domingo, 16 de novembro de 2008

Jules Verne - Volta ao Mundo

Este ano comemoram-se os 180 anos do nascimento do escritor francês Jules Verne (1828-1905). Por esta razão, têm sido várias as iniciativas para celebrar este acontecimento. No blog http://jvernept.blogspot.com, ficamos a saber que alguns vernianos tiveram a ideia de fazer circular um exemplar do livro "A volta ao mundo em 80 dias", do autor francês, pelo nosso planeta, através de alguns locais por onde passou a personagem do livro. A viagem será documentada através de fotografias. Esta viagem teve início no Porto, Portugal, e aí deverá terminar. Pelas últimas notícias, o livro terá deixado a cidade holandesa de Zeist para chegar à Polónia.
Esperamos pelo retorno deste livro a terras lusas, e que cumpra o esperado objectivo de completar a viagem em 80 dias ou menos. Para que possa acompanhar esta viagem consulte:

Cultura: Da Livraria Bulhosa até à FNAC

Enquanto membro do BioCEL (núcleo de estudantes de Biologia da Lusófona), foi da minha responsabilidade a organização do BioCafé, que consistia em palestras dadas de um modo informal, por investigadores convidados sobre a sua área de pesquisa.
Estas conferências foram realizadas na Livraria Bulhosa, no Campo Grande. O responsável por este tipo de actividades na Bulhosa, o sr. A. D., tinha uma interessante visão da cultura. Dizia ele: "A livraria não deve ser somente um local de comércio de livros. É um lugar de cultura, que deverá manifestar-se nas suas diversas formas." Portanto, foi com a maior das amabilidades que acolheu o nosso projecto do BioCafé, como anteriormente acolhera pequenos concertos de jovens músicos, ou leitura de contos para crianças.
Esta ideia de algo mais que uma livraria agradou-me bastante. É uma diferente maneira de levar cultura às pessoas, cultura essa, nas suas mais diversas formas. Atitude semelhante, teve a FNAC, que para comemorar os seus 10 anos de existência em Portugal, ofereceu bilhetes para um concerto no dia 14 de Novembro no Pavilhão Atlântico, no parque das nações.
Neste concerto actuaram grupos como "Peixe: Avião", "Deolinda", passando por "Rita Redshoes", "Clã", até aos veteranos "Xutos & Pontapés".
Deixo como sugestão, a passagem pelo link http://br.youtube.com/watch?v=mb3Kh94XnLo, para ouvir uma nova interpretação do fado pelo grupo "Deolinda", uma revelação.

domingo, 9 de novembro de 2008

Manifestação Professores

Hoje, no dia 8 de Novembro do ano de 2008, vivemos mais um momento histórico em Portugal. Este foi o dia em que mais de cem mil professores voltaram a manifestar-se na capital portuguesa. Passados oito meses da anterior manifestação (8-3-2008), os docentes sentiram a necessidade de se fazerem ouvir, uma vez mais. E mais uma vez, ministra da educação e governo parecem não entender estes ecos de descontentamento da classe docente. Mais uma vez, para a ministra, os professores estão a ser manipulados pelos sindicatos, mais uma vez os professores não têm razão (cerca de 120.000 professores, mais de 2/3 dos professores nacionais), mais uma vez os professores são os maus profissionais que não querem avaliação.


Eu não sou professor, mas tenho familiares e amigos que o são. Por essa razão estou dentro do assunto, sinto o seu descontentamento, e, por essa razão, sinto-me apto para opinar. Para que se saiba, os professores querem ser avaliados, não o querem é desta maneira, não com tanta burocracia desnecessária. Ainda há pouco, numa entrevista no canal da sic notícias a Dra. Maria de Lurdes, afirmou que o processo de avaliação consiste na análise das aulas dadas pelos professores assim como através de umas folhas que "demoram cerca de duas horas, no máximo, a serem preenchidas, no total do ano lectivo", nas palavras da ministra. Sim, isso mesmo, a senhora ministra não percebe onde está a burocracia de que os professores falam, pois estes só têm de dispensar "2 horas de um ano lectivo" a preencher papéis, nem percebe a que se referem quando falam das dezenas de portfólios que têm de preencher.

A verdade é que há professores, como os meus familiares, que saem de casa perto das 7horas da manhã e tornam a casa cerca das 20 horas. Ficam no local de trabalho mais horas que o devido e sem receberem mais por isso. E o que ficam lá a fazer? A preencher a "papelada" e a terem reuniões seguidas de reuniões, algumas delas sobrepostas.
Seria benéfico para todos os intervenientes que houvesse entendimento com a mais breve celeridade, que voltem a dialogar.


Nota: Este texto reflecte uma opinião pessoal. Deixo também um abraço solidário a todos os docentes do nosso país, a quem todos devemos muito.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Escotismo e Escutismo - duas palavras para uma ideia

(Para o Bastos)


O movimento que em Portugal se chama Escotismo ou Escutismo foi idealizado por Robert Baden-Powell (1857-1941), militar britânico, depois de verificar a popularidade do seu livro Aids to Scouting – primeiramente destinado ao exército, mas depois usado como livro de leitura nas escolas[1] – e a utilidade de formar os jovens para uma cidadania participativa, patriótica e solidária. O acampamento experimental em Brownsea com 20 rapazes no verão de 1907 demonstrou o sucesso prático da ideia. O escotismo espalhar-se-ia muito para além dos cálculos de B.P., tendo chegado a todos os continentes do Mundo.
Na prática, o que pretende ser o Escotismo? Um movimento internacional, voluntário e pedagógico, que tem por fim ajudar os jovens a crescer saudavelmente, incutindo-lhes um sentido dinâmico de responsabilidade e de fraternidade; um movimento não político, aberto a todas as pessoas sem qualquer distinção (origem, raça, credo...), caracterizado pela participação na sociedade, em especial protegendo a Natureza e auxiliando os que precisam. O movimento tem um método próprio de educação centrado na aprendizagem pela prática e no contacto com a Natureza e com as Comunidades. Os escoteiros andam uniformizados e trazem um conjunto de símbolos próprios que expressam os princípios do movimento.
Os portugueses também adaptaram a ideia desde cedo, com os primeiros escoteiros lusos em Macau, em 1911, organizados por Álvaro Mello Machado, “oficial da Marinha e governador de Macau desde 17 de Dezembro de 1910”[2]. Mais tarde, seguidas de várias tentativas efémeras de escotismo, vêm a permanecer na Metrópole as duas principais associações que, com mais ou menos actualizações, ainda hoje existem – a Associação dos Escoteiros de Portugal (1913) e o Corpo Nacional de Escutas (1923)[3]. Estas associações têm algumas diferenças importantes, desde logo em relação à religião, já que o C.N.E. é um movimento católico e a A.E.P. tem carácter interconfessional. E existe ainda a curiosa questão das denominações. Em Portugal, para os jovens que aderem ao movimento, há duas palavras identificadoras: escoteiro e escuteiro. O que aqui queremos fazer é tentar explicar a origem da diferença e a competência destes vocábulos, segundo a nossa opinião.
Em inglês, as palavras escolhidas para designar o movimento e os seus membros foram scouting e scout. No Oxford Advanced Learner’s Dictionary, de scout diz-se que é um batedor ou um membro da organização escotista que tem como objectivo o desenvolvimento do carácter dos jovens através da disciplina, das actividades ao ar livre e do serviço para a comunidade[4].
Por scout Baden-Powell entendia explorador. “Creio bem que não há rapaz que não queira servir a sua Pátria de uma forma ou doutra. Tem um meio fácil de o conseguir: é fazer-se Escuteiro. O explorador do exército (o antigo escuta) é, geralmente, como sabeis, um soldado escolhido pela sua capacidade e coragem para seguir à frente do exército, descobrir onde se encontra o inimigo, e comunicar ao comandante tudo quanto puder averiguar a seu respeito. Mas, além de exploradores de guerra, há também exploradores pacíficos – gente que em tempo de paz realiza tarefas que exigem igual coragem e engenho. São os fronteiros da civilização. Os pioneiros e caçadores de peles da América do Norte, os colonos da América do Sul, o caçadores da África Central, os exploradores e missionários espalhados pela Ásia e por todas regiões selváticas do mundo, os sertanejos e pastores da Austrália, a polícia do Canadá Setentrional e da África do Sul – são todos escuteiros da Paz, verdadeiros homens em toda a acepção da palavra, peritos na arte de explorar. Sabem viver na selva, em toda a parte se sabem orientar e, dos vestígios ou sinais mais simples e pegadas mínimas, tiram conclusões muito exactas. Sabem cuidar da saúde quando andam longe dos médicos. São fortes e ousados, estão prontos a arrostar perigos e sempre dispostos a auxiliarem-se mutuamente. Estão acostumados a trazer a vida entre as mãos e a arriscá-la sem hesitação, se com ela podem servir a sua Pátria. Privam-se de todas as suas preferências e comodidades pessoais, para se desempenharem da sua missão. A vida do fronteiro é vida magnífica, mas ninguém se pode dedicar a ela de repente, se não estiver devidamente preparado. Os que melhor se dão nela são aqueles que aprenderam a arte de exploração enquanto rapazes. A exploração é útil para qualquer modo de vida que se queira seguir. Um célebre sábio afirmou que serve de muito àquele que pretenda dedicar-se aos estudos científicos. E um médico notável mostrou que é necessário ao médico ou ao cirurgião tomar nota de pequeninos nadas, como faz o explorador, e saber interpretá-los.”[5]
A citação é extensa, mas quisemos mostrar pelas palavras do próprio Fundador o significado de scout ou explorador. O explorador começa por ser um batedor (scout) do exército, aquele que espia o inimigo, servindo-se de técnicas que o ajudam a dominar o ambiente que o rodeia; é, depois, também, aquele que vive perto da Natureza e que, não estando em guerra, também se serve de um conjunto de técnicas de sobrevivência e convívio com meios não civilizados, não muito tocados pelos Homens, naturais. O que queria exprimir o criador do movimento era a importância de a juventude crescer em contacto com o seu Mundo, habituada a compreender a Natureza, a proteger esse precioso património, observando e aprendendo, ou seja, explorando. Isto explica, por exemplo, o facto de o Escotismo ser um dos mais precoces e entusiastas movimentos com preocupações ambientais. Assim, a palavra scout chega aqui ao seu terceiro significado: movimento educativo de jovens ao ar livre e ao serviço da comunidade. Um movimento voluntário com fins pedagógicos, que visa ajudar os mais novos a crescer saudável e responsavelmente, segundo um conjunto de práticas de vida em campo e de serviço às comunidades. Era assim que Baden-Powell entendia a sua mais célebre criação.
E a palavra (ou palavras) portuguesa(s)? Quando, no início do século XX, se quis oficializar por cá o original movimento de Baden-Powell, pediu-se à população, através de jornal, que desse sugestões de nomes que definissem o movimento, na altura embrião da Associação dos Escoteiros de Portugal. Muitas surgiram. Uma só serviu. Uma palavra portuguesa já existente, tal como o vocábulo scout, e que descrevia uma parte importante do que de facto era o movimento[6]. O termo era escoteiro. Escoteiro era o indivíduo que “que viaja ligeiro, com pouco fardo ou sem bagagem, pagando escote pelo caminho para comida e bebida”[7]; escote significa “aquilo que compete a cada um pagar numa despesa comum; quota-parte”[8], tendo origem numa antiga palavra franca: skot (contribuição)[9]. De facto, o vocábulo exprimia bem a aventura e o desprendimento em relação aos confortos da civilização, já que o escoteiro de pouco mais precisa em campo do que das suas imaginação e vivacidade.
Porém, a A.E.P. não está só no panorama escotista português. Em 1923, 10 anos depois, surgia um ramo católico do movimento – o Corpo Nacional de Escutas[10]. “Em Novembro de 1934 foi publicado o novo Regulamento Geral do CNS, no qual o nome de Corpo Nacional de Scouts foi substituído pela nova designação oficial: Corpo Nacional de Escutas. O termo português vinha, assim, após um longo debate no seio da associação, fazer vingar a opinião da corrente “mais nacionalista” ao impor a lusitanização do termo estrangeiro que o CNS usou desde a sua fundação.”[11] Assim, fazia-se derivar o nome português directamente do scout. Confirma o Dr. José Francisco dos Santos, escuteiro: “A nossa associação adoptou para si o vocabulário inglês scout. A meu ver, houve um pouco de precipitação na escolha desse vocabulário. Se fosse hoje, estou convencido que se optaria pelo seu correspondente português, escuta. Scouting já não achou tão bom terreno e hoje está generalizado ou vai-se generalizando a palavra Escutismo que de Escuta deriva. É pois razoável que se emende à mão e que recorramos ao termo português para designar a associação. Porque não há-de ela chamar-se Corpo Nacional de Escutas?”[12]
Uma vez que são duas associações portuguesas denominadas diferentemente, põe-se a questão de saber quais os termos correctos: se os usados pelo Corpo Nacional de Escutas – escuteiro, escutismo e escuta –, se os usados pela Associação dos Escoteiros de Portugal – escoteiro e escotismo, se ambos, cada um pelas suas razões.
O Dicionário Etimológico explica os significados antigos de escoteiro e escote (p.448) e refere que escutismo é a adaptação do inglês scouting, proveniente de scout, significando "batedor de campo; soldado avançado de qualquer corpo que corre o campo para saber o que faz o inimigo" (p.452). O Grande Dicionário da Língua Portuguesa refere escoteiro, escotismo, escuteiro e escutismo e valida todos[13]. A Nova Enciclopédia Larousse usa o termo escuteiro indistintamente para ambas as associações e numa das acepções de escuta diz que é o mesmo que escuteiro[14]. A Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira faz o mesmo (mas não reconhece escuta como sinónimo) e diz ainda ser escoteiro a “grafia errada de escuteiro”[15], o que não é exacto.
O vocábulo escoteiro e, por extensão, o vocábulo escotismo, estão correctos. A A.E.P. adoptou a palavra escoteiro por causa do seu significado já existente e conciliável com o carácter do movimento, fazendo daí derivar o escotismo, acrescentando o sufixo ismo, que exprime a ideia de sistema.
Por outro lado, o nome escolhido pelo C.N.E. tem uma história diferente. Tanto João Vasco Reis como José Francisco dos Santos, citados acima, dizem que a palavra é a adaptação portuguesa do termo inglês scout. Não conhecemos os termos do debate dentro da associação católica, pelo que apenas podemos supor, apoiados na lógica, como se chegou a escuta desde scout. A palavra escuta, ligando-se ao significado, ou a uma parte dele, de scout, parece ter uma evolução paralela à do termo inglês. De facto, uma das acepções de escuta e do seu verbo escutar é “observar, escutar e dar informações acerca das manifestações do inimigo”; uma patrulha de escuta é um “grupo de dois ou mais soldados que à frente de uma posição exercem vigilância, durante a noite, procurando recolher indicações acerca das intenções e actividade do inimigo.”[16] Parece-se com a noção de batedor ou scout e, sem dúvida, fará parte da exploração. O paralelo com o Scouting faz-se facilmente, podendo derivar do vocábulo inicial outros sentidos mais adaptados à vida civil – tal como pensou Baden-Powell – e até se coaduna com a divisa associativa do C.N.E., que é “Alerta”. A ser esta a explicação para a diferença vocabular, partiria daqui um suporte etimológico para as palavras escuta e escutismo. O escuta é o que pratica a exploração; o escutismo é o movimento a que pertence o escuta. Estas palavras, segundo a explicação, também estão correctas. Porém, podem exprimir-se algumas reservas. A palavra escuteiro não existe no Dicionário Etimológico, que traz a origem das palavras portuguesas, não tendo, portanto, nenhum suporte, pelo menos radical ou antigo, que lhe sustente a existência; fica, pois, parecendo uma cópia má de escoteiro e um vocábulo sem história, reinventado e inserido à força no vocabulário. Quanto ao termo escuta, não tem um passado ligado a nenhum significado em português que se identifique directa ou suficientemente com a natureza destas associações; não é como escoteiro e necessita um exercício intelectual de associação ao seu conteúdo pedagógico mais elaborado e demorado. Trata-se de rejeitar uma denominação que, pelo seu significado original suficientemente completo, podia servir para designar todo o movimento – escoteiro –, de pegar numa palavra que da exploração guarda uma pequena função e de tentar desenvolver-lhe uma história que daí derivaria, seguindo o exemplo da palavra scout, explicado acima. Podíamos admirar completamente este trabalho intelectual se não houvesse, de facto, já um vocábulo português antigo, a partir do qual mais facilmente se pode construir o significado do nosso scouting, o que, historicamente, precede a criação das palavras adaptadas escutismo e escuta.
Para explicar a razão das referências a escuteiro em vez de escoteiro, nas enciclopédias e nos dicionários, é preciso admitir certa falta de rigor dessas entradas, a que não deverá ser estranha a maior expansão do C.N.E. entre nós.
Para concluir, uma vez que ambas as associações são portuguesas e, logo, se movimentam no mesmo espaço, sujeitas às mesmas circunstâncias, não se deixa de pensar que mais lógico seria que nos fosse próprio um só termo. Que o mesmo, pelas razões expostas, fosse escoteiro, donde derivaria escotismo. A mudança de apenas uma letra nos vocábulos não é um capricho de antiguidade da A.E.P., nem uma evidência de modernidade do C.N.E., pois, como vimos, numa letra há uma história mais complexa do que parece. Apesar de se poder concluir pela correcção de ambas as denominações, as reservas que expusémos em relação às do C.N.E. fazem-nos pensar que se veio estabelecer uma divisão, formal é certo, mas desnecessária.



[1] Escutismo para Rapazes, Robert Baden-Powell, edição do Corpo Nacional de Escutas, 2002, p. 298.
[2] Corpo Nacional de Escutas – Uma História de Factos, João Vasco Reis, edição do Corpo Nacional de Escutas, 2007.
[3] Idem, p.164.
[4] Oxford Advanced Learner’s Dictionary, Oxford University Press, 5th edition, 13th impression, 1999, p.1054: “1) a person, an aircraft, etc sent ahead to get information about the enemy’s position, strength, etc. (…) 2) Scout (also esp dated boy scout) a member of a branch of the Scout Association, an organization which aims to develop boy’s characters through discipline, outdoor activities and public service”.
[5] Escutismo para Rapazes, pp.3-5.
[6] V. História dos Escoteiros de Portugal, Eduardo Ribeiro, Aliança Nacional das ACM de Portugal.
[7] Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol.10, Editorial Enciclopédia Limitada, p.61.
[8] Idem.
[9] Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, José Pedro Machado vol.2, Livros Horizonte, Lisboa, 1989, p.448.
[10] Que começou por se chamar Corpo de Scouts Católicos Portugueses – C.S.C.P. –, posteriormente Corpo Nacional de Scouts – C.N.S. e, por último, Corpo Nacional de Escutas, denominação que mantém.
[11] Corpo nacional de Escutas – Uma História de factos, pp.176-177.
[12] Flor de Lis, Dezembro de 1928, cit. em http://inkwebane.cne-escutismo.pt/Curiosidades/Outrashistórias/ScoutvsEscuta/tabid/277/Default.aspx; a Flor de Lis é a revista oficial do C.N.E.
[13] Grande Dicionário da Língua Portuguesa, coord. de José Pedro Machado, vol.IV, Euro-Formação, 1989, p.577 e 587. É acrescentado o termo escoteirismo, raro entre nós.
[14] Nova Enciclopédia Larousse, vol.9, Círculo de Leitores, 1997, p.2685.
[15] V. vol. 10, p.115.
[16] Para ambas as citações, v. Grande Enciclopédia..., idem, p.114.

Nota: As imagens reproduzidas são ilustrações da autoria do próprio Baden-Powell e foram retiradas de Escotismo para Rapazes, p.32 e p.292.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Os Nok

Os Nok

Em 1928 foram descobertas na Nigéria Central (v. este país assinalado a azul no mapa), mais precisamente na localidade chamada Nok, situada “nas colinas do mesmo nome, próxima de Jos, na meseta de Bauchi”[1], várias estátuas de terracota (barro cozido no forno), que são as mais antigas terracotas do continente. Os homens que as produziram – denominados Nok – eram principalmente agricultores sedentarizados que cultivavam o inhame (para alimentação) e produziam óleo de palma, sendo provável que não criavam gado. Parecem ter sido pioneiros também na metalurgia, já que foram os primeiros ao sul do Sara a fundir o ferro. “A língua Nok estava possivelmente ligada à dos Protobantos, que enxameavam toda a África Central e Meridional. (...) Precedendo de vários séculos a cultura de Ifé, a civilização de Nok constitui um elo essencial para o conhecimento da antiquíssima história do continente africano. Nada se sabe sobre como terá desaparecido esta cultura, se de forma brutal ou na sequência de um progressivo declínio.”[2] Os Nok habitaram uma ampla área de “480 quilómetros por 160 quilómetros”[3] a norte da confluência do rio Níger com o Benué, entre cerca de 500 e 200 a. C.

A arte Nok

A sua arte tem algumas características que se devem assinalar. Os Nok representaram pessoas e animais. As cabeças humanas são modeladas segundo as formas geométricas em uso: esféricas, cónicas e cilíndricas; são em tamanho quase natural[4] e as feições são estilizadas. “As cabeças humanas, mesmo quando mostram alguma tendência para o naturalismo, nunca são retratos. Em contrapartida, os animais são tratados de forma realista, o que leva a pensar que as representações humanas se afastam da realidade voluntariamente e não por falta de habilidade dos artistas.”[5] De facto, há estudiosos que sugerem que existia uma recusa em fabricar retratos, pois o modelo poderia ficar exposto à acção de forças maléficas. Ainda assim, há uma preferência pela representação humana, embora tenham aparecido elefantes, macacos, serpentes e carraças.

A Cabeça de Jemaa

A peça considerada mais importante da cultura Nok é a Cabeça de Jemaa, descoberta em 1942. Modelada em forma esférica, a cara é uma superfície lisa, com olhos triangulares e nariz pouco saliente a que adere o lábio superior; os olhos, o nariz e a boca são perfurados e as orelhas estão “no ângulo do maxilar”[6].











A Arte Antiga da Nigéria

A arte Nok precedeu o aparecimento de outras manifestações importantes na Nigéria, como os bronzes de Igbo-Ukwu (IX-X d. C.), os mais antigos da África Ocidental; as referidas estátuas de Ifé (desde, pelo menos IX d. C. até XIV ou XV), em terracota e bronze, os únicos retratos da África Negra, representando monarcas e dignitários; as terracotas de Owo (entre Ifé e Benim), pelo século XIV, de temas macabros; e, já no Benim, estátuas e ornamentos em bronze e adereços cerimoniais de marfim.



No mapa podem ver-se a meseta de Bauchi e Jos, sítio perto do qual fica Nok, no centro país; Ife no sudoeste; Owo a sudeste de Ife; e Lagos - a capital, onde o Museu Nacional guarda estas peças arqueológicas - a sudoeste de Ife e Owo.





[1] Moderna Enciclopédia Universal, Círculo de Leitores, vol.14, p.41.
[2] Memória do Mundo – Das Origens ao Ano 2000, Círculo de Leitores, 2000, p.98.
[3] Idem.
[4] A cultura de Ifé foi, com a Nok, a única que também nos deixou terracotas destas dimensões.
[5] Idem, p.99.
[6] Idem.

Nota: Os mapas vêm da Moderna Enciclopédia Universal, idem, pp. 26 e 27; a imagem da Cabeça de Jemaa vem de Memória do Mundo, p.98.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Jogos Populares Portugueses

Os jogos populares fazem parte da vida quotidiana dos povos. Quando não estão a trabalhar as pessoas acham-se a conviver e a entreter-se. O divertimento, claro está, deve ser encarado com a espontaneidade com que é criado e com o à-vontade que ele mesmo cria. Porém, como é próprio dos seres humanos irem guardando todas as informações relativas ao seu universo, fica existindo também o ponto de vista académico, mais ou menos informado, completo, erudito. O entretenimento é assim estudado como parte da cultura de um povo, ao lado do trabalho e de outras manifestações. E os jogos populares são um capítulo relevante na cultura portuguesa da diversão. Entre nós há numerosos jogos populares, alguns tão populares que não têm regiões, outros mais restritos e, destes todos, as variantes, a adaptação local de jogos conhecidos em muitas terras. Está publicado sobre o assunto, entre outros, o livro Jogos Populares Portugueses - de jovens e adultos, de António Cabral, Editorial Notícias, 3ª ed., 1998. A obra contém a breve descrição dos jogos populares nacionais (com notas sobre jogos em Goa, Macau, Moçambique e na Galiza), algumas notas históricas, e referências a modos de divertimento que não sendo propriamente considerados jogos, se lhes aproximam por características parecidas, sendo claro o cuidado do autor em demonstrar a existência das variantes. Da malha, por exemplo, jogo popular que consiste no derrube de pinos com uma chapa de metal (a "malha"), diz António Cabral: "São muitas, de norte a sul de Portugal, as variantes deste jogo, o que lhe dá uma grande riqueza cultural, mas dificulta os torneios entre equipas de várias zonas, inclusivamente dentro da mesma região. Num torneio organizado pela ex-Junta Central das Casas do Povo de Braga foi um bico-de-obra acertar as regras entre os representantes dos diversos concelhos da zona. Mas é exactamente isso que é desejável: os traços culturais de uma comunidade devem ser respeitados. E nunca os técnicos promovam pura e simplesmente a uniformização, pois essa tentativa é desculturante." (p.41) É importante sensibilizar os jovens, nomeadamente nas escolas e no âmbito alargado da Educação Física, para a existência destas tradições portuguesas, para que não estranhem o que também lhes pertence e as possam escolher e preferir em substituição de passatempos menos pedagógicos e humanizantes. O livro contém bibliografia (pp.275-276). Do Autor publicou-se também a obra Jogos Populares Infantis.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Sarah Affonso, Almada Negreiros e a vida artística portuguesa no século XX, segundo testemunho oral


Quando idosa, a pintora Sarah Affonso (1899-1983) costumava conversar muito com a nora – Maria José de Almada Negreiros – e o tema era, muitas vezes, a Arte, os artistas, os artistas portugueses do século XX, a geração de Orpheu e o que se lhe seguiu. Sarah Affonso estudou pintura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, ainda aprendeu com Columbano Bordallo Pinheiro (1857-1929) – pintor do naturalismo – e, nas suas primeiras exposições individuais (1928 e 1932) revelou-se uma artista moderna, com um estilo pessoal. Esteve a estudar em Paris (1923-1924 e 1928-1929) e foi casada com o multifacetado Almada Negreiros. Em 1944 ganhou o Prémio Amadeo de Souza Cardoso do SNI.[1] A sua pintura, embora moderna, mantém uma forte ligação a referências portuguesas - expressas em crianças, procissões, festas, coretos - não sendo, portanto, uma arte propriamente cosmopolita ou universalista como a dos pintores que estiveram no Orpheu e que chegaram a Lisboa com as novidades de Paris. Das tais conversas, diz a nora: “Comecei por tomar notas do que Sarah Affonso me contava, logo que chegava a casa. Ainda não pensava em publicar este livro, mas, mesmo para mim própria, não queria esquecer todos aqueles pormenores que me revelavam como era, na sua pequena história, a vida artística portuguesa desde o princípio do século.”[2] A junção de várias conversas recolhidas por um gravador “clandestino” e depois autorizadas pela pintora, deram um volume de cerca de 100 páginas, acessível, e com dados importantes para a compreensão do ambiente artístico português e da vida e personalidade de alguns artistas, cujo título agradavelmente despretensioso é Conversas com Sarah Affonso. Sarah Affonso fala de si mesma, do marido – o pintor, escritor, ensaista, etc., José de Almada Negreiros (1893-1970) – da amizade com Fernando Pessoa (1888-1935), das relações nem sempre lineares com Eduardo Viana (1881-1967), da pintura e aceitação problemática de Amadeo de Souza Cardoso (1887-1918), da história do casal Delaunay em Portugal, e, entre outras coisas, revela um pouco do que pode ter sido a influência de Santa Rita Pintor (1889-1918) – a quem chama “mestre” (p.24) – na arte de Almada, um tema pouco abordado, não só por causa da sua morte precoce, mas também pela exiguidade de testemunhos do próprio Almada sobre o pintor e pela má vontade com que Santa Rita é ainda hoje visto por alguns estudiosos para quem foi apenas um blagueur, sem realizações práticas de Arte. O texto é, portanto, significativo, não só por causa das revelações históricas, mas também por resultar de uma prática, tanto quanto sabemos, com pouca expressão em Portugal, que é o recurso ao testemunho oral, à experiência individual para a recolha de informações com efectivos aproveitamento e importância científicos.


“K4 QUADRADO AZUL


[Maria José de Almada Negreiros] - Os Delaunays estiveram cá por altura de 14, 15, não foi?
[Sarah Affonso] - Parece-me que vieram em 15. O Delaunay estava isento da tropa, acho que em caso de guerra são chamados na mesma, mas ele saiu de França e veio para cá, com o Amadeu. Foram viver para Vila do Conde. O Zé[3] sem querer tramou-lhes a vida e eles tiveram que fugir para Espanha. Isto porque o Amadeu gostava muito do conto «K4 quadrado azul». Estava-se em plena guerra e K4 parecia mesmo uma sigla misteriosa. O Amadeu gostava muito do K4, eu não gosto, já é uma coisa muito futurista, gosto é da «Engomadeira». Mas então o Amadeu disse ao Zé «olha, eu conheço um tipógrafo no Porto, que te faz isso muito barato». E levou o original com ele para o norte. Levou o manuscrito e nunca mais disse nada e o Zé que era um impaciente, manda-lhe um telegrama: «Dá notícias K4 quadrado azul.» Ao Almada não disseram nada, não sei porquê, mas ao Amadeu foram perguntar o que era aquilo e depois todo o grupo foi interrogado. O Viana esteve preso 15 dias na enxovia. Como não tinha dinheiro para pagar um quarto na polícia, foi para onde vão todos, isso é que é a enxovia. Ficou lá até que um dia se encheu de raiva, estava o juiz ou o polícia lá no gabinete a fazer-lhe perguntas e ele agarrou-se assim à mesa e com a cara dele encostada à do homem: «Você acha justo o que me estão a fazer? Se você tivesse um filho, se o visse aí, deixava-o ficar!?» E então deixaram-no ir embora.
[MJAN] - Mas esteve preso por causa do K4!?
[SA] - Pois, porque as explicações que ele dava não os convencia. E os Delaunays também estiveram presos. Foram eles e o Viana. O Amadeu como era de gente conhecida do Porto, deixaram-no ficar à solta. (...)
[MJAN] - Mas depois ficou tudo esclarecido?
[SA] - Depois, o Amadeu lá os convenceu que não eram espiões de guerra.”[4]



[1] Para estas referências, v. Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Editorial Enciclopédia Limitada, vol.1, p.518 e vol. 1 da Actualização, p.112.
[2] Conversas com Sarah Affonso, Maria José de Almada Negreiros, Publicações Dom Quixote, 1993, p.7.
[3] José de Almada Negreiros.
[4] Idem, pp.44-45.
Nota: A imagem acima reproduzida vem da capa da obra citada na nota 2 e é a reprodução de dois auto-retratos, ambos da mesma altura, de Sara Affonso à esquerda (1927) e de Almada Negreiros à direita (c.1927).

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Recordando Soeiro Pereira Gomes - autor de "Esteiros" III

A 20 de Dezembro de 1979, na sessão realizada na Sociedade Nacional de Belas-Artes, relembrando a morte de Pereira Gomes (1949), disse Mário Dionísio: "Não sei, assim, evocar Pereira Gomes, sem evocar também toda uma época: a do surto do movimento neo-realista, movimento que, em lenta gestação desde 1934, no jornal «Liberdade» e noutros, se afirmava a partir de 1936 e 1937 em poemas, contos, crónicas, artigos de teorização e de polémica, e se consolidaria depois de 1939, sobretudo n'«O Diabo» e no «Sol Nascente»" (cit. em Ricciardi, p.58). O aparecimento de periódicos de esquerda foi uma das formas de combate à autoridade exagerada do Estado Novo. Foi uma das formas escolhidas pela intelectualidade portuguesa não só para divulgar estéticas novas, mas também para chamar a atenção para problemas antigos não resolvidos, como os da desigualdade social, da degradação que havia na exploração dos pobres pelos poderosos, do problema dos analfabetos, da pobreza... Pereira Gomes, nesta questão, deu o exemplo literário e deu o exemplo prático, tornando-se num modelo de homem interventivo e completo, que viu e sentiu o que descreveu nos seus contos e romances. Em Alhandra teve uma actividade importante pela integração e qualificação das pessoas: "os cursos de educação física, a construção da piscina no Alhandra Sporting Club, as palestras nas colectividades próximas, a organização de bibliotecas populares, os cursos de alfabetização para crianças e para adultos, os passeios, o campismo, a presença constante e discreta entre os operários da fábrica. E não menos importante, o trabalho pedagógico de convencer a juventude a afastar-se das tabernas e do jogo" (cit. idem, p.59). Da piscina, em particular, diz o próprio Pereira Gomes, em carta de 1938 a um amigo: "Durante três meses trabalhei como uma fera: arranjei dinheiro, dirigi os trabalhos e, tendo gasto apenas umas dezenas de contos, arranjei uma piscina para o club local e um esgotamento físico pra mim. Em todo o caso, produzi e fui útil para a colectividade." (cit. idem, p.60) Haverá talvez ainda alguns idosos que se lembram deste cidadão, que também deu aulas de ginástica à mocidade. E, depois do corpo, o espírito: "Bem-vindas sejam pois as bibliotecas até porque elas são inimigas da taberna. Mas, elas só não bastam, nem mesmo como paliativo, porque de nada servirão aos ignorantes, aos analfabetos. Permiti-me, portanto, que, fundador também de algumas bibliotecas populares - alvitre, [...] a criação de um curso nocturno de instrução primária para os sócios." (cit. idem, p.66) Isto escreveu Soeiro Pereira Gomes num texto duma palestra (Instrução, Desporto e Educação Física). As bibliotecas e os cursos funcionaram em Alhandra depois dos esforços dos cidadãos que apoiaram estas ideias. Baptista Pereira, atleta e campeão de nado alhandrense e, também, o Gineto de Esteiros, disse: "Quem me começou a ensinar a ler foi Soeiro Pereira Gomes, um homem extraordinário que viveu aqui em Alhandra." (cit. idem, p.67) Ainda houve espaço para a representação de revistas, musicadas por Manuela Reis, a inteligente esposa do escritor, que, pelo início dos anos '40 era uma prestigiada colaboradora da Emissora Nacional. Alhandra era assim um local um tanto melhor para se viver. E tudo o que era necessário, ontem como hoje, era vontade, imaginação e altruísmo. Agora que se recordam estes factos guardados pela História, seria bom ver as mais jovens gerações à altura dos seus antepassados.
Soeiro Pereira Gomes - Uma Biografia Literária, Giovanni Ricciardi, Caminho, 1999

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Leitura em Férias IV- "O Melhor dos Meus Erros"

Aproveito o post anterior, já que mencionei a autora Clara Pinto Correia, para destacar mais um livro da sua autoria. Desta vez trata-se de um conjunto de crónicas da altura em que colaborava com a revista Visão.
Após terminada a leitura de “O melhor dos meus erros”, fiquei com a sensação de que mais que ter lido um conjunto de crónicas, li um conjunto de reflexões (algumas profundas) sobre os mais variados temas. Mais do que uma simples e serena leitura, foi também para mim uma reflexão. Devido a opiniões divergentes, pensei e repensei, observando as duas faces da mesma moeda.
Estes “erros” recomendam-se.

Referência:
Clara Pinto Correia, “O melhor dos meus erros”, Oficina do Livro, Lisboa, 2003

Escrever uma Tese em Bom Português

Encontramo-nos no início de um novo ano lectivo. Terminam as férias, os passeios, o descanso e reiniciam-se as aulas, o estudo e os exames. Para alguns começa o estágio e já se preparam para escrever a Tese. É esta a minha deixa para sugestão de dois livros, que podem ser de particular utilidade nesta altura do percurso de formação de todos nós.
O primeiro livro trata, como o próprio título indica, sobre “Como escrever uma tese, monografia ou livro científico usando o Word”, dos autores Alexandre Pereira e Carlos Poupa. Acho este livro sugestivo não só por explicar as normas de redacção de uma tese (poupando trabalho ao orientador), como também por explicar tutorialmente, com recurso a texto e imagens, as várias formatações necessárias em word (notas, referências, índices remissivos, tabelas, figuras, quadros, equações e gráficos).
No entanto, antes de escrever uma tese, é necessário saber escrever. Saber escrever em Português. Esta minha ênfase neste assunto, resulta da chamada de atenção de muitos docentes, inclusivamente a nível universitário, sobre o facto de encontrarem inúmeros erros, sejam eles gramaticais ou ortográficos, tanto em exames como nas próprias teses. Assim, este livro dedica um capítulo à escrita (Capítulo 4 – Escrever correctamente).
Por falar em escrever correctamente, a segunda sugestão é novamente dedicada à escrita de Português, porque nunca é de mais insistir. Desta vez o título indicado é “Complementos Indirectos – Um Guia Prático para uma Escrita Feliz em Português”, da autoria de Clara Pinto Correia. Este livro é o resultado das aulas leccionadas pela docente, no Workshop de Escrita para Biólogos, na Universidade Lusófona. O interesse deste livro passa não só pelas indicações que a autora dá sobre como escrever correctamente em português (pontuação, gramática ou ortografia), como também pelos exercícios que se encontram ao longo da obra.

Nota: Apenas como curiosidade, por coincidência, os três autores são docentes na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.


Referências:

Alexandre Pereira & Carlos Poupa, “Como escrever uma tese, monografia ou livro científico usando o Word” – 3ª edição - revista, Edições Sílabo, Lisboa, 2006

Clara Pinto Correia, “Complementos Indirectos – Um Guia Prático para uma Escrita Feliz em Português”, Quasi Edições, Vila Nova de Famalicão, 2007

sábado, 13 de setembro de 2008

Homens do Mar em Portugal I - O Cego do Maio





"DOM LUÍS, por Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, etc.: Tomando em consideração os relevantíssimos e repetidos actos de coragem e de devoção cívica que José Rodrigues Maio, da Póvoa de Varzim, tem praticado, arriscando a vida no salvamento de muitos indivíduos que teriam perecido se não fossem os esforços e verdadeira abnegação de tão benemérito cidadão; e Querendo, por estes respeitos, dar-lhe um público testemunho da Minha Real Munificência: Hei por bem fazer-lhe mercê de o nomear Cavaleiro da Antiga e muito Nobre Ordem da Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito." (cit. em Santos Graça, p.43) O Rei Dom Luís I (1838-1889) condecorava em sessão solene no Palácio de Cristal o cidadão poveiro José Rodrigues Maio a 15 de Dezembro de 1881, por actos de heroísmo no mar. José Rodrigues Maio - conhecido como Cego do Maio -, pescador, tinha nascido a 8 de Outubro de 1817 e faleceu a 13 de Novembro de 1884. "Admirável Lobo marinho da praia da Fabita!... Nascera ali, numa modesta casinha, onde sempre viveu e onde a morte o procurou para o levar. Bem frente ao mar, ao abrir o postigo da porta de sua casa, via sempre, lá adiante, entre a penedia trágica do sul da enseada, como dois tigres de fauces hiantes, as fatídicas pedras Mobelhe e Extremundes, para onde a forte corrente da barra arrastava os desgraçados náufragos, perdidos para sempre no redemoinho das vagas, numa luta desesperada de esgotamento. Foi naquela penedia que o Cego do Maio começou a sua faina de pesca." (Santos Graça, pp.43-44) Experimentou-se entre as vagas do mar que, há 130 anos, era terrível dada a falta de segurança nas costas. Dizia Raul Brandão em 1921: "Como morrem [os poveiros] dizia-o, muito melhor do que eu, o velho cemitério da Póvoa, que já não existe. Ia-se passando de túmulo em túmulo e lia-se sempre: - António Libó, morto no mar; Francisco Perneta, morto no mar; José Mouco, morto no mar... De onde a onde havia uma redoma de vidro com alguns ossos brancos e mirrados que tinham dado à costa. E depois, seguiam-se os letreiros - sempre! sempre! - Domingos Reigoiça, morto no mar; Joaquim Monco, morto no mar... Todos eles vivem no mar - e morrem no mar." (Os Pescadores, p.57) O historiador Oliveira Martins protestava: "Não basta que ao peito do Maio se pendure a medalha de honra, nem que se dêem vinte mil réis ao Sérgio: é necessário que na praia da Póvoa se construam molhes de abrigo - exactamente para não haver mais náufragos a salvar, nem mais heróis a enobrecer." (cit. em Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol.15, p.964) Mas enquanto o Estado não se ocupou destas importantes obras públicas, continuou a existir Cego do Maio que fosse temerariamente com a sua pequena embarcação buscar os náufragos às águas perigosas. Uma vez, conta Santos Graça, ao norte da praia da Fabita, uma vaga fez perder um batel. O barco-vigia conseguiu salvar a tripulação, excepto dois homens que as ondas empurravam contra as rochas. O Cego do Maio, que viu tudo isto, teve o arrojo de se meter pelas altas montanhas de água com dois filhos (Manuel e Francisco) aos remos. O barco ora se perdia ora reaparecia. Finalmente, após algum tempo de combate, uma onda desfaz-se furiosamente contra a areia da praia e vêem-se regressar os poveiros com os homens da companha. A multidão que se juntara a ver entra na água e puxa-os com ânimo. De outra vez, a 25 de Janeiro de 1879, de manhã, tinha-se deitado ao mar uma lancha nova com oito tripulantes, apesar de estar um espesso nevoeiro e o mar agitado. Quatro horas depois, deram à praia os remos e a polé e deduziu-se que houvera acidente. O Cego do Maio atravessou o nevoeiro com os dois filhos e conseguiu salvar ainda cinco pessoas, que trazia no seu barco. Outras façanhas como estas tornaram o poveiro célebre, numa época em que os portugueses, pouco governados pelos homens públicos, se iam amparando uns aos outros pelas praias, planícies e serras do País. A falta de algumas condições mínimas devidas ao trabalho quotidianamente inseguro de muitas pessoas, pela qual reclamava Oliveira Martins, permitiu, no entanto, que personalidades fortes como a de José Rodrigues Maio revelassem as boas características do nosso povo. Teve uma morte estranha este poveiro, segundo a versão de Santos Graça, ouvida a Francisco, filho dele. "E contou-me que o regedor Neta, que era contrário à política do Presidente da Câmara, Pereira Azurar, de quem seu pai era grande admirador e a quem devia benefício, lhe fora pedir o seu voto e o dos filhos. Disse-lhe secamente que não! Seu pai encontrava-se a comer uma tigela de papas encostado a um varal. O regedor agastou-se e ameaçou-o, dizendo-lhe que lhe tirava as farroncas. Seu pai, genioso, não se conteve e atirou-lhe com a tigela de papas" (p.115). Duas horas depois, uma mulher veio avisá-los que vinha aí gente prender o poveiro. O Cego do Maio fugiu e esteve escondido presumivelmente uns dias, porque tinha a casa cercada. Era uma vergonha para os poveiros ir preso ou ficar sob os ferros d'El-Rei. Foi nessa altura que se começou a sentir doente e teve que se acamar. A morte de António da Mata, um arrais de barco de pesca e companheiro de trabalhos marítimos, por essa altura, terá sido, segundo a fonte, um grande choque para o Cego do Maio. Delirou durante oito dias e morreu a 13 de Novembro de 1884, com 67 anos.
Fontes:
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Editorial Enciclopédia Limitada, vol.15, pp.964-965;
Epopeia dos Humildes (Para a História Trágico-Marítima dos Poveiros), A. Santos Graça, Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, 2005, pp.41-47 e 115-116;
Os Pescadores, Raul Brandão, Biblioteca Ulisseia de Autores Portugueses pp.52-57.
A imagem veio do site da Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim: http://ww.cm-pvarzim.pt/biblioteca/.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Aqui há Gato

Não foi por acaso que escolhi as duas obras de Carroll para leitura de férias. De facto, há já uns tempos que congeminava usá-las como preliminares para a leitura de um outro livro, intitulado “A Rainha de Copas”. Esta, é uma obra de divulgação científica escrita por Matt Ridley, autor de “Genoma”.
Este título foi um entre os diversos aconselhados pela docente da disciplina de Estratégias Sexuais. Foi numa das aulas, em que a professora explicava em que é que consistia a hipótese da red queen, que comecei a franzir o sobrolho.
Como em breve se vai entender, o conceito da red queen é baseado num dos contos de Lewis Carroll, e a ideia subjacente a esta personagem é que quando uma espécie evolui, outras espécies que mantêm relações com a espécie inicial terão de acompanhar essa evolução. As relações que refiro podem ser de predação ou parasitismo. Deste modo, se uma presa adquire uma habilidade ao longo da escala de tempo evolutiva para escapar a um predador, este terá de arranjar maneira de acompanhar essa evolução.[1] É por esta razão que também se designa este conceito de corrida ao armamento.
Fazendo uso do livro para melhor me explicar, segue o seguinte excerto:

“Em biologia, este conceito de que todo o progresso é relativo passou a ser conhecido pelo nome de «Rainha de Copas», baseado numa peça de xadrez que a Alice conhece em Through the Looking Glass (Do Outro Lado do Espelho) que corre perpetuamente sem avançar muito porque a paisagem se move com ela [...] Quanto mais depressa o leitor correr, mais o mundo se move consigo e menos o leitor progride.”[2]

E acrescenta-se:

“O significado da Rainha de Copas é que ela corre, mas fica no mesmo lugar. O mundo continua a chegar ao ponto de partida, existe alteração, mas não existe progresso.”[3]

Explicado o conceito da red queen, resta-me apenas explicar o porquê de ter franzido o sobrolho, como acima descrevi. A minha desconfiança não se prende com o conceito em si, mas com a designação. Ou melhor, com a tradução para português da designação. Creio que o leitor mais atento já entendeu onde eu quero chegar, atendendo à explicação dada até agora e recorrendo aos posts anteriores referentes às duas obras de Lewis Carroll. Acontece que a tradução correcta será de Red Queen para Rainha Vermelha, que é a tal peça de xadrez que encontramos em O Outro Lado do Espelho. A Rainha de Copas (Queen of Hearts) é a personagem que é parte integrante de um baralho de cartas, que se encontra em Alice no País das Maravilhas. O mesmo autor, diferentes obras, diferentes personagens.
Não sei se a tradução do conceito deste modo foi intencional ou acidental, mas também não pretendo ajuizar sobre o assunto. Fica feita a chamada da atenção.


Fontes:

Matt Ridley, A Rainha de Copas – O Sexo e a Evolução da Natureza Humana, Gradiva, Lisboa, 2004 – Tradução de Carla Rego

Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas, Abril Controljornal, Biblioteca Visão, Colecção Novis, Linda-a-Velha, Portugal, 2000 – Tradução: Vera Azancot.

Lewis Carroll, Alice do Outro Lado do Espelho, Biblioteca Editores Independentes, Relógio D’Água Editores, 2007 – Tradução: Margarida Vale de Gato

[1] Nota: Quando me refiro a presa e predador, estou a fazê-lo enquanto espécies e não enquanto indivíduos.
[2] Matt Ridley, A Rainha de Copas – O Sexo e a Evolução da Natureza Humana, p.28
[3] Idem, p.75

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Novidades no Direito Marítimo Português II

Continua a faltar em Portugal uma nova lei, possivelmente codificada, que sistematize a matéria relativa ao Direito Marítimo, actualmente "espalhado" em várias normas que, não raro, são dfíceis de conciliar conceptualmente. Também na doutrina portuguesa não há ainda um manual de Direito Marítimo abrangente e actualizado, pelo que as contribuições neste domínio, apesar de ainda insuficientes, vão orientando os juristas que quotidianamente se dedicam aos assuntos marítimos. Neste sentido, foi publicado um novo livro pela Almedina, na Colecção Direito Marítimo e dos Transportes: Da Limitação da Responsabilidade do Transportador na Convenção de Bruxelas de 1924, Hugo Ramos Alves, 2008. Outra editora jurídica, a Quid Juris publicou também um manual: Direito Comercial Marítimo de Luís da Costa Diogo e Rui Januário, 2008. É um livro um tanto abrangente, com breves conceitos, que pode ser um bom guia, mas ainda insuficiente para as grandes exigências quer práticas quer teóricas deste ramo.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Curtas - Eça

Eça de Queirós, um dos maiores vultos da literatura nacional, teve destaque no periódico Get Real. Aí é feita uma breve biografia do escritor, é explicada a sua importância no panorama literário e no contexto da época, terminando com referência a algumas obras da sua autoria.
Não são esquecidas as conferências do casino e a Questão Coimbrã.
As suas obras foram traduzidas para mais de vinte línguas.

O artigo em questão, intitulado Eça de Queirós - Giant of Portuguese Literature, foi escrito por Nuno Mendes e traduzido por Fiona Perris in Get Real, Edition no. 81, August 12, 2008

Leitura em Férias III - "Alice do Outro Lado do Espelho"


Na continuação das aventuras de Alice, segue-se Alice no Outro Lado do Espelho[1], em que a jovem menina decide atravessar para o lado de lá do espelho, após se questionar como seria a vida desse outro lado.
O nonsense literário continua presente neste reino de fantasia. Após atravessar o espelho para outra realidade, a personagem principal vê-se novamente envolvida em situações disparatadas. Se na estória anterior, Alice, desceu para uma toca subterrânea, desta vez a estória passa-se à superfície. Continuam presentes as personagens antropomórficas, mas em vez de estar rodeada de baralhos de cartas humanizados, encontra-se com peças brancas e vermelhas de um jogo de xadrez. O objectivo da menina é jogar o jogo, sendo ela um peão branco, chegar à oitava casa e tornar-se rainha. Para que tal possa acontecer, vai passar por várias peripécias e conhecer novas personagens como Tuidledum e Tuidleduim; o carpinteiro e a morsa, ambos possuidores de um voraz apetite por ostras; Humpty Dumpty, o ovo; o Leão e o Unicórnio; e o cavaleiro branco, com enorme imaginação para invenções. Reaparece a Lebre de Março e o Chapeleiro Maluco, se bem que ambos e Alice parecem não se reconhecer.
Sendo o autor, Lewis Carroll, matemático, aparecem várias referências a essa disciplina, como as inversões, pois no outro lado do espelho tudo se passa ao contrário. As personagens não se recordam apenas do passado, mas também do futuro. Outro fenómeno que ocorre neste mundo de fantasia é que por mais rápido que se corra nunca se abandona o local inicial, pois a terra aí também gira a grande velocidade.
Na minha opinião, este conto, Alice no outro lado do espelho, é mais interessante que o anterior, Alice no País das Maravilhas, pois os diálogos conseguem remeter-nos para reflexões na área da ciência, quase tocando a ficção-científica.
Deixo agora alguns excertos do livro, de modo a entusiasmar a leitura desta esplêndida obra:

« - Bem, na nossa terra – disse Alice, ainda um pouco ofegante, - é costume chegar-se a outro sítio quando corremos muito depressa durante muito tempo como nós fizemos.
- Que terra tão lenta! – exclamou a rainha. – Aqui, como vês, é preciso corrermos o mais depressa possível para ficarmos sempre no mesmo lugar. Se quiseres chegar a outro sítio, tens de correr pelo menos ao dobro desta velocidade!»[2]

Eis a conversa entre Alice e Tuidledim e Tuidledum, quando encontraram o rei vermelho a dormir:
« - Ora, está a sonhar contigo! – exclamou Tuidledim, batendo as palmas de contente. – E para onde pensas que ias se ele deixasse de sonhar contigo?
- Ficava onde estou. – disse Alice, convictamente.
- Não ficavas nada! – replicou Tuidledim num tom de desprezo. – Não ficavas em lado nenhum, porque não passas de um sonho dele!
- Se aquele Rei ali acordasse tu apagavas-te logo... puf!... que nem uma vela! – acrescentou Tuidledum.
[...]
- Bem, não merece a pena falares em acordá-lo, se tu é só um sonho dele – explicou Tuidledum. – Sabes perfeitamente que não és real.»[3]

Diálogo entre Alice e a Rainha Branca:
« - Fraca memória a tua que só funciona às arrecuas. – acusou a Rainha.
- De que espécie de coisas se lembra melhor? – perguntou Alice, um pouco baralhada.
- Oh, das coisas que aconteceram na semana que vem. – respondeu a Rainha, como quem achasse isso normal. [...]»[4]

E que dizer desta conversa que até figurou como flavor text, numa carta antiga, do conhecido jogo Magic, The Gathering:
« Alice não pôde evitar um sorriso, ao dizer:
- Sabes, eu também pensava que os Unicórnios eram monstros fabulosos! Nunca tinha visto um vivo!
- Bem, agora já nos vimos um ao outro – constatou o Unicórnio. – Se acreditares em mim, eu acredito em ti. De acordo?»[5]

Referência: Lewis Carroll, Alice do Outro Lado do Espelho, Biblioteca Editores Independentes, Relógio D’Água Editores, 2007 – Tradução: Margarida Vale de Gato

[1] No original: Through the Looking Glass and What Alice Found There
[2] Lewis Carroll, Alice do Outro lado do Espelho, p.38
[3] Idem, p.61
[4] Ibidem, p.69
[5] Ibidem, p.104

Leitura em Férias II - "Alice no País das Maravilhas"

Num dia quente, junto ao rio, Alice deixa a irmã a ler um livro, enquanto decide seguir um Coelho Branco que havia passado por ela. Alice, a personagem principal deste conto corre, até uma «grande toca» existente debaixo dos arbustos, atrás do estranho coelho que usa um colete e um relógio de algibeira.
A aventura desta pequena menina começa assim que ela desce, interminavelmente, pela longa toca do coelho. Daí em diante, através de bolos, de bebidas, ou ainda através de cogumelos, a rapariga sofre uma série de alterações de tamanho, ora cresce, ora mingua.
É no País das Maravilhas que Alice vai conhecer as outras incomuns personagens, nas mais confusas situações e ter os mais estranhos diálogos. No mar de lágrimas encontra o rato, na corrida eleitoral o Dodo e mais à frente o lagarto Bill. Aparece também a conselheira lagarta azul, sentada num cogumelo, que tranquilamente fuma o seu muito comprido cachimbo de água. À medida que a história se desenrola, a menina conhece a Duquesa, que está sempre a espirrar devido ao excesso de pimenta que a empregada coloca na sopa. Junto ao fogão está um gato que se encontra sempre a rir, o gato de Cheshire, que tornará a aparecer novamente ao longo da história. Na hora da merenda, Alice junta-se ao Chapeleiro Maluco, à Lebre de Março e ao sonolento Arganaz, até à altura em que se dirigirá ao jogo de Croquet. Aí vai conhecer as personagens pertencentes a um baralho de cartas, incluindo a rainha de copas, sempre muito zangada e, a ordenar que se corte a cabeça a quem discorde dela, ou a quem a irrite:
« - Cortem-lhe a cabeça! – berrou a Rainha, o mais alto que pôde.»[1]
A história termina com o despertar da Alice, de um longo sono, e a partilhar com a irmã as suas aventuras oníricas.


Referência: Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas, Abril Controljornal, Biblioteca Visão, Colecção Novis, Linda-a-Velha, Portugal, 2000 – Tradução: Vera Azancot.[2]

[1] Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas, p. 92.
[2] Titulo original: Alice’s Adventures in Wonderland

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Leitura em Férias I – “A Desilusão de Deus”

Finalmente chegaram as férias e com elas algum tempo livre. Tenho agora disponibilidade horária para retomar a leitura de alguns livros que deixara esquecidos no móvel do quarto, como que em função de standby, à espera que uma pequena abertura na minha agenda me permitisse voltar a dirigir-lhes alguma da minha atenção.
Dos vários livros que trouxe comigo, encontro-me neste momento a ler “A Desilusão de Deus”[1], escrito pelo biólogo americano Richard Dawkins. Sendo o autor um ateu assumido, pretende com este livro transmitir a sua opinião sobre a razão pela qual não crê em qualquer tipo de Deus, nem segue nenhuma religião. Para Dawkins, a sua maior inimiga é a superstição, e defende que o ser-humano devia fazer uso da razão e do espírito crítico no seu quotidiano.
Nesta obra encontramos os seguintes capítulos: 1 – Um descrente fervoroso; 2 – A Hipótese Deus; 3 – Argumentos a favor da existência de Deus; 4 – Por que razão é quase certo que Deus não existe; 5 – As raízes da religião; 6 – As raízes da moralidade: porque somos bons?; 7 – O «bom» livro e as mudanças do Zeitgeist moral; 8 – Qual é o mal da religião? Porquê tanta hostilidade?; 9 – Infância, abusos e fuga à religião; 10 – Uma lacuna muito necessária?
Este é um livro sério, e apesar de ser tendencioso (em defesa do ateísmo), o autor consegue não ser fundamentalista ao longo do seu discurso, e na minha opinião isto é de valor:

“Os fundamentalistas sabem aquilo em que acreditam e sabem também que nada os fará mudar de ideia. A citação de Kurt Wise, na página 341, diz tudo: «...se todas as provas do universo acabassem por contrariar o criacionismo, eu seria o primeiro a admiti-lo, mas continuaria a ser criacionista porque é para aí que a Palavra de Deus parece apontar. Daqui não saio.» [...] Por mais apaixonadamente que possa «acreditar» na evolução, o verdadeiro cientista sabe exactamente o que seria necessário para mudar de ideia: provas. Quando perguntaram a J. B. S. Haldane que provas poderiam contradizer a evolução, este respondeu: «Fósseis de coelho no Pré-Câmbrico.» Permita-se-me que crie também a minha própria versão simétrica do manifesto de Kurt Wise: «Se todas as provas do universo se revelassem a favor do criacionismo, eu seria o primeiro a admiti-lo e imediatamente mudaria de ideia. Contudo, da maneira como as coisas estão, toda a evidência disponível (e ela é abundante) dá razão à evolução. [...]»”[2]

Este livro deve ter tido ainda mais impacto nos Estados Unidos da América, onde se vive um enorme fanatismo religioso (na minha opinião quase doentio em alguns casos), para além dos lobbies que as diversas religiões têm junto dos governantes. Escusado será dizer que nesse contexto social os ateus não são muito bem vistos, naquela que se esperaria ser a nação da liberdade de expressão e da tolerância:

“Hoje em dia, o estatuto dos ateus nos Estados Unidos está ao mesmo nível do dos homossexuais há 50 anos. Agora, depois do movimento do Orgulho Gay, é possível, embora ainda não muito fácil, um homossexual ser eleito para desempenhar cargos públicos. Numa sondagem levada a cabo em 1999 pela Gallup, perguntava-se aos Americanos se votariam numa pessoa bem habilitada e que fosse mulher (95% de respostas afirmativas), católica (94%), judia (92%), negra (92%), mórmon (79%), homossexual (79%), ou ateia (49%). É óbvio que há ainda um longo caminho a percorrer, mas os ateus são bastante mais numerosos, sobretudo entre a elite mais instruída, do que muitos possam pensar.”[3]

Então e o que dizer da resposta de George Bush-pai a um jornalista, quando questionado sobre “se reconhecia como iguais o patriotismo e a cidadania dos americanos ateus: «Não, não acho que os ateus devam ser considerados cidadãos, nem que devam ser considerados patriotas. Esta é uma só nação, sob a protecção de Deus.»”[4]

Ainda na mesma página ficamos a conhecer uma história no mínimo caricata, que aconteceu com o professor David Mills:

“Um desses curandeiros que dizem curar pela fé, um cristão que dirigia uma «cruzada milagreira», ia à cidade natal de Mills uma vez por ano. Entre outras coisas, instigava os diabéticos a deitarem fora a insulina e as pessoas que sofriam de cancro a desistirem da quimioterapia, incentivando-as, em vez disso, a rezar por um milagre. Num gesto sensato, Mills decidiu organizar uma manifestação pacífica para avisar as pessoas. Contudo, cometeu o erro de ir à polícia informar os agentes da sua intenção e pedir protecção policial para o caso de possíveis ataques por parte dos apoiantes do curandeiro. O primeiro agente com quem falou perguntou: «É pa’ se manifestar a favor ó contra?» (querendo dizer a favor do curandeiro ou contra ele). Quando Mills respondeu «contra», o agente disse que ele próprio estava a pensar ir à concentração e que fazia tenções de cuspir na cara de Mills quando este passasse à sua frente.”[5]

Mills continuou a tentar contactar a polícia, mas teve sempre como resposta ameaças ou de prisão ou de violência física.


Num país em que há inúmeras religiões, e em que todas pregam uma moral de compreensão, tolerância, amor ou perdão, deparamo-nos com situações destas. Será esta a virtude religiosa que os americanos pretendem seguir?





Nota: A propósito de se falar em curas através da oração, Dawkins refere os estudos científicos realizados sob essa temática nas páginas 90 até 95. É de interesse conhecer como esses estudos foram feitos e a que conclusões chegaram.

[1] Richard Dawkins; “A Desilusão de Deus” – 3ª edição, Casa das Letras, Cruz Quebrada, 2007.
Na versão original tem o título “The God Delusion”.
[2] Richard Dawkins, “A Desilusão de Deus”, p. 29
[3] Idem, p. 17
[4] Ibidem, p.70
[5] Idem

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Recordando Afonso de Albuquerque

Terminei a minha leitura da obra intitulada Afonso de Albuquerque – O Leão dos Mares da Ásia, da historiadora Geneviève Bouchoun. Apesar da existência de várias biografias de Afonso de Albuquerque (1460-1515) em língua portuguesa, estas já se encontravam desactualizadas “devido aos notáveis progressos que a investigação no domínio específico da história indo-portuguesa tem conhecido nos últimos vinte anos”[1]. Além disso, como a autora referiu no prólogo, não existia nenhuma biografia em língua francesa consagrada a Afonso de Albuquerque.
Até à leitura desta obra, o que eu conhecia deste português resumia-se ao que aprendera na escola e em alguns programas de divulgação históricos. Esta obra contribuiu para o preenchimento dessa lacuna no meu conhecimento. Assim, fiquei a conhecer quem foi este Afonso de Albuquerque que havia prestado serviços à coroa e como recompensa recebera o posto de capitão-mor de uma frota da Índia. Para aí foi enviado com uma missão, de tornar-se Governador, trabalhar no sentido do projecto imperial manuelino, implantando o cristianismo por onde passasse.
Neste livro encontrei inúmeras descrições das batalhas realizadas por este bravo lusitano, dos sucessos e insucessos que daí resultaram, e de como fundou feitorias e cidades. A sua personalidade deveu-se à sua educação por pertencer a uma das mais nobres famílias do reino, ter adquirido treino de cavalaria e seguido carreira de armas e ter ouvido os feitos épicos de Alexandre e César. Também não faltam referências às intrigas vividas entre os líderes vizinhos dos vários territórios colonizados, assim como as existentes entre os próprios homens de Afonso. Entre guerras, intrigas e outros tantos dissabores, não foi fácil levar avante o projecto estipulado. Mas Afonso não era homem de desistir e até à sua morte continuou a zelar pela sua missão:

“Quando, por sua vez, foi atingido em Agosto, tratou o seu mal com desprezo, e quando obrigado a recolher à câmara durante onze dias seguidos, os trabalhos afrouxaram. Então, mandou levar a cama para junto de uma janela baixa, que dava para as obras, e daí continuou a dar ânimo aos homens.”[2]

Actualmente tem-se falado que é necessário que os Portugueses se tornem mais empreendedores, recordando a época em que o nosso povo se questionou sobre o que haveria para lá do Oceano e se lançou ao mar em grandes navios. É verdade que fomos pioneiros dos descobrimentos, mas na minha opinião, tão mais prioritário que ousar ou arriscar, é estar pronto em qualquer altura para arregaçar as mangas e trabalhar:

“O rei de Cochim vinha frequentemente observar os progressos da fortaleza. Maravilhava-se com a diligência dos Portugueses, mas não deixavam de o escandalizar esses «homens-faz-tudo» (como dizia), que participavam, todos, activamente nas obras, sem preocupação de hierarquia ou especialização.”[3]

Que nós, Portugueses contemporâneos, caminhemos em frente, tendo como modelo este valente lusitano renascentista, e que consigamos também nós fazer singrar os nossos projectos, ousando e lutando perante as adversidades que possamos encontrar.


[1] Bouchon, G., Afonso de Albuquerque – O Leão dos Mares da Ásia, 2ª edição, Quetzal Editores, Lisboa, 2000, p. 14 – Tradução de Isabel de Faria e Albuquerque
[2] Idem – p. 300
[3] Ibidem – p.65

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Jules Verne - Obras pouco divulgadas I


Jules Verne (1828-1905), ou Júlio Verne em português, foi um escritor francês considerado por críticos como o precursor do género de ficção científica. De facto, conseguiu prever nos seus livros avanços científicos como o submarino ou viagens à lua.
Quando se fala nas obras de Jules Verne, há sempre umas quantas que nos vêm à memória: Viagem ao Centro da Terra, Volta ao Mundo em 80 dias, Vinte Mil Léguas Submarinas, Da Terra à Lua ou A Ilha Misteriosa. No entanto, muitas outras são as obras escritas por Jules Verne e que apesar de tão boas ou melhores que as anteriores, nem por isso são tão divulgadas. Tenciono, pois, falar de algumas destas obras, e hoje debruçar-me-ei sobre o livro intitulado Clovis Dardentor.
Neste livro ficamos a conhecer as personagens Marçal e João que embarcam numa viagem de barco (o Argèlès) para Oran, Argélia, com o intuito de se alistarem no 5º Regimento. É durante a viagem que travam conhecimento com as outras personagens como a desagradável família Desirandelle, o imensamente misterioso Eustáquio Oriental e Clovis Dardentor, personagem em torno da qual se desenvolve o enredo.
Sendo Dardentor um abastado industrial sem herdeiros, Marçal e João tentam colocar em acção um elaborado plano para conquistarem algum do dinheiro ao recente amigo. O plano engendrado consiste em salvar Dardentor de um perigo de vida real, e se tal acontecer, diz a lei que Dardentor terá de adoptar os seus salvadores. Mas tal como acontece no mundo real a vida é irónica, dá muitas voltas e nem tudo se desenvolve como planeado. O mesmo acontece neste magnífico enredo que tenta equilibrar as derrotas e as quase-vitórias de Marçal e João.
Qualquer tentativa de desvendar o final à medida que se vai lendo o livro é inglória, pois o final é surpreendente e ficamos a conhecer a verdade sobre quem é na verdade o Eustáquio Oriental.
Esta magna obra é constituída de aventura, acção, romance e humor. Sem dúvida, um dos melhores livros que li até hoje.

“Marçal Lornans e João Taconnat eram primos co-irmãos por parte de suas mães, que eram irmãs. Parisienses de nascimento, órfãos de pai desde muito pequenos, tinham sido educados com grandes dificuldades de dinheiro. [...] Muito unidos, como se fossem dois irmãos, tinham um pelo outro a mais profunda afeição, uma amizade que coisa nenhuma seria capaz de quebrar, embora entre os dois existisse uma extraordinária divergência de caracteres.” (1)

(1) Verne, Jules; Clovis Dardentor, Colecção Júlio Verne, Livraria Bertrand, Lisboa, 1979 (p. 26).

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Cruzeiro Observação de Aves

Hoje ao caminhar no Parque das Nações reparei numa nova actividade da qual podemos usufruir, sendo esta não apenas de lazer, mas também de relevância cultural. Refiro-me a um Cruzeiro de Observação de Aves do estuário do Tejo.

Diz o folheto o seguinte:

"Embarque no Varino "Castro Júnior" até à Aldeia Palafita dos avieiros da Póvoa de Stª Iria e observe os flamingos, colhereiros e muitas outras aves do estuário do Tejo."

Horário:

Terça a Sexta - 15H
Sábado / Domingo - 11H e 15H

Duração:

Cerca de 3 horas

Preçário:

Adulto - 21€
Crianças - Grátis
Estudantes, séniores, Grupos (+ de 4) e cliente fidelizado - 14€

Como lá chegar? É fácil. Saiam do Centro Comercial Vasco da Gama em direcção ao rio Tejo e é sempre em frente até ao rio.

NaturaObserva

A Cascais Natura - Agência Municipal de Ambiente, promove um programa de voluntariado jovem (entre os 16 e 30 anos) na área do ambiente e da preservação da natureza, designado de NaturaObserva.
Existem seis projectos do NaturaObserva 2008 a funcionar num regime quinzenal de 16 de Julho a 30 de Setembro de 2008:
Projecto Germina (banco genético vegetal autóctone): montagem de um viveiro florestal para propagação de plantas de espécies arbóreas e arbustivas distintas autóctones no PNSC (1); identificação e referenciação de núcleos de vegetação autóctone com interesse de conservação; recolha de sementes e bolotas desses exemplares.
Projecto Guarda-Rios (vigilância de ribeiras): monotorização e caracterização da vegetação ao longo dos cursos de água e suas margens; análise de qualidade de água e solo.
Projecto Javali (trabalhos florestais): controlo de espécies invasoras; desramação em árvores resinosas; podas de formação em árvores folhosas; rega de árvores.
Projecto Gaio (Vigilância da floresta): apoio na vigilância aos incêndios florestais com percursos de BTT em áreas sensíveis do PNSC; observação e registo de avifauna; informação e sensibilização ambiental aos visitantes do PNSC.
Projecto Raposa (pequenas e grandes rotas): instalação de sinalética em locais de interesse biológico, geológico e/ou arquitectónico; manutenção dos percursos pedestres e cicláveis do PNSC; detecção de inconformidades.
Projecto Coruja (recuperação do património arquitectónico): trabalhos de limpeza e desmatação; desenho etnográfico; levantamento fotográfico das estruturas; pesquisa arqueológica.
Mais informações em: http://www.cascaisnatura.org/
Fonte: Caderno de divulgação ObservaNatura - Voluntariado jovem, monitirização ambiental, preservação da natureza.
(1) PNSC - Parque Natural Sintra-Cascais

quarta-feira, 9 de julho de 2008

terça-feira, 8 de julho de 2008

Evolução e Charles Darwin I

Celebra-se em 2009 os 200 anos do nascimento de Charles Darwin, e os 150 anos da publicação da sua obra mais emblemática, “A Origem das Espécies”.
O armariumlibri irá escrever mais sobre este tema e deixará algumas sugestões de leitura sobre o tema Evolução.




Livros técnicos:

D. J. Futuyma, Evolutionary Biology, Sunderland, Massachusetts, Sinauer

Divulgação:

Augusta Gaspar (Coordenação), Clara Pinto Correia (Prefácio) Teresa Avelar, Frederico Almada, Augusta Gaspar, Octávio Mateus (Colaboração), Evolução e Criacionismo – Uma relação impossível, Edições Quasi, 2007

Teresa Avelar, Margarida Matos, Carla Rego, Quem tem medo de Charles Darwin? Relógio D’Água, 2004

Fontes:

On the origins of species
The Descent of Man

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Lisboa antes do Terramoto

O Terramoto de 1755 é um acontecimento que faz parte da História de Portugal, tendo tido grandes repercursões ao longo do nosso País. Há inúmeros relatos do século XVIII sobre como foi sentido e vivido este desastre natural, não só em Portugal como noutros Países da Europa (tal a força da natureza); também posteriormente muito tem sido escrito sobre esta época, desde ensaios, estudos históricos até romances.


O Gabinete de Estudos Olisiponenses está a realizar um levantamento da população até ao ano do terramoto, recorrendo a registos de casamentos, baptizados e óbitos, e encontra-se a estudar "indicadores demográficos como a infertilidade, ou a idade média de casamento".(1) Revela a mesma fonte que "das 34 freguesias pré-pombalinas, já estão identificados os habitantes de três".(1)
Se pretenderem pesquisar estes dados, podem dirigir-se ao seguinte site:
http://geo.cm-lisboa.pt/



(1) Jornal Gratuito, Meia Hora, Lisboa, Ano II, Número 231, 1 de Julho de 2008

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Culinária duvidosa...

Gostava de partilhar com os dedicados leitores deste blog uma história.
Tenho um professor que é uma personagem engraçada (à falta de melhor adjectivo). Imaginem um Belga alto, magro, com um aspecto sério, ajeitando ocasionalmente os óculos no seu nariz, enquanto nos observa com olhar inquisidor. No entanto, no interior daquela postura recta, tem escondido um agradável sentido de humor. Este professor lecciona Bioinformática.
Uma possível definição de Bioinformática pode ser: "Disciplina que consiste na aplicação das ferramenta informáticas, na aquisição, armazenamento, e tratamento estatístico e informático de grandes quantidades de dados de natureza biológica".
O que pretendo partilhar é um exercício, que reflecte o seu sentido de humor:
"Resolve almoçar durante o fim de semana em casa do seu cunhado, uma pessoa conhecida pelo seu gosto culinário duvidoso. Confrontado com um AFNI (alimento funesto não identificado), decide guardar uma amostra. A sequenciação parcial de um gene codificando para RNA ribossomal deu a seguinte sequência: "aagattaagc catgcatgtc tcagtgcaag ccgcattaag gtgaaaccgc gaatggctca ttaaatcagt tatggttcct tagatggtgg acagttactt ggataactgt ggtaattcta". Afinal que comeram?
a) Periplaneta americana (barata)
b) Lumbricus terrestris (lombriga)
c) Homo sapiens (já sabem)
d) Physeter macrocephalus (cachalote)"
Imaginem que se deparam com questões deste tipo a meio do exame. É impossível não esboçar um sorriso.
Nota: Se algum curioso quiser saber a resposta, proceda do seguite modo (o exame é com recurso à internet):
- Dirija-se ao European Bioinformatics Institute (EBI) - http://www.ebi.ac.uk/;
- Clique em Tools, Similarity & Homology, Blast, NCBI-Blast2 nucleotide;
- Escreva: ">seq1", seguido de enter e em baixo coloque a sequência de RNA dada no enunciado;
- Feito isso clique em Run Blast e aguarde o resultado.
Obtém-se a resposta que a alimentação fora à base de Periplaneta americana.