domingo, 25 de setembro de 2011

Pilotos de Ciência


Teve lugar na passada semana de 12-16 de Setembro, em Trieste (Itália) e Ljubljana (Eslovénia), o primeiro Pilots Training Course forMuseum Explainers, Educators and Young Scientists involved in outreachprogrammes. Esta foi uma interessante formação dirigida a todos aqueles que trabalham em comunicação de ciência, mas particularmente àqueles que estão associados a centros ou museus de ciência. O curso foi organizado pelo grupo THE GROUP (Thematic Human interface and Explainers), que faz parte da organização ECSITE (The European Network of Science Centresand Museums) e que se dedica particularmente aos monitores de ciência, desde a sua formação até à sua valorização nos locais de trabalho, que podem ser tão variados como: centros interativos de ciência, museus de história natural, zoos, aquários, empresas de atividades educativas, etc. Tive a oportunidade de, graças a uma bolsa Grundtvig da Agência Nacional PROALV, assistir a este curso e foi uma experiência marcante.

Embora pareça ser uma comunidade variada, variável e heterogénea, os monitores de ciência, ou “pilotos” (a designação que usámos durante o curso,) partilham muitas características, independentemente do seu país de origem, background, local de trabalho ou designação que lhe atribuem (monitor, explicador, guia, demonstrador, facilitador, etc.). Isto mesmo se pôde verificar no primeiro workshop do curso, onde debatemos e expressamos artisticamente o que era um monitor de ciência. Estes foram alguns dos resultados:

Scinamator -o resultado artístico do meu grupo de trabalho.


Mapa conceptual sobre as competências dos monitores.


 No segundo dia do curso, debatemos e trabalhamos acerca da aprendizagem, tema sempre presente na comunicação de ciência. Será que os visitantes de um centro de ciência aprendem alguma coisa? O quê? E o que é que queremos que eles aprendam, na verdade? Eu gostei particularmente da abordagem da Maria Xanthoudaki, directora dos Serviços Educativos e Relações Internacionais do Museo Nazionale della Scienza e della Tecnologia Leonardo da Vinci(Museu Nacional da Ciência e Tecnologia) em Milão: quero que o visitante saia do museu levando algo de novo dentro de si. Esse “algo novo” pode não ser necessariamente um conhecimento científico, pode ser só uma sensação, pode ser o desejo de ir em busca de alguma informação nova sobre algum tema que desconhecia, … Esta aproximação à problemática parece-me muito interessante porque é também aquilo que me leva a ser comunicadora de ciência. Não é necessariamente a transmissão de novos conhecimentos aos meus receptores (embora também o seja), mas é sobretudo querer marcá-los de alguma forma, transformá-los nalgum aspeto e, assim, mudar a sua percepção em relação à ciência e o fascínio da descoberta.

Ao terceiro dia, o curso mudou-se de malas e bagagens para Ljubljana, na Eslovénia. Aí, tivemos a oportunidade de conhecer o Hišaeksperimentov (A Casa das Experiências) e o excelente trabalho que aí fazem no âmbito, entre outros, dos shows de ciência: animadas demonstrações de ciência (ou aventuras de ciência, como lhes chamam no Hiša) que podem ser dirigidas a distintos públicos, dos 8 aos 80. Assistimos ao famoso Soundology, uma aventura com o som.
Este grande pequeno centro de ciência “mãos-na-mass”, único na Eslovénia, nasce em 1995 fruto da vontade e persistência do seu director,  Miha Kos, doutorado em Física. O seu lema é este provérbio chinês: "Eu ouvi e esqueci, eu vi e recordei, eu fiz e então soube” e tem uma bela equipa a trabalhar não só no centro mas também por todo o país. Podem ver o Miha em acção aqui, durante o Festival de Ciência em Ljubljana:




Se forem a Ljubljana, esta é uma visita obrigatória.

Outro tema muito trabalhado no curso foram as actividades de diálogo/debate. Como levar o público a um debate sobre ciência? Como levar os visitantes de um centro/museu a dialogar acerca daquilo que estão a observar ou a experimentar. Como em muitas outras situações deste género, o melhor é usar um “isco” com que as pessoas de relacionem de forma muito próxima: algo do seu dia-a-dia ou das suas memórias de infância. Um exemplo: uma figura da banda-desenhada. É relativamente fácil pegar na imagem de um super-herói ou outra figura da cultura popular como ponto de partida para um debate/conversa sobre ciência. Na Universcience – Cité des Science & de l’Industrie(Cidade das Ciências e Indústria) em Paris, fizeram isto mesmo à volta da exposição Science [et] Fiction(Ciência e Ficção), utilizando como ponto de partida imagens de banda-desenhada de ficção científica, incluindo a Guerra das Estrelas. Thiérry Dasse, mostrou-nos parte da divertida actividade prática que desenvolveu para essa exposição:

O Thiérry a ponto de demonstrar como funciona a transmissão do som.


E, esta, foi também uma forma muito importante de aprender: a partilha de experiências por parte dos participantes. Nas duas sessões Pilots Piloting, tivemos a oportunidade de partilhar demonstrações, shows, ou “simplesmente” falar um pouco acerca do trabalho que se faz na instituição de origem, de uma ideia para uma actividade ou para a formação e motivação dos monitores. Nesta vertente, o treino teatral saiu vencedor como um excelente ponto de partida para facilitar a abordagem dos monitores ao público, o à-vontade dos monitores e até a introdução de algum humor na nossa comunicação.
Como não podia deixar de ser, abordámos também a sempre difícil avaliação. Como saber que estamos a atingir os nossos objectivos? Este tema foi tratado tanto a nível da avaliação institucional como dos monitores, de uma forma mais específica. Como trabalho de grupo (um de muitos), deveríamos planificar um formulário de avaliação para diferentes actividades, tarefa que se revelou bem mais difícil do que à partida aparentava.

Resumindo, esta é uma formação que me parece de interesse fundamental para todos aqueles que trabalham com público em diferentes instituições onde se faz divulgação científica. Para quem estiver interessado, estejam atentos ao site da ECSITE e às conferências anuais, onde há sempre dois dias de formação prática para monitores (e outras formações direccionadas a outros aspectos das instituições, como a obtenção de financiamento, por exemplo). A próxima conferência será no final do mês de Maio de 2012, em Toulouse (França). Se são monitores e querem partilhar experiências com colegas de todo o mundo, podem também unir-se à comunidade Pilots, através do Pilots Hub!

Cá fica, para a posteridade, a foto do grupo internacional e multi-cultural que participou nesta formação:


2 comentários:

Ana disse...

Tenho pena que em Portugal não tenhamos mais eventos destes. E em Língua Portuguesa ;) e não necessariamente inglesa.

Bem, Diana, depois podes ir partilhando os teus novos conhecimentos e competências com o resto do pessoal :) :)

Pelo menos eu tento retirar ao máximo os ensinamentos dos colegas de diversas áreas, e aplicá-los na prática. ;)

Claro que, e em especial nas redes sociais, depende dos dias... :P a paciência nem sempre é das maiores com pessoas que não estão interessadas em aprender. :)

Diana Barbosa disse...

Ana, este foi um curso europeu.
Mas, por exemplo, já houve em Portugal (Lisboa) uma conferência da ECSITE que incluia as formações.
Claro que, ao ser um evento europeu, a língua de trabalho é o inglês.

Isto não invalida que não se possam organizar formações deste género em Portugal e em português. Agora, será que já há a massa crítica para tal? Sobretudo a nível de formadores de monitores...

O intuito deste post foi precisamente a partilha. Eu adorei a experiência e gostava de a dar a conhecer a mais pessoas :)