora, será que já há a massa crítica para tal? Sobretudo a nível de formadores de monitores...
O intuito deste post foi precisamente a partilha. Eu adorei a experiência e gostava de a dar a conhecer a mais pessoas :)
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