segunda-feira, 19 de julho de 2010

Menina na Praia, de Ofélia Marques

A pintura da imagem faz parte da obra de Ofélia Marques (1902-1952), esposa de Bernardo Marques (1899-1962), célebre artista moderno. Ofélia Marques começou por se licenciar em Filologia Românica, mas veio a tornar-se numa pintora talentosa, até premiada com o Prémio Souza Cardoso. As cores vivas da Menina na Praia, bem como as formas simples, contribuem para a candura da obra. Assim, o resultado pictórico relativamente elementar, sem definições excessivamente pormenorizadas, e o olhar enigmático da rapariga poderiam ser como que dois traços da memória da infância: a lembrança vaga dos acontecimentos e o encanto, por vezes ambíguo, que lhes são o ambiente.
Fonte: Manuel Alves de Correia, O Grande Livro dos Portugueses, Círculo de Leitores, 1990, p.338.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Le Petit Nicolas


Uma das coisas mais saudáveis da vida é poder relembrar os emocionantes, imprevisíveis e alegres dias de escola por que se passou. Fica desses tempos a recordação da simplicidade das coisas e de certa inocência no olhar para tudo. Quando se chega a adulto, mudam as circunstâncias. Como viver não é de graça, pelo menos nalguns aspectos, é necessário trabalhar, ser responsável pelo que se faz e, eventualmente, por uma família. Para que haja crianças com o seu pleno direito à infância, é preciso haver adultos que vão resolvendo os problemas complicados do quotidiano. Fica então todo o espaço para a espontaneidade desempoeirada dos petizes. Decerto se tem escrito muito sobre isto em literatura, mas continuamos a pensar que as aventuras do petit Nicolas são únicas e muito recomendáveis para todas as idades. Pela voz do próprio Nicolas, um menino que anda na primária, acompanhamos o seu dia-a-dia na escola, as suas brincadeiras, partidas, jogos de futebol e brigas com os amigos. Não faltam personagens-tipo, como o Alceste – guloso da turma –, Clotaire – o pior aluno –, Geoffroy – o rapaz cujos pais são ricos –, Eudes – o rapaz brigão –, ou Agnan – o melhor aluno, afectado e misantropo. Sobretudo, há uma grande ternura na narração e um convite ao optimismo juvenil, como seu natural apanágio. Por vezes, a simplicidade das crianças leva a que sejam mais sensatas que os próprios pais. É o que acontece no dia em que Nicolas recebe uma bicicleta nova. Quer o seu pai, quer o seu vizinho (que são rivais) começam a exibir as suas proezas, atraindo até os risos de mofa das pessoas, pois são dois adultos numa bicicleta de criança. A bicicleta acaba por se inutilizar e Clotaire, a quem já acontecera o mesmo, diz a Nicolas: “É sempre a mesma coisa com os pais: fazem disparates e se não estamos com atenção, estragam as bicicletas e aleijam-se.”[1] Estas histórias, da autoria de René Goscinny (1926-1977)[2], com ilustrações de Jean Jacques Sempé, estão traduzidas em Portugal, mas se o leitor souber francês aconselhamos vivamente a leitura do original, que nos parece superior.

Alguns títulos:


Portugal (Teorema):
As Aventuras do Menino Nicolau
As Férias do Menino Nicolau
As Brincadeiras do Menino Nicolau
O Menino Nicolau e os Amigos
O Balão do Menino Nicolau
O Regresso do Menino Nicolau
, 3 vol.

França:
Le Petit Nicolas
Les Récrés do Petit Nicolas
Les Vacances du Petit Nicolas
Le Petit Nicolas et les Copains
Le Petit Nicolas a des Ennuis
Les Bêtises du Petit Nicolas
Six Histoires Inédites du Petit Nicolas
Le Petit Nicolas et ses Voisins
Le Petit Nicolas Voyage
La Rentrée du Petit Nicolas
Les Surprises du Petit Nicolas
Le Petit Nicolas s’ Amuse

Notas:
[1] Sempé-Goscinny, Le Petit Nicolas, Éditions Dënoel, 1999, p.117.
[2] Também co-autor de Asterix e Lucky Luke.

A imagem vem do livro Le Petit Nicolas et les Copains, Éditions Dënoel, 1994 (capa).