sexta-feira, 26 de junho de 2009

A Grande Festa da Ciência - II

Tal como noticiado este mês no blog, realizou-se no início de Junho, a Grande Festa da Ciência, que decorreu na Escola Piscinas-Lisboa nos Olivais. Informo agora os leitores, que mais informações sobre este evento podem ser encontradas no site do Instituto Gulbenkian Ciência:

http://www.igc.gulbenkian.pt/teaching/static/outreachschools

Agradeço à Doutora Sílvia Castro, cientista no IGC, ter disponibilizado esta informação.

Palestra sobre Selecção Sexual

Aproveito ainda para fazer divulgação de uma palestra, em que a Susana Varela vai ser oradora, a decorrer na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL). A investigadora irá divulgar, de um modo resumido, o tema desenvolvido na sua tese de doutoramento. Seguem mais informações:


Encontros Scientia

“Conspecific copying and the Cultural evolution of preferences:
The selection of breeding commodities through public information, and its consequences to the evolution of species”


SUSANA VARELA

Membro Associado Doutorado do Centro de Biologia Ambiental (CBA)

Abstract


Choosing where to breed and with whom to mate are two of the most important fitness-enhancing decisions in an animal’s life. Animals are thus expected to have developed mechanisms of active preference for those habitats and mates that are more likely to lead to the production of viable offspring. This implies that animals use some information about environmental quality to identify which of the existing alternatives is likely to be the most advantageous.
Four strategies are therefore possible: either they choose independently from conspecifics by relying on the information (1) encoded in their genes, (2) transmitted early in life by their parents, (3) acquired personally by directly assessing the environment, or (4) they choose non-independently, by relying on public information derived from the reproductive performance of conspecifics as a way of reducing prospecting time and, hence, the energy invested in sampling the environment.
Public information or, more specifically, inadvertent social information, has only recently been proposed as a reliable and parsimonious approach to make reproductive decisions. Numerous empirical, theoretical and experimental studies have already provided evidence for the use of this type of information in several species of birds, fish and mammals. With my experiments on Drosophila melanogaster, I provide the first evidence that invertebrates can use public information for choosing mates, suggesting that such a strategy is probably widespread in nature.
One consequence of using PI for breeding habitat and mate selection is the copying of successful conspecific choices by multiple individuals attempting to benefit from the same favourable environmental conditions. The mechanism of mate-choice copying may thus lead to the development of “cultural” preferences for certain habitat and mate types, which may differ from innate preferences, inherited genetically. I will discuss how public and genetic information may balance each other in shaping animal reproductive preferences, and the extent to which culturally transmitted preferences may possibly affect species’ evolution.

4ª feira, 1 de Julho de 2009
FCUL- Edif. C2- Piso 2- Anf. 2.2.14 - 12:00-13:00h

Fora os Dinossauros. Apenas sobre Sexo e Darwin.

O post do meu colega, Rui Castanhinha, foi escrito em boa altura, pois vai servir de ponte de ligação a dois livros, os quais hoje vou divulgar. Uma vez que o Rui é que é o paleontólogo, vou deixar os dinossauros com ele, e hoje vou escrever só sobre sexo e Darwin. Ou melhor, de um modo mais geral, sobre dois temas indissociáveis, a Biologia e o Sexo.

O primeiro livro que aqui trago, é da autoria da Doutora Clara Pinto Correia, com o título “A maravilhosa aventura da vida”. O tema abordado, já carecia de divulgação e peca por tardia. Este é um livro dirigido a todo o público, e de um modo simples e directo, ao bom estilo que a professora Clara nos tem habituado nos seus livros de divulgação científica, explica muitos dos conceitos da Biologia do Desenvolvimento, disciplina que me é particularmente querida, por ser essa a minha especialização.
O que poderão encontrar neste livro? Formação de embriões a partir dos gâmetas (células sexuais), alguns eventos genéticos que ocorrem após a fertilização, formação de novos organismos, e muitas curiosidades sobre o mundo vivo e a história das ciências. Para quem é da área, é sempre bom relembrar a teoria.

O segundo livro que proponho divulgar, é o mesmo referido anteriormente pelo Rui. Da autoria de Charles Darwin (1809-1882), foi recentemente traduzido um dos seus mais importantes livros “A Origem do Homem e a Selecção Sexual”.
Apesar de em “A Origem das Espécies” (1859) Darwin estudar a temática da evolução, ele não aborda a evolução humana, dizendo apenas que mais tarde será feita luz sobre este tema. Com o passar dos anos, outros cientistas influenciados pelo estudo da evolução, querem debruçar-se sobre a evolução humana. Darwin já tinha muitos dados sobre este assunto, que havia recolhido ao longo de vários anos, e achando esta uma altura propícia, publica o livro em 1871 (Inicialmente em dois volumes. Em 1874 o trabalho foi reunido num só volume).
O livro encontra-se dividido em três partes: “A genealogia ou a origem do Homem”, “A selecção sexual” e “A selecção sexual relativamente ao Homem e conclusão”.
Esta é uma obra traduzida, em jeito de celebração dos 200 anos do nascimento do naturalista britânico Charles Darwin. Um grande obrigado à nossa colega Doutora Susana Varela, pela dedicação e empenho na tradução desta majestosa obra.


Referências:
Clara Pinto Correia, “A maravilhosa aventura da vida”, Editorial Presença, Lisboa, 2009
Charles Darwin, “A origem do Homem e a selecção sexual”, Relógio d’Água Editores, Lisboa, 2009 – Tradução de Susana Varela.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Sexo, Dinossauros e Darwin

Sendo 2009 o ano Darwin muito já se tem dito sobre o que o próprio escreveu acerca de imensa coisa, mas sobre dinossauros é muito escaço o material existente.
Aqui vos deixo uma passagem do livro The Descent of Man, and Selection in Relation to Sex publicado em 1971. Esta obra teve felizmente uma novissima edição em Português que foi traduzida pela minha colega Susana Varela. É um excelente livro histórico que vale a pena conhecer. Foi precisamente em 1971 que Darwin apresentou uma outra ideia absolutamente revolucionária: a Selecção Sexual. Pensar-se que as escolhas sexuais dos seres vivos poderiam desempenhar um papel fulcral na evolução de estruturas complexas ou extremamente bizarras era, sem sombra de dúvidas, algum de novo e mais uma vez foi um um choque tremendo. Lembem-se que o sexo foi (quase) sempre um tema tabu nas nossas sociedades ocidentais. A Inglaterra victoriana não era excepção, e vir dizer que quem tem o papel mais importante na escolha sexual é a fêmea... era, no mínimo, complicado. Charles Darwin sempre foi um homem do seu tempo nos costumes, mas quanto às suas ideias ciêntíficas esteve quase sempre à frente de todos os outros, é o melhor exemplo que conhecemos para provar que não é necessário ser-se excêntrico para se ser genial. E como qualquer cientista do seu tempo tambem se interessou por dinossauros, reparem então no que ele escreveu:

« Sabe-se que existiram, ou que ainda existem, grupos de animais que servem para ligar, com maior ou menor intensidade, várias das grandes classes de vertebrados. Vimos, por exemplo, que o ornitorrinco passa gradualmente para o lado dos répteis; e o Professor Huxley descobriu que os dinossauros estão, em muitas características importantes, numa posição intermédia entre certos répteis e certas aves – facto que foi confirmado pelo Sr. Cope e outros –, as quais pertencem à tribo das avestruzes (que evidentemente também são o último vestígio amplamente difundido de um grupo outrora mais vasto) e ao arqueoptérix, estranha ave secundária, com uma longa cauda semelhante à de um lagarto. Além disso, e de acordo com o Professor Owen, os ictiossauros – grandes répteis marinhos providos de barbatanas – apresentavam várias afinidades com os peixes, ou melhor, segundo Huxley, com os anfíbios; que são uma classe que, por incluir na sua divisão mais avançada as rãs e os sapos, é manifestamente aparentada com os peixes ganóides. Estes últimos abundavam durante os primeiros períodos geológicos, e eram formados segundo aquilo a que chamamos modelo generalizado, isto é, apresentavam diversas afinidades com outros grupos de organismos. O Lepidosiren, por exemplo, está tão intimamente ligado aos anfíbios e aos peixes que os naturalistas debateram longamente para decidir em qual destas classes o colocar; tanto ele como alguns peixes ganóides foram preservados de uma completa extinção por habitarem em rios que funcionam como pequenos portos de refúgio, visto que estão ligados às grandes águas dos oceanos da mesma maneira que as ilhas estão ligadas aos continentes. » Citação do livro "A Origem do Homem e a Selecção Sexual" de Charles Darwin, cap. 6, página 182.



É reconhecido todo o mérito aos paleontólogos Richard Owen e Edward D. Cope o facto de já se considerar a hipótese de que as aves e os dinossauros estavam mais realicionados do que à primeira vista se poderia pensar. A ideia não era de Darwin, mas é de facto muito engraçado pensarmos que tamanha beleza e complexidade nas formas possa ser tão semelhante na sua origem.



Obrigado à Susana Varela por ter alertado para esta passagem.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

"Lord of the Flies"

Sobre o livro:

O livro “O Deus das Moscas”[1], de William Golding, retrata a vida de um grupo de jovens que se encontra numa ilha. Sendo eles os únicos sobreviventes de um desastre de avião, sem a presença de qualquer adulto, como será que irão sobreviver? Esta é apenas uma das inúmeras questões que se colocam à medida que vamos desvendando o enredo, página após página.
Perante o livro, o leitor é remetido para a mesma realidade daqueles jovens. Estão juntos numa ilha isolada. À sua volta só existe um infinito oceano. Não possuem meios de fuga. Alimentam-se do que a natureza tem para oferecer. Como se sentirá uma criança ou um jovem numa situação destas? Como confrontará os seus medos? E se o medo se tornar generalizado? Como enfrentar esse terror ao cair da noite, quando só as trevas são perceptíveis e de pouco servem os sentidos, em particular a visão? Questão importante: conseguirão manter a ordem social, ou aproximar-se-ão de um estado selvagem? Qual a ordem que irá prevalecer quando é o medo que governa?
Este é um livro rico em símbolos e metáforas. Desafio o leitor, enquanto estiver a ler o livro, a associar alguns valores sociais e morais às personagens. O que representarão o Ralph, o Piggy e o Jack? Quais os significados que poderão ser atribuídos ao búzio e aos óculos? E os diversos elementos naturais que iremos encontrar ao longo do texto?
Creio que já muitos leitores, pensadores ou académicos se debruçaram sobre esta obra. No entanto, acredito que continua a ser um bom tema de debate, pois, como diria a minha antiga professora de filosofia: “É um tema que dá pano para mangas”.
Após ter realizado uma ligeira pesquisa sobre este livro, encontrei várias referências que afirmavam que temas semelhantes se podiam encontrar noutros livros ou filmes. Fui indagar. Terminei de assistir a um desses filmes, intitulado em português “Nevoeiro Misterioso”[2]. Nesta película, conhecemos a estória de uma neblina pouco comum que, após uma tempestade, se vai aproximando da cidade. Na manhã a seguir à tempestade, a população acorre ao supermercado para adquirir os bens necessários. Enquanto as pessoas fazem as suas compras e colocam a conversa em dia, a misteriosa neblina envolve o exterior do estabelecimento. O suspense inicia-se quando um homem, a sangrar, entra no supermercado, vindo da neblina, e afirma que existe algo monstruoso lá fora. É aqui que começam as semelhanças com o livro. A população encontra-se isolada no supermercado, como os jovens encontram-se isolados na ilha. O exterior do supermercado está rodeado de nevoeiro, assim como a ilha está rodeada de mar até onde a vista alcança. Os adultos sentem-se vulneráveis por a visão não lhes ser útil no nevoeiro, assim como os jovens se sentem vulneráveis por a visão não lhes ser útil quando anoitece. Colocam-se questões semelhantes às do livro: conseguirão controlar-se ou aproximar-se-ão de um estado primitivo?, como irão reagir perante um medo generalizado? Este é, pois, um filme que se vê melhor após a leitura do livro da autoria de Golding. Como nota final, tema semelhante pode encontrar-se também, entre outras obras, no “Ensaio sobre a Cegueira”, do português José Saramago.


Sobre o autor:

William Golding (1911-1993) estudou Literatura Inglesa, em Oxford, e após isso tornou-se professor. Durante a Segunda Guerra Mundial, serviu na Royal Navy. Antes da Guerra havia publicado um livro de poemas, mas só após o seu regresso é que se afirma como grande romancista aquando do seu primeiro romance, “O Deus das Moscas”, que foi considerado um gigantesco sucesso pela crítica internacional, tendo-lhe valido o Prémio Nobel da Literatura. Outras obras do mesmo autor: “Os Herdeiros” (1955), “Pincher Martin” (1956), “Borboleta de Latão” (1958), “Queda Livre” (1959) e a trilogia: “Ritos de Passagem” (1980), “Abordagem” (1987) e “Fogo no Porão” (1989).
Como curiosidade, Golding conheceu o cientista James Lovelock, e juntos discutiram a hipótese que Lovelock andava a trabalhar de que a matéria viva do planeta Terra poderia funcionar como um ser único, e foi Golding que sugeriu a designação de Hipótese Gaia, baseado na deusa da Terra encontrada na mitologia Grega.

[1] No original “Lord of the Flies”, publicado originalmente em 1954.
[2] No original “The Mist”, baseado numa obra com o mesmo nome, do escritor, considerado o mestre do terror, Stephen King.
Referências:
William Golding, "O Deus das Moscas", 2ª edição, Publicações Dom Quixote, Alfragide, 2008 - Tradução: Manuel Marques

sexta-feira, 12 de junho de 2009

"A Grande Festa da Ciência"

Realizou-se no passado dia 9 de Junho “A Grande Festa da Ciência”, na Escola EB2,3 Piscinas-Lisboa, nos Olivais, organizada por João Monteiro, autor deste blog. Esta actividade resultou do compromisso dos autores de levarem a cultura a um máximo possível de pessoas.
Esta iniciativa contou não só com palestras, mas também com actividades interactivas no pátio do recreio, uma vez que o público-alvo eram alunos do 5º ao 9º ano de escolaridade, ou seja, jovens que preferem aprender brincando, tocando e interagindo. Tudo isto só foi possível com o apoio da comunidade escolar e com a participação de várias instituições que aceitaram o convite de vir a este estabelecimento de ensino.
Os três objectivos principais desta organização foram:
- Divulgação científica junto dos alunos;
- Divulgação das Instituições e suas iniciativas junto dos docentes;
- Divulgação das Instituições junto umas das outras para possíveis sinergias futuras.
Assim, dentro das três salas que receberam as palestras estiveram os seguintes oradores: João Monteiro a comunicar sobre o tema “A Evolução de Darwin”, o Jardim Zoológico de Lisboa com “O papel dos Zoos na conservação das Espécies”, o Jardim Botânico de Lisboa com “A adaptação das plantas”, o Lagartagis que falou sobre Borboletas, outros insectos e seu ciclo de vida, e o Instituto Gulbenkian Ciência (IGC) que divulgou o papel desta instituição na investigação científica em Portugal.
No exterior encontrava-se a recém-criada empresa de divulgação científica, “Neurónios Curiosos”, que exibiu diversos modelos de cones vulcânicos, em que um deles simulava mesmo uma erupção utilizando reagentes caseiros, possuindo também fósseis, metamorfoses de anfíbios e insectos e reaproveitamento de materiais. Ao lado, noutra bancada, também o IGC demonstrava os seus modelos interactivos. Um cérebro humano desmontável tentava ser reconstruído pelos alunos, enquanto a investigadora explicava as características genéticas hereditárias. Mas a cereja no topo do bolo foi mesmo a extracção do ADN do morango com reagentes caseiros.
Outras instituições não estiveram presentes mas deixaram o seu contributo, fornecendo posters, informação pedagógica, livros e DVD’s com filmes sobre a natureza. Com a vontade de que iniciativa não durasse apenas um dia, todo este material didáctico foi oferecido à biblioteca da escola, para que os alunos possam consultá-lo em futuros trabalhos. Agradecemos deste modo à Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), ao Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) e à Quercus.
Em suma, esta iniciativa foi um sucesso. Via-se espelhado na face dos jovens alunos a alegria de aprenderem, e, também, sonhos de um futuro, possivelmente, de mãos dadas com a ciência.


Colaboração:
Neurónios Curiosos - http://www.neuronioscuriosos.pt/
Jardim Zoológico - http://www.zoo.pt/
Jardim Botânico - http://www.jb.ul.pt/
Lagartagis – http://www.borboletasatravesdotempo.com/lagartagis.html
IGC – http://www.igc.gulbenkian.pt/
SPEA – http://www.spea.pt/
ICNB – http://portal.icnb.pt/ICNPortal/vPT2007/
Quercus – http://www.quercus.pt/scid/webquercus/

Palestra sobre "A adaptação das Plantas"

O IGC explica a hereditariedade. Extracção do ADN do morango!!