domingo, 25 de dezembro de 2011

Votos de Boas Festas!


"Sob a chaminé estala e dança a grande fogueira do Natal: a sua luz rica faz parecer de ouro os cabelos louros, e de prata as barbas brancas.
Tudo está enfeitado como numa páscoa sagrada: dos retratos dos avós pendem ramos de flores de Inverno, as flores da neve, e todas as pratas da casa cintilam sobre os aparadores, numa solenidade patriarcal.
(...)
E por corredores e salas, as crianças, os bebés, com os cabelos ao vento, vestidos de branco e cor-de-rosa, correm, cantam, riem, vão a cada momento espreitar os ponteiros relógio monumental, porque à meia-noite chega Santo Claus, o venerável Santo Claus que tem três mil anos de idade e um coração de pomba, e que já a essa hora vem caminhando pela neve da estrada, rindo com os seus velhos botões, apoiado ao seu cajado, e com os alforges cheios de bonecos.
(...)
Também, como eles o adoram, o bom Claus! E apenas ele chegar, como correrão todos, em triunfo, a puxá-lo para o pé do lume, a esfregar-lhe as decrépitas mãos regeladas, a oferecer-lhe uma taça de prata cheia de hidromel quente - que ele bebe de um trago, o glutão! Depois abrem-se-lhe os alforges. Quantas maravilhas!..."


(Eça de Queiroz, Cartas de Inglaterra e Crónicas de Londres, Lisboa, Livros do Brasil, 2001, pp. 44-45. A imagem vem de Luís Espinha da Silveira e Paulo Jorge Fernandes, D. Luís, Lisboa, Círculo de Leitores, 2006, figura nº1 em extra texto entre pp. 192-193. Neste desenho da autoria do Rei D. Fernando II (1816-1885), datado de 1848, estão representados os seus filhos, à data, com a Rainha D. Maria II (1819-1853): D. Pedro (1837-1861), D. Luís (1839-1889), D. João (1842-1861), D. Maria Ana (1843-1884), D. Antónia (1845-1913), D. Fernando (1846-1861) e D. Augusto (1847-1889)


O Armarium Libri deseja Boas Festas a todos os seus leitores e seguidores!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Fotografias Antigas (5): Guarda-Fios, c. 1902

Os guarda-fios no século XIX eram funcionários ligados ao Ministério das Obras Públicas e tinham como função instalar, reparar e fiscalizar as linhas do telégrafo. O guarda-fios "fazia rondas habituais a pé, num perímetro chamado cantão, onde verificava a deficiência dos traçados, que incluíam postes desaprumados, espias e linhas desreguladas e isoladores partidos. Com os anos, criaram-se três tipos de traçados - telegráfico, telefónico e de altas frequências -, obrigando o guarda-fios a trabalhos suplementares." Por causa do seu trabalho que, em geral, não podia conhecer a fadiga nem os rigores do clima, eram possíveis as comunicações até onde chegava essa nova tecnologia em Portugal. Presentes desde a introdução do telégrafo em 1855, a sua visibilidade concretizava-se especialmente na possibilidade quotidiana de enviar mensagens. Apesar de todas as profissões, mais ou menos, estarem documentadas em todas as épocas históricas, a verdade é que há um certo número de trabalhos invisíveis para uma boa parte da população. Os funcionários da recolha do lixo são outro exemplo. Todavia, estes como os guarda-fios, tornavam o País num local mais confortável para os seus compatriotas.


Referência: Tanto a imagem como a citação vêm de Rogério Santos, Olhos de Boneca - Uma História das Telecomunicações 1880-1952, Lisboa, Edições Colibri e Portugal Telecom, 1999, pp. 134-135.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Contos e Histórias, de Luís de Araújo

Na continuidade do que há tempos deixámos aqui comentado sobre a obra de Júlio César Machado (Os Teatros de Lisboa), damos hoje a conhecer outro autor popular do século XIX: Luís António de Araújo (1833-1908). Jornalista e funcionário do Ministério das Obras Públicas, grande observador do quotidiano, colaborou em vários periódicos, escreveu diversas comédias e até manteve um almanaque humorístico com o seu nome. Quem actualmente procurar as obras de Luís de Araújo, deparar-se-á imediatamente com os Contos e Histórias (1871), especialmente por ter uma edição moderna (1984). Este livro é uma sucessão de frescos, em que os costumes oitocentistas são captados nos seus traços fundamentais. São cenas do dia-a-dia, como a chegada das lavadeiras com as roupas dadas aos rol, intrigas de criadas, práticas religiosas, festas e serões familiares, sem esquecer a descrição de alguns tipos fundamentais, como o Galego e a Saloia, cujas formas de falar são reproduzidas, embora sem depreciar. Em alguns casos, poucos, dado o ano de nascimento de Luís Araújo, recua-se ao século XVIII ou ao tempo dos franceses, para descrever as vidas de personagens com que conviveu.

Excerto:

"Eu tive um tio médico.

Já lá está na terra da verdade. O dia em que se finou, foi um dia de luto para toda aquela boa gente de Odivelas.
Meu tio chamava-se Maurício José dos Santos. Era o filho mais velho de meu avô materno, o Dr. Gregório Taumaturgo dos Santos, jurisconsulto bem conhecido e respeitado no seu tempo.
(...)
Meu tio médico, por ter bebido os conselhos do pai, e sair ele tal qual em índole e carácter, eis a razão porque foi tão chorada a sua perda.
Foi em Coimbra premiado vários anos, serviu no exército como físico-mor, foi condecorado pelo Sr. Rei D. João VI, e abandonando a política, em Maio de 1840, foi morar para Odivelas.
Ali, pelas boas acções que praticava, chamavam-lhe O pai dos pobres.
Um dia de manhã cedo procurou-o uma saloia:
seu doutor médeco, eu tenho uma dor aqui, salvo seja, na boca do estamâgo, e vai com o lidar passa-me aos rinzes e apanha-me ós pois as costelas desta banda de riba a baixo. Tenho frementado com enxúndia de galinha; mas a dor é fixa... e então se V. S.ª entender que me purgue, que eu já tomi uns pozes que me deu o seu Silva do Lumiar.
-Cale-se aí vossemecê, e deixe-me ver o pulso. Isso não é nada... tome esta receita e há-de achar-se boa.
A saloia, quando ia a retirar-se, pôs-lhe doze vinténs sobre a carteira.
-Para que é isto?
-É a paga a V.ª S.ª, e se não dou mais, Deus me salve a minh'alma como não tenho ni mais um real de meu.
-Pois guarde Vossa Mercê os seus doze vinténs e compre com eles uma galinha.
Por estas e outras é que todos o adoravam."

Referência: Luís de Araújo, Contos e Histórias, Porto, Lello&Irmão Editores, 1984, pp. 181-182.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Arte e Ciência no Porto


Para quem ainda não teve oportunidade, até ao próximo dia 8 de Janeiro ainda pode ir visitar a exposição "Harold Edgerton - Fragmentos de Tempo", patente na Casa Andresen (Jardim Botânico do Porto). A exposição pode ser visitada de quarta a domingo, das 14h30 às 18h30, com entrada livre.




Harold "Doc" Edgerton, foi um americano pioneiro da área da fotografia e cinematografia. Foi inventor, empreendedor, explorador e carismático professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Tinha como filosofia de vida: "Work hard. Tell everyone everything you know. Close a deal with a handshake. Have fun!".

Quem não conhece esta famosa fotografia?




Embora o seu reconhecimento venha, em grande parte, de feitos artísticos, pela captura de imagens de grande beleza, Egderton foi acima de tudo um cientista. Esteve ligado ao MIT desde que lá estudou e foi lá também que desenvolveu as suas primeiras experiências com luz estroboscópica com fotografia, e que o tornou tão célebre. Mas, as aplicações das suas descobertas vão muito mais além de uma "simples fotografia". Ao permitir parar movimentos no tempo e gravá-los em imagens fotográficas, as técnicas de Edgerton tornaram percetíveis fenómenos que, de outra forma, o olho humano não conseguiria observar. E, para chegar a essas imagens teve que criar e desenvolver equipamentos eletrónicos e fotográficos completamente novos. A observação detalhada destes fenómenos permitiu também o seu estudo científico, como foi o caso do voo do beija-flôr. 

No filme Quicker'n a Wink, galardoado com um Oscar em 1940, pode-se perceber melhor o trabalho pioneiro deste cientista/artista nessa década:




O trabalho de Harold Edgerton é um exemplo de um equilíbrio perfeito entre arte e ciência.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

"Testando o M@arbis"

O Instituto Português de Malacologia (IPM) continua a realizar palestras abertas ao público em geral, com o intuito de abordar o tema do estudo dos moluscos de um modo acessível a todas as pessoas interessadas. Se gosta de ciência e do mar, apareça. A próxima palestra contará com a investigadora Mónica Albuquerque como oradora, e irá ter como tema o programa M@rBis e a sua relação com o estudo da fauna malacológica das Ilhas Selvagens.
Local: Museu Nacional de História Natural e da Ciência, R. da Escola Politécnica, Lisboa
Nota: a entrada é gratuita.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Naturalista britânico aos tiros em Portugal


Reproduz-se aqui um texto da minha autoria, publicado hoje no Diário de Coimbra, no âmbito do projecto "Ciência na Imprensa Regional - Ciência Viva". Trata-se de uma apreciação do livro "Darwin aos tiros... e outras histórias de ciência". Actualmente encontra-se no Top10 da FNAC (8º lugar), comprovando que o público interessa-se cada vez mais por ciência.


“Darwin aos Tiros”

Por João Lourenço Monteiro (Biólogo)

"Foi muito recentemente publicado o livro de divulgação científica “Darwin aos Tiros e outras Histórias de Ciência”, da autoria do professor de Física da Universidade de Coimbra Carlos Fiolhais e do Bioquímico David Marçal.

Se o leitor é um ávido curioso pela Ciência e pela História, então vai encontrar aqui o melhor dos dois mundos, desvendando os segredos da História de várias disciplinas como a Matemática, a Astronomia, a Física, a Química, a Geologia, a Biologia, a Medicina e ainda um alerta para as pseudociências. As pseudociências são crenças que se pretendem valorizar alegando basear-se em factos científicos, mas que na realidade não têm qualquer apoio por parte da ciência, sendo os exemplos mais conhecidos a astrologia ou a homeopatia.

Na apresentação do livro, que teve lugar em Lisboa, o editor Guilherme Valente relatava um telefonema que havia recebido do professor Fiolhais, em que o lente afirmara que estava a preparar um novo livro que seria um tiro; qual não foi o espanto do editor quando recebeu um esboço do livro intitulado “Darwin aos Tiros”. Afinal o professor de Física, a brincar, falava a sério.

Importa esclarecer a origem do título: Charles Darwin foi um importante cientista britânico do século XIX, que realizou uma circum-navegação ao globo na qual aproveitou para estudar várias espécies da fauna e flora mundiais. Como a viagem demorou cinco anos e a tripulação não levava mantimentos suficientes, era necessário capturar algumas das espécies que iam encontrando, para servirem de alimento. Nessas situações, Darwin demonstrou que não era apenas um cientista curioso e atento, mas também um exímio caçador. E mais não revelo, para não estragar o prazer da descoberta.

De salientar que a ciência relatada no livro também teve origem em Portugal, com cientistas do calibre de Pedro Nunes, Amato Lusitano, Diogo de Carvalho Sampayo, Garcia de Orta, sem esquecer, como recordam os autores, o importante papel que tem tido a Universidade de Coimbra, formando ou acolhendo muitos dos notáveis aqui mencionados.

Neste livro, a História das Ciências é contada aos leitores em jeito de breves estórias, e com uma certa dose de sentido de humor, o que tornará a leitura desta obra, creio, bastante agradável. Nestes dias frios e chuvosos, em que nos vemos forçados a permanecer grande parte do tempo na clausura do nosso lar, este livro promete ser uma companhia prazenteira. Boas leituras."

O Incansável Investigador de Coimbra


Já tive a oportunidade de escrever neste blog sobre o António Piedade, investigador em Coimbra. Para além da investigação desenvolvida no ramo da Bioquímica, o António é também comunicador de ciência, estando a coordenar um projecto da Ciência Viva - "Ciência na Imprensa Regional", como também já mencionámos aqui por várias ocasiões.
Para se ser um bom cientista não basta calçar as botas e ir para o campo, ou vestir a bata e permanecer no laboratório; esta é apenas uma parte visível da profissão. Para se ser um bom cientista, é preciso ter paixão pelo que se faz, e, quando isso acontece, a Ciência acompanha-nos 24h por dia. São muitas horas de entrega à Ciência, e o António é um bom exemplo disto. Como quem pretende comprovar o ditado popular "Quem corre por gosto não cansa", António desdobra-se para levar a Ciência a todos, principalmente àqueles a quem não chegaria de outro modo. Vou dar três exemplos (e poderiam até ser mais):

1) Escreveu um conto que enviou para o concurso "Conte Connosco (2ª edição)" e que está agora sujeito a votação dos leitores (pode ser consultado em http://www.conteconnosco.com/trabalho-detalhe2.php?id=706#_= ). Sugiro a leitura porque o autor consegue, de um modo simples, explicar certos conceitos da biologia molecular, com recurso a um diálogo passado em família. A opinião fica à consideração de cada leitor. (nota: pode votar 1 vez por dia).

2) Ainda no domínio da escrita, é co-autor no livro "Palavras Nossas" que irá ser recentemente apresentado na FNAC do Centro Comercial Colombo, em Lisboa, no dia 3 de Dezembro 2011 (Sábado).
3) Já neste sábado, dia 19 de Novembro, vai coordenar as apresentações de divulgação de ciência que irão decorrer no auditório da Bertrand do Centro Comercial Dolce Vita, em Coimbra. Este ciclo de eventos que tem vindo a ser desenvolvido pelo investigador, é designado de "Sábados com Ciência", e é dirigido a um público geral. Esta semana será dedicada à Física (ver imagem seguinte).

Para além de tudo isto ser um bom exemplo da dedicação dos cientistas nacionais, fica também como sugestão para um programa de fim-de-semana cultural.


quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Dia do Carl Sagan



Hoje, dia 9 de Novembro, celebra-se o Dia de Carl Sagan (1934-1996), em honra do cientista, astrónomo e divulgador de ciência norte-americano. Das suas obras, relembramos "Cosmos", "Os Dragões do Éden", "Pálido Ponto Azul" e "O Mundo Assombrado pelos Demónios: A Ciência vista como uma vela no escuro".
Na imagem de cima podemos ler a frase: "A nossa espécie precisa, e merece, uma cidadania com mentes despertas e com um conhecimento básico de como o mundo funciona".
A imagem foi encontrada no site de Astronomia Português, o AstroPt (aqui). Devido ao execelente e importante trabalho de divulgação científica desenvolvido pelos autores do site, este merece destaque na nossa coluna lateral.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Sobre a Homeopatia


"Ciência na Imprensa Regional - Ciência Viva" é um projecto da Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, coordenado pelo Dr. António Piedade. Esta iniciativa pretende levar o conhecimento científico e a compreensão do mesmo a um maior número de pessoas, e promover a secção de Ciência nos Media, através das publicações regionais.
Sendo que dois dos colaboradores deste blog colaboram no projecto, disponibilizo aqui um texto da minha autoria, que saiu no Diário de Coimbra (25-10-2011):

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Mais um interessante livro sobre Darwin... e não só.


O livro "DARWIN AOS TIROS E OUTRAS HISTÓRIAS DE CIÊNCIA", da autoria de dois autores do blogue De Rerum Natura (Carlos Fiolhais e David Marçal) e editado pela Gradiva, irá contar no seu lançamento com a actuação dos Cientistas de Pé, grupo de stand-up comedy com cientistas.

Data: 2 de Novembro de 2011

Local: FNAC Colombo (Lisboa)

Horas:
18h - Espectáculo dos Cientistas de Pé
19h - Apresentação do livro com a presença dos autores

Para ouvir a entrevista em podcast aos autores do livro, pode consultar este link.

Palestra sobre Bivalves no Museu Nacional de História Natural


O Instituto Português de Malacologia (IPM) irá desenvolver um conjunto de palestras no Museu Nacional de História Natural. A primeira sessão é dedicada aos bivalves, e terá como orador o Doutor Joaquim Reis, Presidente do IPM.


Título: "O Mexilhão é que se lixa? - A conservação de mexilhões-de-rio e o plano nacional de barragens"
Orador: Doutor Joaquim Reis
Local: Museu Nacional de História Natural, Rua da Escola Politécnica, Lisboa (no Auditório)
Data: 28 Outubro 2011, 19h
ENTRADA GRATUITA

sábado, 15 de outubro de 2011

O Lince e o Acordo Ortográfico


Quer se goste, quer se odeie, o Acordo Ortográfico (AO) está aí para ficar. Para ajudar nesta fase de transição, relembramos que existe um conversor oficial de textos, intitulado "O Lince". Esta ferramenta aceita ficheiros em vários formatos (Word, PDF, etc.), como poderá consultar no site. Para fazer download, clique no link:


É de fácil uso. Escreva o seu texto, grave o trabalho e feche o documento. De seguida, abra o conversor (previamente instalado no computador), pesquise pelo documento, e clique em converter. O documento surgirá com o mesmo título do ficheiro inicial e com a informação de "convertido". Por exemplo, se o ficheiro inicial chamar-se "Ensaio", após a conversão no Lince chamar-se-á automaticamente "Ensaio_convertido". Boa escrita.



Uma Casa para os professores de ciências...e não só



Nasceu em 2008, foi apresentada ao mundo em 2009, chama-se [simplesmente] Casa das Ciências e é o Portal Gulbenkian para Professores. Com já três aninhos de funcionamento e crescimento é, no entanto, um projeto ainda desconhecido por muitos elementos do seu principal público-alvo: os professores de ciências.



Aqui fica então uma breve nota sobre este interessante projeto apoiado pela Fundação CalousteGulbenkian e que tem o seu Gabinete Coordenador localizado na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, dirigido pelo Prof. Doutor José Ferreira Gomes, catedrático de Química.

O Portal surge na lógica da Fundação Calouste Gulbenkian de apoio à educação em Portugal, tanto na elaboração de conteúdos como no apoio a docentes, pretendendo ser um “veículo integrador e amplificador dos esforços atuais na utilização das tecnologias da Informação no processo de Ensino/Aprendizagem feitos por agentes muito diversos cujos resultados se encontram dispersos”.
 
A Casa das Ciências tem, neste momento, três vertentes de ação, representadas no Portal em três secções diferentes: Materiais, Banco de Imagem e WikiCiências.

A secção dos Materiais constituiu o primeiro passo deste projeto e ainda hoje representa o seu maior esforço. Nesse espaço, os utilizadores registados (o registo e download de materiais é gratuito), encontrarão materiais diversos que podem ser usados pelos professores (ou divulgadores) de ciência e estes são “materiais que os próprios professores consideram úteis e eficazes para a sua atividade profissional”. Também neste espaço, os professores “podem trocar ideias sobre esses materiais e o modo de os usar; será também um sítio onde […] partilharão as suas experiências”. É objetivo primordial do Portal oferecer aos professores das diferentes áreas científicas (Biologia, Geologia, Química, Física e Matemática), desde o ensino básico até aos primeiros anos do ensino superior, ferramentas digitais de qualidade e em português. Nesse sentido, todos os materiais submetidos pelos utilizadores passam por um processo de avaliação por pares (peer review), tanto a nível científico como pedagógico. Para além disso, muitos dos materiais que lá se podem encontrar proveem de portais estrangeiros de qualidade reconhecida e foram traduzidos para o nosso idioma, com autorização dos seus responsáveis. Para fomentar a “produção nacional”, a Casa das Ciências atribui também bolsas a projetos de criação de novas ferramentas digitais e, anualmente, o Prémio Casa das Ciências (que é atribuído ao autor do material original publicado no Portal selecionado pelo júri pela sua qualidade).

Um dos mais recentes projetos apoiados pela Casa das Ciências, “Eu e o Meu Corpo”, desenvolvido pela Equipa de Ciências da Comunicação do Instituto Gulbenkian de Ciência, recebeu recentemente um galardão internacional, o prémio Ciencia en Acción 2011. Para além do vídeo, no Portal encontram-se também documentos de apoio para o professor tirar o melhor partido desta ferramenta, que é dirigida principalmente a crianças de 7-12 anos. Aqui fica o vídeo:


 


Os “filhos” mais jovens deste projeto são o Banco de Imagens e a WikiCiências.

O Banco deImagens está integrado no Portal principal e é possível a qualquer utilizador submeter imagens que pense serem relevantes para o ensino das ciências e que passarão por uma revisão editorial feita por um cientista da área em questão. Depois de publicadas, as imagens ficam disponíveis para download com uma licença Creative Commons (uso com atribuição da autoria). Neste momento, existem já mais de 300 fotos disponíveis na área da Biologia, mas é importante que se disponibilizem também imagens relacionadas com as outras ciências. Aqui fica o apelo!

Uma das imagens disponíveis no Banco de Imagens.

Quanto à WikiCiências, esta pretende ser uma enciclopédia on-line de referência para a consulta de termos relacionados com a ciência, em português e, claro, com validação por especialistas de cada uma das áreas científicas representadas. Precisamente por este último motivo, inicialmente, as entradas foram escritas por professores universitários convidados. Atualmente, todos os utilizadores registados na wiki e com uma página pessoas biográfica válida (vejam as instruções) podem submeter os seus textos, mas estes passarão necessariamente, tal como os demais materais, por um escrutínio antes da sua eventual publicação. Desta forma, o Portal garante a qualidade científica dos conteúdos lá presentes. Para consultar as entradas já existentes não é necessária qualquer autenticação.

É, como espero poder ter transmitido, um projeto interessantíssimo, com muito valor para os educadores das áreas científicas, onde se congregam uma série de ferramentas que podem ser aplicadas na sua atividade docente. A maioria das ferramentas é simples de utilizar e muito útil. Reforço, uma vez mais, o caráter gratuito de todas as valências da Casa das Ciências!


 
NOTA: Ao contrário do que acontece no Banco de Imagens, a Biologia, que me diz respeito de uma forma mais particular, está subrepresentada na secção de Materais. Espero que os leitores deste blog, da área biológica e de qualquer outra, se animem a fazerem uma visita ao Portal, se registem e, quem sabe, colaborem comalgum material que queiram partilhar.
 

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Saúde Pública – Parte 1


Vacinação – Uma grande conquista

A Europa do século XVIII assistiu a uma crescente preocupação com a Saúde Pública, sendo uma das razões o decréscimo populacional que se verificava. Para inverter esta situação, vários médicos e filósofos contribuíram com tratados tendo em vista uma melhoria ao nível da saúde, educação e da vida em sociedade. Uma das maiores conquistas ao nível da Medicina foi conseguida no século XVIII. Refiro-me à vacinação, método preventivo descoberto pelo médico escocês Edward Jenner (1749-1823), que contribuiu para o aumento do vigor físico da população, assim como da esperança média de vida.

Breve história da vacinação: Após aturados estudos que terão durado cerca de três décadas, E. Jenner apercebeu-se que as leiteiras infectadas por uma varíola que só era prejudicial às vacas, sem gravidade para humanos (cow-pox) ficavam imunes à varíola humana (small-pox). Assim, Jenner inoculou uma criança com a cow-pox, que, como demonstrado por experiências, ficou imune à varíola transmitida por humanos. Após alguns anos deu-se finalmente início à prevenção anti-variólica. (1)

Os resultados no presente: A vacinação conseguiu uma enorme vitória a nível mundial: a erradicação da Varíola. Esta doença que foi, durante séculos, responsável pela morte de milhões de pessoas, foi considerada erradicada pela Organização Mundial de Saúde, em 1980.

Em Portugal, criou-se o Plano Nacional de Vacinação (PNV), em 1965, e desde aí têm-se verificado consideráveis melhorias no combate a determinadas doenças infecciosas. Vejamos os números: No final de 1965 tinham sido identificados 292 casos de Poliomielite, e no ano seguinte, após vacinação, o número baixou para apenas 13 casos (diminuição de 96%!). Em 1966 registaram-se 1010 casos de difteria e 973 casos de tosse convulsa, no ano seguinte, após vacinação massiva de crianças, verificou-se uma redução para 479 casos e 493 casos, respectivamente (decréscimo de 50%). (2)

Saúde Pública – Parte 2



Uma nova Idade das Trevas?

Apesar dos inquestionáveis avanços das ciências e da medicina, e dos excelentes resultados obtidos ao longo dos anos através da vacinação, parece surgir um grupo de pessoas que recusa vacinar os seus filhos, segundo noticia o jornal Público (3), resultado de crenças infundadas e de desinformação, na minha opinião. Esta situação está a levar a uma realidade alarmante em que se verifica um ressurgimento do Sarampo na Europa, doença que deveria ter sido erradicada até 2010, mas, devido a estes acontecimentos, a meta foi adiada até 2015. Esta situação é especialmente preocupante em França, em que houve um aumento considerável o número de casos: 1544 em 2009 para 7316 Janeiro a Maio de 2011.

Em Portugal também há seguidores destas ideias bacocas, e leva-me a questionar caso os habitantes de outros países se atirassem ao mar se estas pessoas os iriam seguir sem reflectir. Digo isto, porque só quem não se dedica a pensar minimamente é que pode possuir este tipo de comportamento. Sei que as minhas palavras são duras, mas o caso é sério, e portanto vou justificar com base nas afirmações dos defensores destas ideias peregrinas. Vejamos caso a caso (4):
a) M.F. afirma que é através da alimentação que irá fortalecer o sistema imunitário da sua filha e não através das vacinas; e refuta o que outros pais dizem quando apelidam a sua atitude de irresponsável, afirmando que ela é que é “responsável”, e cito, “porque tomou nas suas mãos o papel de fazer tudo para que a sua filha seja saudável, sem vacinas que julga serem desnecessárias”. A alimentação é relevante para o correcto desenvolvimento de qualquer pessoa, mas as vacinas também são extremamente importantes para a prevenção de certas doenças, como os números acima comprovam. Além disso, a alimentação por si só não tem propriedades mágicas de cura – só alguém com baixo nível de literacia acredita nisso. Na segunda parte da afirmação ao dizer que ela é que é a “responsável” porque não vacina a filha, indirectamente acaba por acusar os outros pais, que têm uma atitude correcta, de irresponsáveis. Uma vez que a vacinação quebra a corrente de transmissão de doenças, gostaria de saber se a senhora M.F. pensa que pode ser a responsável pela continuação de certas doenças.

b) a senhora E.V. afirma que os filhos nunca tiveram nenhuma doença que apareça no PNV, e portanto acha que a vacinação não é necessária. Eu respondo: É precisamente graças ao PNV que se verifica um reduzido número de casos de doenças perigosas, e daí a reduzida probabilidade dos filhos de E.V. de serem infectados. Se não houvesse vacinação, haveria mais casos, e provavelmente hoje a senhora E.V. já não teria os quatro filhos. Dá que pensar. Além disso, demonstra as fontes em que se apoia: “… com a net é mais fácil” (5).

c) H.T., pai de dois rapazes, também recusa vacinar os seus filhos, apoiando-se em informação que também encontra na internet (6). Como todos deveriam saber, a internet nem sempre é fonte de informação fidedigna pois essa informação pode ser escrita por qualquer pessoa que não domine a área em questão; portanto devemos ser cautelosos na informação que se procura na Web, e existem algumas dicas para seleccionar sites fidedignos, como por exemplo páginas sem publicidade, sites institucionais, textos escritos por especialistas, entre outros. Para casos destes, a minha sugestão seria que estas pessoas consultassem especialistas em saúde em vez de curandeiros, e foi isso que o Público fez. Os médicos de várias especialidades, como seria de esperar, vieram criticar esta atitude de anti-vacinação, e explicar os benefícios das vacinas para a população.

Deixo ao critério de cada cidadão optar por ideias sem fundamento científico ou seguir a voz dos especialistas. (Embora, pessoalmente, julgo ser esta última a atitude mais correcta).

Referências:
(1) – Pita, J. R., “História da Farmácia”, 2ª edição, Minerva, Coimbra, 2000, pp. 172-174
(3) – Esta notícia aparece logo na capa do Jornal Público, Domingo, 3 de Julho de 2011, Ano XXII, nº7757, Edição Porto, texto de Catarina Gomes, pp. 18-19
(4) – Não mencionarei os nomes, apenas as iniciais, pois o que se pretende com este texto é informar e esclarecer, e não denegrir o bom nome das pessoas. Para informações adicionais, consultar a notícia em questão.
(5) – Idem, p.18.
(6) – Idem, p.19.

sábado, 8 de outubro de 2011

A RTP e os valores sociais

Aqueles que ultimamente se têm servido do metropolitano de Lisboa, já repararam decerto num anúncio que surge amiúde com os seguintes dizeres: "Amor-Ódio, Luxúria, Sexo, Ganância, Traição, Vingança". Os atractivos epítetos referem-se à série Tempo Final, exibida pela RTP1. Não vimos a série nem teremos talvez tempo para isso. Todavia, ao lermos estas palavras num sítio tão concorrido, confessamos, ficámos muito aliviados. Afinal a televisão PÚBLICA portuguesa está a velar pelos melhores valores comunitários. Haja quem o faça.

domingo, 2 de outubro de 2011

"Não podemos ver o vento" - breve análise


No livro “Não podemos ver o vento”, Clara Pinto Correia usa o tema dos Grupos Especiais como fio condutor do enredo. A personagem principal é Mariana Mindelo, uma psicóloga que decide estudar o comportamento de um grupo restrito de homens que esteve na Guerra do Ultramar, os Grupos Especiais (GEs) e Grupos Especiais Pára-quedistas (GEPs), homens treinados arduamente para fazer frente às guerrilhas, mas que foram esquecidos pelo Estado no Pós-Guerra. A definição e a história dos GEs podem ser encontradas, com mais detalhe, nos capítulos 6 e 21 do livro. A maioria destes homens ficou sem qualquer tipo de acompanhamento psicológico após o regresso a Portugal, isto depois de tudo o que presenciaram em clima de guerra (incluindo formatação psicológica e assassínios que foram forçados a cometer), trazendo sequelas não só físicas mas também de foro mental, manifestadas por comportamentos de isolamento ou de agressividade, por exemplo. Assim, Mariana pretende desenvolver um estudo académico do crescimento pós-traumático (ao invés do stress pós-traumático) seguindo uma linha de investigação enquadrada na actual “Psicologia do Optimismo”, de modo a compreender também de que modo estes acontecimentos contribuíram para a actividade criadora ou empreendedora de alguns destes indivíduos (por exemplo, o caso de Guilherme que administra a estância turística).

Mas à medida que se desenrola o fio deste novelo, conhecemos outras facetas da personagem principal, para além do seu interesse académico. Mariana é mãe de duas gémeas adolescentes e tem de lidar com os problemas da juventude actual, é uma mulher separada que continua em busca da sua paixão. Ou seja, não é mais que uma mulher comum que, como tal, divide-se em múltiplas tarefas tentando ter sucesso em todas elas, quer seja a nível profissional, pessoal ou familiar, com todo o desgaste que isso implica. Trata-se de uma personagem muito humana, com quem facilmente se estabelecem laços de empatia.

O livro trata de vários mistérios: a vida actual dos GEs, a vida de Mariana Mindelo e da sua família, os segredos das várias personagens com quem Mariana estabelece contacto, e quando pensamos que estamos prestes a entender tudo, eis que a história se prepara para dar uma tremenda reviravolta. Tudo isto, descrito em capítulos que não seguem uma sequência temporal, que são como peças de um puzzle que tentaremos montar de modo a visualizar o panorama geral.

Para escrever este livro, a autora entrevistou ex-membros dos GEs, conversou com psicólogos e estudou o tema da Psicologia do Optimismo, de modo a elaborar uma obra não só fascinante do ponto de vista literário, como também interessante do ponto de vista académico.

Brevíssima nota sobre a autora:

Clara Pinto Correia é bióloga e escritora, autora de inúmeras obras sobre diferentes áreas como literatura, biologia, história das ciências e divulgação científica.

Bibliografia:
Clara Pinto Correia, "Não podemos ver o vento", Clube de Autor, Lisboa, 2011

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

"Não podemos ver o vento"


Hoje estive no lançamento do livro "Não podemos ver o vento", da Professora Clara Pinto Correia, nossa colaboradora noutros blogues. Esta sessão decorreu na livraria Bertrand, do Shopping das Amoreiras, e a apresentação esteve a cargo do escritor Mário de Carvalho. De seguida, a autora falou do conteúdo do seu livro e do percurso da criação do mesmo. Vou ler o livro e, brevemente, darei a minha opinião neste blog.
De salientar que conheci o Mário Zambujal, um escritor que admiro e autor do livro "Crónica dos Bons Malandros" - um livro cuja leitura é um autêntico prazer e que está entre um dos meus favoritos.

domingo, 25 de setembro de 2011

Pilotos de Ciência


Teve lugar na passada semana de 12-16 de Setembro, em Trieste (Itália) e Ljubljana (Eslovénia), o primeiro Pilots Training Course forMuseum Explainers, Educators and Young Scientists involved in outreachprogrammes. Esta foi uma interessante formação dirigida a todos aqueles que trabalham em comunicação de ciência, mas particularmente àqueles que estão associados a centros ou museus de ciência. O curso foi organizado pelo grupo THE GROUP (Thematic Human interface and Explainers), que faz parte da organização ECSITE (The European Network of Science Centresand Museums) e que se dedica particularmente aos monitores de ciência, desde a sua formação até à sua valorização nos locais de trabalho, que podem ser tão variados como: centros interativos de ciência, museus de história natural, zoos, aquários, empresas de atividades educativas, etc. Tive a oportunidade de, graças a uma bolsa Grundtvig da Agência Nacional PROALV, assistir a este curso e foi uma experiência marcante.

Embora pareça ser uma comunidade variada, variável e heterogénea, os monitores de ciência, ou “pilotos” (a designação que usámos durante o curso,) partilham muitas características, independentemente do seu país de origem, background, local de trabalho ou designação que lhe atribuem (monitor, explicador, guia, demonstrador, facilitador, etc.). Isto mesmo se pôde verificar no primeiro workshop do curso, onde debatemos e expressamos artisticamente o que era um monitor de ciência. Estes foram alguns dos resultados:

Scinamator -o resultado artístico do meu grupo de trabalho.


Mapa conceptual sobre as competências dos monitores.


 No segundo dia do curso, debatemos e trabalhamos acerca da aprendizagem, tema sempre presente na comunicação de ciência. Será que os visitantes de um centro de ciência aprendem alguma coisa? O quê? E o que é que queremos que eles aprendam, na verdade? Eu gostei particularmente da abordagem da Maria Xanthoudaki, directora dos Serviços Educativos e Relações Internacionais do Museo Nazionale della Scienza e della Tecnologia Leonardo da Vinci(Museu Nacional da Ciência e Tecnologia) em Milão: quero que o visitante saia do museu levando algo de novo dentro de si. Esse “algo novo” pode não ser necessariamente um conhecimento científico, pode ser só uma sensação, pode ser o desejo de ir em busca de alguma informação nova sobre algum tema que desconhecia, … Esta aproximação à problemática parece-me muito interessante porque é também aquilo que me leva a ser comunicadora de ciência. Não é necessariamente a transmissão de novos conhecimentos aos meus receptores (embora também o seja), mas é sobretudo querer marcá-los de alguma forma, transformá-los nalgum aspeto e, assim, mudar a sua percepção em relação à ciência e o fascínio da descoberta.

Ao terceiro dia, o curso mudou-se de malas e bagagens para Ljubljana, na Eslovénia. Aí, tivemos a oportunidade de conhecer o Hišaeksperimentov (A Casa das Experiências) e o excelente trabalho que aí fazem no âmbito, entre outros, dos shows de ciência: animadas demonstrações de ciência (ou aventuras de ciência, como lhes chamam no Hiša) que podem ser dirigidas a distintos públicos, dos 8 aos 80. Assistimos ao famoso Soundology, uma aventura com o som.
Este grande pequeno centro de ciência “mãos-na-mass”, único na Eslovénia, nasce em 1995 fruto da vontade e persistência do seu director,  Miha Kos, doutorado em Física. O seu lema é este provérbio chinês: "Eu ouvi e esqueci, eu vi e recordei, eu fiz e então soube” e tem uma bela equipa a trabalhar não só no centro mas também por todo o país. Podem ver o Miha em acção aqui, durante o Festival de Ciência em Ljubljana:




Se forem a Ljubljana, esta é uma visita obrigatória.

Outro tema muito trabalhado no curso foram as actividades de diálogo/debate. Como levar o público a um debate sobre ciência? Como levar os visitantes de um centro/museu a dialogar acerca daquilo que estão a observar ou a experimentar. Como em muitas outras situações deste género, o melhor é usar um “isco” com que as pessoas de relacionem de forma muito próxima: algo do seu dia-a-dia ou das suas memórias de infância. Um exemplo: uma figura da banda-desenhada. É relativamente fácil pegar na imagem de um super-herói ou outra figura da cultura popular como ponto de partida para um debate/conversa sobre ciência. Na Universcience – Cité des Science & de l’Industrie(Cidade das Ciências e Indústria) em Paris, fizeram isto mesmo à volta da exposição Science [et] Fiction(Ciência e Ficção), utilizando como ponto de partida imagens de banda-desenhada de ficção científica, incluindo a Guerra das Estrelas. Thiérry Dasse, mostrou-nos parte da divertida actividade prática que desenvolveu para essa exposição:

O Thiérry a ponto de demonstrar como funciona a transmissão do som.


E, esta, foi também uma forma muito importante de aprender: a partilha de experiências por parte dos participantes. Nas duas sessões Pilots Piloting, tivemos a oportunidade de partilhar demonstrações, shows, ou “simplesmente” falar um pouco acerca do trabalho que se faz na instituição de origem, de uma ideia para uma actividade ou para a formação e motivação dos monitores. Nesta vertente, o treino teatral saiu vencedor como um excelente ponto de partida para facilitar a abordagem dos monitores ao público, o à-vontade dos monitores e até a introdução de algum humor na nossa comunicação.
Como não podia deixar de ser, abordámos também a sempre difícil avaliação. Como saber que estamos a atingir os nossos objectivos? Este tema foi tratado tanto a nível da avaliação institucional como dos monitores, de uma forma mais específica. Como trabalho de grupo (um de muitos), deveríamos planificar um formulário de avaliação para diferentes actividades, tarefa que se revelou bem mais difícil do que à partida aparentava.

Resumindo, esta é uma formação que me parece de interesse fundamental para todos aqueles que trabalham com público em diferentes instituições onde se faz divulgação científica. Para quem estiver interessado, estejam atentos ao site da ECSITE e às conferências anuais, onde há sempre dois dias de formação prática para monitores (e outras formações direccionadas a outros aspectos das instituições, como a obtenção de financiamento, por exemplo). A próxima conferência será no final do mês de Maio de 2012, em Toulouse (França). Se são monitores e querem partilhar experiências com colegas de todo o mundo, podem também unir-se à comunidade Pilots, através do Pilots Hub!

Cá fica, para a posteridade, a foto do grupo internacional e multi-cultural que participou nesta formação:


sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Noite Europeia dos Investigadores 2011


Hoje celebra-se, em 320 cidades de 32 países europeus, a  "Noite Europeia dos Investigadores - 2011", mais uma acção de divulgação científica que pretende aproximar a ciência e o público. Haverá espectáculos e actividades experimentais para as pessoas realizarem. Aproveitem. É gratuito.
Alguns dos colaboradores deste blog estarão como monitores no Porto. Também eu, este ano, estarei na Invicta, na secção do Museu de História Natural e no Espaço Europeu. Nos últimos dois anos estive em Lisboa e valeu a pena, mas este ano o programa vai ser ainda melhor na capital. No entanto, quem não puder visitar Lisboa ou Porto, poderão procurar por estas iniciativas numa cidade mais perto de si.

Mais informações:
- Programa em Lisboa, no Pavilhão do Conhecimento (Expo): http://www.pavconhecimento.pt/visite-nos/programacao/detalhe.asp?id_obj=914
- Programa no Porto: http://nei2011.eu/2011/09/2178/
- Informação no site Português (pode encontrar o programa nas várias cidades portuguesas, em locais): http://nei2011.eu/oque/

Ver apresentação:


domingo, 4 de setembro de 2011

AS VACINAS SÃO SEGURAS




aqui escrevemos sobre uma tendência crescente que se vive nalgumas sociedades ocidentais, e que se está a expandir a Portugal, contra a vacinação das crianças.
Como se não fossem suficientes as vozes da maioria dos médicos a alertar para as falácias e os perigos que esse movimento anti-vacina representa para a saúde pública, saiu esta semana um relatório do Instituto Americano de Medicina que, uma vez mais, conclui que as vacinas são seguras! As vacinas não causam autismo nem diabetes!
Foram revistas oito vacinas: rubéola, gripe, hepatite B, HPV (Vírus do Papiloma Humano), difteria, tétano e tosse convulsa, VASPR (sarampo/rubéola/papeira), hepatite A e doença meningocócica C.
Este relatório foi encomendado pelo Governo Americano precisamente devido ao preocupante número de pais que se recusam a vacinar os seus filhos neste país. No já referido post, mencionávamos casos semelhantes em Portugal, embora a motivação para a recusa seja algo diferente. Nos EUA existe um movimento de pressão anti-vacina que afirma, entre outras coisas, que os adjuvantes utilizados na vacina VASPR provocavam autismo nos bebés (o adjuvante é a substância adicionada ao antigénio da vacina com o objectivo de aumentar a sua eficácia). Esta afirmação surge de um estudo fraudulento publicado por Andrew Wakefield em 1998 na revisa Lancet, que foi retratado e repetidas vezes refutado por inúmeros investigadores nos anos seguintes (um resumo da história pode ser lido aqui). No entanto, o facto de algumas figuras mediáticas aderirem ao movimento levou a que se perpetuassem até hoje esta perigosa ideia. Em Portugal, parece que o motivo para a não vacinação está mais relacionado com a convicção de que métodos ditos “alternativos” podem ser usados, nomeadamente a homeopatia. Deixaremos esta temática da homeopatia para um outro post, uma vez que merece ser tratada e explicada detalhadamente por si só.
E porque é que é perigoso este movimento anti-vacina? Primeiro, porque as vacinas são a medida de saúde pública que mais vidas salva, sendo apenas superada pela introdução de água potável nas populações! (1) E, segundo, porque a não vacinação de uma criança, não põe em risco “só” a sua vida, mas também a daquelas que a rodeiam, visto poder vir a ser um foco de infecção. Veja-se por exemplo o caso da rubéola: esta doença estava considerada como eliminada dos países ocidentais e aparecem agora de novo surtos. O mesmo está a acontecer com o sarampo.
Há também a ideia errónea de que estas doenças, a rubéola e o sarampo, não são realmente perigosas. Pois perguntem aos vossos avós! Talvez os jovens pais não tenham tido essa vivência próxima, mas o sarampo e a rubéola são perigosos e podem matar, dependendo da idade em que surgem e do estado imunológico do paciente! E os nossos avós sabem disso, visto que muitos deles perderam filhos para doenças infecciosas que hoje nem mencionamos porque, devido às vacinas, praticamente desapareceram.

(1) Plotkin, S. A., Orenstein, W. A., Offit, P. A.(2008).Vaccines. Elsevier, 1748pp.


NOTA: Para mais informação e para esclarecer todas a dúvidas, pode-se consultar o portal português sobre vacinas, desenvolvido em colaboração com vários peritos nacionais de diferentes áreas científicas e cujo objectivo é, em parte, responder a lacunas de informação que foram evidenciadas num estudo realizado nas zonas da Grande Lisboa e Grande Porto. [Este estudo revelou, por exemplo, que um terço da população não sabe que há vacinas inseridas no Programa Nacional de Vacinação (PNV), que devem ser tomadas ao longo da vida.]

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

"Brave New World"

Aldous Huxley
“Admirável Mundo Novo” (1932) é um livro da autoria do escritor inglês Aldous Huxley (1894-1963), podendo ser enquadrado dentro das temáticas ficção científica e ficção distópica (1). Esta ligação de A. Huxley à Ciência não se dá por mero acaso. De facto, o autor cresceu num meio em contacto com esta área do saber: Era neto do famoso cientista Thomas Henry Huxley (1825-1895), evolucionista convicto, conhecido como “Bulldog de Darwin”, por ser defensor acérrimo do naturalista britânico; irmão do biólogo Julian Huxley (1887-1975) (2); e meio irmão de Andrew Huxley (n. 1917), Prémio Nobel da Fisiologia e Medicina (1963).

Nesta obra, Huxley descreve uma sociedade futura bem organizada, em que os habitantes vivem em paz e felizes, mas à custa de um Estado controlador. A sociedade encontra-se dividida em castas, em que os indivíduos das castas inferiores são feios e estão destinados à realização de trabalhos menores, e os das castas superiores, os Alfa mais, estão destinados a colaborar na organização da sociedade. Os indivíduos das diferentes castas são condicionados física e psicologicamente à nascença e nos primeiros anos de desenvolvimento: todos os habitantes são criados em laboratório como bebés-proveta, muitos deles são clones, e condicionados geneticamente através de diferentes procedimentos ao longo da cadeia de produção; enquanto crianças são educados por meio de um processo hipnopédico, em que ouvem ensinamentos morais repetidas vezes (ensinamentos esses, diferentes para as várias castas). A maior parte da ciência, a arte e a religião foram abolidas. Mas no meio de tanta regulamentação e diferenças sociais porque é que não há revoltas? Porque todas as pessoas foram condicionadas a gostar do que fazem, e, além disso, tomam “soma”, uma droga que as ajuda a relaxar. No entanto, alguns cidadãos ocasionalmente questionam este modo de vida, e o personagem Bernard Marx é disso exemplo.

Marx, psicólogo, viaja para uma reserva histórica em que as pessoas desse local vivem de acordo com os costumes antigos. Aí conhece um índio, de nome John, mais conhecido como o “Selvagem”, que nascera na Reserva, mas tem uma ligação misteriosa com a sociedade civilizada. Ao descobrir o segredo de John, Marx decide dá-lo a conhecer à sua sociedade. O interessante é saber como John vai reagir a uma realidade assaz diferente da sua, e como a sociedade vai conseguir lidar com o Selvagem. Decerto poderemos esperar, à partida, um choque de culturas, mas o confronto irá ainda mais longe: John é um selvagem que conhece bastante bem a obra de William Shakespeare e depara-se com uma sociedade que ignora a literatura clássica, é um ser que tem dificuldade em aceitar que sejam todos iguais e que pensem e actuem de maneira igual (de acordo com a sua casta), o que o leva a indignar-se com o “Admirável Mundo Novo” (3) que encontra.

Este é um livro que analisa o risco de ausência de espaço para a individualidade numa sociedade, mais do que através de uma pressão social para todos agirem do mesmo modo, através de um condicionamento de desenvolvimento, realizado por quem governa, e da provável irreversibilidade deste processo. O enredo deste livro e o de “1984” de Orwell partem da intenção de criar uma sociedade melhor (utopia), mas que devido à falta de ética (possível explicação) na acção humana, esse pressuposto acaba por degenerar numa realidade opressora e perturbadora (distopia). Talvez a mensagem dos autores seja: “A favor da criação de uma sociedade melhor, mas com cautela.”

Notas:
(1) – Quando se descreve um lugar demasiado perfeito quando comparado com a nossa realidade, designamo-lo de Utopia, mas quando esse lugar é demasiado perturbador ou horrível quando comparado com a realidade, então, designamo-lo de distopia. Obras como “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley, ou do aqui já mencionado “Mil Novecentos e Oitenta e Quatro” de George Orwell, são consideradas distópicas.

(2) – Julian Huxley era amigo do escritor de ficção científica H. G. Wells, também já mencionado neste blog (Julho 2011).

(3) – Alusão à obra “Tempestade” (V, 1), de William Shakespeare. Aliás, o livro está repleto de referências a diversos textos deste autor.

Bibliografia:
Aldous Huxley, "Admirável Mundo Novo", Editora Livros do Brasil, Lisboa, 2006 - Tradução: Mário Henrique Leiria