segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Ainda o Bosão de Higgs


Se houve algum resultado científico que captou a atenção de muitas pessoas este ano, terá sido certamente a possível descoberta do tão famigerado Bosão de Higgs, no campo da Física.

De facto, esse tema analisado a nível internacional também teve repercussões no nosso blogue, culminando num texto da autoria da nossa colega Diana Barbosa. O texto a que me refiro é este.

Os jornalistas entraram em contacto com especialistas para que estes tentassem explicar, de um modo acessível ao público, do que tratava a descoberta e quais as suas implicações e aplicações. Um dos cientistas convidados, e que compareceu no programa Tarde Informativa da RTP Informação, foi o Manel da Rosa Martins.
(declaração de interesses: o Manel é um grande amigo dos autores do blogue).

Partilhamos o vídeo com as explicações do Manel:


sábado, 6 de outubro de 2012

Viva a República!


Celebra-se hoje, dia 5 de Outubro, o aniversário da implantação da República em Portugal, com as comemorações a realizaram-se por todo o país. 

Este ano, por motivos pessoais e profissionais, celebrei esta data na cidade de Coimbra. Posso dizer que foi um dia em cheio. Logo de manhã, prestou-se homenagem ao Major-General Augusto Monteiro Valente, recentemente falecido, com um discurso proferido por Carlos Esperança. Este discurso, em nome do Movimento Republicano 5 de Outubro (MR5O) e da Associação 25 de Abril, pode ser lido no nosso blogue, clicando neste link.

Após a homenagem, seguimos para um almoço de confraternização organizado pelo MR5O. A refeição alongou-se e,  como já a tarde ia longa, dirigimo-nos à livraria Lápis de Memória para assistir a mais uma homenagem ao Monteiro Valente, onde foi dado o seu nome à sala de eventos da livraria e onde passou a constar uma placa evocativa a este ilustre cidadão. Ainda nesta livraria, assistimos à apresentação do livro intitulado "À Boca do Inferno", da autoria de António Torrado.

Já era tarde, mas o dia ainda não terminara. Saímos daqui e deslocámo-nos para a Rua Infantaria 23, onde iria ser apresentado um novo livro: o "Memorial Republicano", da autoria historiador Amadeu Carvalho Homem, com imagens obtidas através da pesquisa de Alexandre Ramires, e que contou com a apresentação realizada por António Arnaut (outro grande vulto da sociedade portuguesa).

Foi já de noite que regressei a casa.



Sendo este um artigo dedicado à celebração da República, partilho um texto da autoria de Carlos Esperança, em que o autor relembra os valores deste regime que é o de todos nós, cidadãos:
(Nota: os sublinhados a negrito são da minha autoria)

"Viva a República

A Revolução de 1820, em 24 de agosto, o 5 de outubro de 1910 e o 25 de abril são, em Portugal, os marcos históricos da liberdade. Foram os momentos que nos redimiram da monarquia absoluta e da dinastia de Bragança; são as datas que honram e dão alento para encarar o futuro e fazer acreditar na determinação e patriotismo dos portugueses.

Comemorar a República é prestar homenagem aos cidadãos que não quiseram continuar vassalos. O 5 de Outubro de 1910 não se limitou a mudar de regime, foi portador de um ideário libertador que as forças conservadoras tudo fizeram para boicotar.

Com a monarquia caíram os privilégios da nobreza, o imenso poderio da Igreja católica e os títulos nobiliárquicos. Ao poder hereditário e vitalício sucedeu o escrutínio do voto; aos registos paroquiais do batismo, o Registo Civil obrigatório; ao direito divino, a vontade popular; à indissolubilidade do matrimónio, o direito ao divórcio; à conivência entre o trono e o altar, a separação da Igreja e do Estado.

Há 102 anos, ao meio-dia, na Câmara Municipal de Lisboa, José Relvas proclamou a República, aclamada pelo povo e vivida com júbilo por milhares de cidadãos. É essa data gloriosa que amanhã se evoca, prestando homenagem aos seus heróis.

Cândido dos Reis, Machado dos Santos, Magalhães Lima, António José de Almeida, Teófilo Braga, Basílio Teles, Eusébio Leão, Cupertino Ribeiro, José Relvas, Afonso Costa, João Chagas e António José de Almeida, além de Miguel Bombarda, foram alguns desses heróis que prepararam e fizeram a Revolução.

Afonso Costa, uma figura maior da nossa história, honrado e ilustríssimo republicano, suscitou o ódio de estimação das forças mais reacionárias e o vilipêndio do salazarismo. Também por isso lhe é devida a homenagem de quem ama e preza os que serviram honestamente a República.

Há quem hoje vire as costas à República que lhe permitiu o poder, quem despreze os heróis a quem deve as honrarias e esqueça a homenagem que deve. Há quem se remeta ao silêncio para calar um viva à República e se esconda com vergonha da ingratidão, ou saia do país com medo do desprezo.

Não esperaram honras nem benefícios os heróis do 5 de outubro. Não se governaram os republicanos. Foram exemplo da ética por que lutaram. Morreram pobres e dignos.

Glória aos heróis do 5 de Outubro. Viva a República.
"


sexta-feira, 5 de outubro de 2012

In Memoriam: Augusto Monteiro Valente


Partilho um texto de sentida homenagem a Augusto Monteiro valente, da autoria de Carlos Esperança, e que foi proferido hoje, dia 5 de Outubro, junto ao monumento ao 25 de Abril, na Cidade de Coimbra, onde estive presente. 
Fica aqui este texto para lembrarmos que o nosso país ainda tem bons homens de carácter e de valores. Que esta memória ilumine o caminho de cada um de nós.


"Comemorações do 5 de Outubro - Coimbra

Homenagem ao major-general Augusto José Monteiro Valente


Cidadão e Cidadãs

Em nome do Movimento Republicano 5 de Outubro (MR5O) de Coimbra 
e
Em nome da Associação 25 de Abril, por solicitação expressa do seu presidente, Vasco Lourenço, e aqui representada pelos cidadãos Luís Curado e Amadeu Carvalho Homem, respetivamente vice-presidente da Direção e presidente da Assembleia-Geral da Delegação Centro, integrada nas Comemorações do 5 de Outubro, vai prestar-se homenagem

Ao major-general Augusto José Monteiro Valente


Aos 68 anos, ao fim da tarde do dia 3 de setembro, enquanto o país ardia, o general Monteiro Valente deixou-nos. Partiu mais um capitão de Abril, um militar que amou a Pátria e honrou a farda, um cidadão que arriscou a vida para que Portugal tivesse uma democracia.


Fez na Guiné uma comissão onde o PAIGC já dominava o terreno e tinha superioridade militar. Partiu sem três dos quatro alferes, que desertaram antes do embarque. O último desertou depois. Aguentou, com os furriéis e os soldados, o isolamento quebrado pelos reabastecimentos lançados a grande altura de aviões que evitavam o derrube pela artilharia inimiga. Os mantimentos e munições nem sempre acertavam no alvo, que era o aquartelamento. Portou-se com bravura e percebeu aí que aquela guerra injusta já não tinha saída militar. Adquiriu a sua consciência política, com mortos para chorar, feridos para evacuar e vivos para confortar.


Foi dos mais brilhantes militares portugueses e dos mais empenhados no 25 de Abril. Transferido de Lamego, na sequência do 16 de março, com o regime receoso do seu prestígio e determinação, conseguiu sublevar o Regimento da Guarda (RI 12), onde acabara de chegar, prender o comandante, e marchar para Vilar Formoso a desarmar a Pide e controlar a fronteira ao serviço do Movimento das Forças Armadas enquanto, do outro lado, a polícia, nervosa, temia uma última loucura do genocida Francisco Franco a quem tanto agradaria fazer abortar a Revolução Portuguesa que, em breve, exportaria a democracia para lá da fronteira. Fez parte do punhado de heróis que restituíram a Portugal a dignidade e aos portugueses a liberdade.


Nunca mais deixou de estar na trincheira dos que acima da vida puseram a defesa da democracia. Licenciou-se em História, graduou-se em Estudos Europeus, foi o primeiro oficial-general a comandar a Brigada Territorial 5, em Coimbra, e terminou a carreira militar como 2.º Comandante-Geral da GNR em 2003, porque o ministro da Defesa, Paulo Portas, sempre viu nos heróis de Abril os implicados numa sublevação.


Aliou a intervenção cívica permanente ao contínuo aperfeiçoamento do saber, com um extremo respeito pela Constituição e pelo sufrágio popular. Era investigador associado do Centro 25 de Abril e do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra. Foi um excelso militar e um ilustre académico.


Foi membro da Comissão Cívica de Coimbra para as comemorações do Centenário da República e da atual comissão para defesa do feriado da data fundadora do regime. Era o presidente da Delegação Centro da Associação 25 de Abril onde, durante quatro anos tive a honra de ser seu vice-presidente e de conhecer a dimensão ética, a capacidade de trabalho e a qualidade intelectual do amigo de quase quarenta anos.


Desdobrou-se em conferências, artigos, tertúlias e palestras nas escolas onde levou aos alunos os princípios republicanos do amor à Pátria, à liberdade e à democracia. Recusou sempre o título de herói com o mesmo desprendimento com que recusou uma promoção por mérito que o Conselho da Arma lhe atribuiu pela reconhecida competência militar.

Honrou a divisa da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Deu o exemplo e foi militante da trilogia que continua a ser a matriz do regime republicano e o lema democrático. Defendeu a laicidade como imperativo de um Estado moderno e a Igualdade como base da justiça social. Fez tudo o que pôde e o que devia. Foi para nós, membros do MR5O, um exemplo e o motor de um projeto de pedagogia cívica que temos a obrigação de prosseguir.

Monteiro Valente era um homem de uma integridade à prova de bala, com um elevado sentido da honra e do cumprimento do dever, um cidadão exemplar e um democrata.


O seu discurso da tomada de posse como comandante da Brigada de Coimbra foi uma lufada de ar fresco que percorreu a GNR. Alguns oficiais contorciam-se na tribuna e olhavam de soslaio à espera de ver a reprovação das palavras do seu comandante que preferiu advertir os militares em parada de que mais importante do que a ordem, que lhes cabia manter, era o respeito pela Constituição e a defesa dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos que ela consagrava. As autoridades locais primaram pela ausência mas, talvez pela primeira vez, em Coimbra, no comando da GNR, sob as estrelas de um oficial general brilhou um cidadão civilista que substituiu a cultura de caserna pela da cidadania.


Teve, como poucos, a noção de que a democracia só é plena em regime republicano, onde há cidadãos e não vassalos, onde se exoneram os poderes hereditários e vitalícios, onde ao alegado direito divino se sobrepõe a legitimidade do sufrágio popular. Por isso, se insurgiu contra a traição de quem rasgou do calendário o feriado comemorativo da data que mudou Portugal e foi a pedra basilar da democracia, ofendendo a cidadania, os heróis da Rotunda e a história, vilania que nem a ditadura ousou.


Partiu destroçado com o rumo dos acontecimentos políticos, de mal com o estado a que o País chegou, revoltado com a deriva ultraliberal, que o amargurava, receoso do futuro da liberdade que ajudou a conquistar.


Portugal e a democracia estão mais pobres. A família e os amigos ficaram destroçados.


Mas o seu exemplo, os seus valores e a sua generosidade ficarão como símbolos. Ele foi o melhor de nós e aquele que a História há de recordar. Quis apenas um ramo de acácia e três cravos vermelhos sobre o caixão, antes de ser cinza, mas nos nossos corações hão de florir sempre os cravos que ele plantou e a República que sonhou.


Viva o 5 de Outubro! Viva o 25 de Abril! Viva Portugal!


(Discurso proferido em Coimbra, às 12H30, junto ao monumento ao 25 de Abril)"