segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Sugestões de leitura

Selecção de interessantes textos que podem ser encontrados no blog De Rerum Natura:

- Análise sobre o estado da educação em Portugal, como resultado de uma conversa de há 25 anos com o ilustre Rómulo de Carvalho: A Educação está sempre mal? - texto de António Piedade

- Referência ao sucesso que têm sido as vendas dos livros Ensaios da Fundação, onde se encontra o livro O Ensino do Português, da autoria de Maria do Carmo Vieira (aqui). - Os autores do ArmariumLibri planeiam falar deste livro em breve.


Aproveito para sugerir também uma rápida leitura no nosso outro blog Raphus cucullatus.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Carlos Almaça (1934-2010) - Remissão

Faleceu no passado dia 3 de Agosto o biólogo e historiador da ciência Carlos Almaça. Sobre este antigo docente da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e ex-director do Museu Bocage, escrevemos uma breve biografia em Raphus Cucullatus - www.raphus-cucullatus.blogspot.com.

Às portas do paraíso

“Heidegger e um hipopótamo chegam às portas do paraíso” (2009), é um livro escrito por Thomas Cathcart and Daniel Klein que explica, através de um diálogo repleto de humor, as reflexões filosóficas de vários pensadores ocidentais sobre a vida, a morte, e a vida depois da morte.
Este é um livro interessante para quem se questiona sobre os temas analisados ou para quem quer conhecer um pouco mais de filosofia. Esta disciplina é aqui tratada de um modo informal e acessível a qualquer leitor. É possível encontrar neste livro o registo de vários filósofos tais como Platão, Descartes, Espinosa, Heidegger, Nietzsche, Camus, Sartre e até mesmo B. Russel.
O capítulo que mais me interessou talvez tenha sido o que faz referência ao conceito de Céu, ou Paraíso. Os autores tentaram compreender a origem deste conceito, e de como evoluiu até às várias concepções que fazemos do mesmo. Por exemplo, analisando o Antigo Testamento constataram que os Hebreus não tinham qualquer noção do que hoje chamamos “Céu” nem da vida depois da morte. Segundo aos autores, quando o profeta Daniel fala de “vida eterna”, refere-se-lhe em termos de ressurreição (1).
Já no Novo Testamento, quando Jesus se refere ao “Reino dos Céus”, ele quer dizer Reino de Deus. Mas como os primeiros cristãos tinham origem judaica, não usavam o nome de Deus por ser considerado demasiado sagrado (2). Assim, o Reino dos Céus, em vez de ser considerado um lugar, deve ser tido em conta como um tempo, um tempo futuro, em que a vontade de Deus se tornaria aceite por todas as pessoas. Como esclarecem os autores, aquando da oração “venha a nós o vosso reino”, entender-se-á venha a nós esse tempo de Deus connosco (3).
Toda esta análise continua até encontrarmos outra ideia que facilmente reconhecemos no nosso imaginário colectivo: S. Pedro com as chaves do Paraíso. Segundo os escritores deste livro, esta ideia surge da junção de duas passagens bíblicas: Jesus diz que dará a Pedro as “chaves do reino dos céus”(4), no Evangelho de S. Mateus; e, de acordo com as visões de João no Livro do Apocalipse, na Nova Jerusalém encontram-se doze portas, sendo cada uma delas paradisíaca – daqui chegamos à imagem de S. Pedro às portas do paraíso.
Também o conceito da estética do Céu varia. Há quem o imagine como um local suspenso nas nuvens, ou então como um magnífico prado relvado. Ambas as imagens chegam ao nosso imaginário colectivo através de representações artísticas da Idade Média e do Renascimento (5). Esta visualização depende ainda da seita ou religião seguida por determinada pessoa.
É claro que o livro aborda outras questões e as várias abordagens por parte dos filósofos ao longo do tempo. A título de exemplo, podemos encontrar as questões sobre o que é viver a vida, a problemática do absurdo da vida, o tema do suicídio, reflexão sobre as vantagens e desvantagens da imortalidade, a relação entre as novas tecnologias e as ciências da saúde, e outros temas.

Fonte:
Cathcart, T. & Klein, D., “Heidegger e um hipopótamo chegam às portas do paraíso”, Publicações D. Quixote, Alfragide, 2010 – tradução de Isabel Veríssimo

Para saber mais:

Notas:
(1) – Como explicado pelos autores, é um regresso à vida, e não a continuação da vida noutro lugar.
(2) – Lembrar de um dos mandamentos do Antigo Testamento, o de não invocar o nome de deus em vão.
(3) – O texto referente a esta discussão pode ser encontrado em: T. Cathcart & D. Klein (2010), pp. 132-143.
(4) – O que se deveria entender é que Pedro iria ter um papel importante no anúncio do novo tempo, ou nova era.
(5) T. Cathcart & D. Klein (2010), pp. 148-164.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

In Memoriam

É com pesar que recentemente vemos desaparecer algumas conhecidas figuras do nosso panorama cultural. O Armarium Libri recorda e homenageia aqui a memória da escritora Matilde Rosa Araújo (1921-2010), do escritor José Saramago (1922-2010), do escritor João Aguiar (1943-2010), do actor António Feio (1954-2010) e do biólogo e historiador da ciência Carlos Almaça (1934-2010). O falecimento de figuras desta qualidade causa sempre prejuízos irreparáveis, cujos efeitos só se podem medir a longo prazo. No entanto, outra geração cá fica para continuar e inovar.

O estranho caso do padre ateu

Muito brevemente, refiro a existência de um livro intitulado “Deus maldito” (1999), escrito pelo teólogo Hermínio Araújo. O próprio título é um irónico jogo de palavras, dirigido aos que fazem uma interpretação literal da bíblia (ou seja, uma interpretação incorrecta) (1), encontrando nela, assim, um deus maldito. Isto porque o deus do Antigo Testamento aparenta ser uma entidade vingativa, que castiga e que destrói (em oposição do deus do novo testamento) (2). Defende o teólogo que esta é uma descrição incorrecta do deus cristão, logo, deus torna-se mal dito (ou, como salienta, dito mal). Deste modo, o padre assume-se como ateu, mas ateu perante este deus “mal dito”. Informa o padre que o verdadeiro deus cristão é um deus de amor e de perdão, e é neste deus que ele crê.

Trata-se de um livro bastante curto e com informação sucinta. São sete os capítulos: 1 –Sou ateu; 2 – Deus inútil; 3 – Deus impotente; 4 – Deus imoral; 5 – Deus injusto; 6 – Deus ilógico; 7 – Amor maldito. Esta técnica, utilizada na apresentação dos capítulos, é a mesma usada em alguns sermões para que a audiência se questione e preste atenção ao modo como o orador explicará as suas afirmações (recordar sermões do padre António Vieira). Assim, o padre desmistifica (ou justifica) cada um dos títulos, ou as concepções erradas de deus.

O padre franciscano escreveu este livro com o intuito de apresentar “tópicos para uma reflexão teológica”(3).

Sobre o autor do livro:
“Frade e padre franciscano. Licenciado em teologia (Lisboa) e especializado em ética teológica (Roma). Reitor do Seminário das Missões Franciscanas. Assistente Nacional da Juventude Franciscana Portuguesa e Capelão da Clínica Psiquiátrica de S. José.” (4)

Fonte:
Araújo, H., “Deus maldito”, Editorial Franciscana, Lisboa, 1999

Notas:
(1) – A Bíblia é um conjunto de livros com uma escrita simbólica, não devendo ser interpretada literalmente. Na introdução da maioria das Bíblias (pelo menos nas católicas) vem a informação de que as mesmas não servem como livros de história nem de ciências, são livros de religião, logo, apenas de crenças. A sua interpretação literal (ou de qualquer livro sagrado) tende a levar ao fanatismo religioso.
(2) – O Antigo Testamento tem uma origem na cultura Semita, e é comum às três religiões ocidentais, a saber: judaísmo, cristianismo e islamismo. O Jesus histórico vem criar uma ruptura epistemológica com esta religião e apresentar uma nova doutrina e, por conseguinte, uma nova cultura, logo, também uma nova visão de deus – o deus cristão.
(3) – Hermínio Araújo (1999), p. 9
(4) – Idem, p. 5

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O Fim da Pobreza

“O Fim da Pobreza” é um livro de divulgação da área das ciências económicas, da autoria do economista norte-americano Jeffrey Sachs. Segundo a tese do autor, é explicado que é possível acabar com a pobreza extrema no Mundo se todos os países se empenharem nessa missão, como acordado no Projecto do Milénio assinado pela comunidade internacional. O Projecto do Milénio foi criado em 2002 por Kofi Annan, então Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). O objectivo desta iniciativa é planear e executar um plano global que permita que vários países atinjam as medidas estabelecidas pela ONU até 2015. São oito, essas medidas, a saber: 1) Erradicar a fome e a pobreza; 2) Conseguir educação fundamental para todos; 3) Promover igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres; 4) Reduzir a mortalidade infantil; 5) Melhorar a saúde maternal; 6) Combater a Sida, malária e outras doenças; 7) Garantir o desenvolvimento em equilíbrio com a natureza; 8) desenvolver uma parceria global para o desenvolvimento.
Mas o que saliento em termos de importância neste livro é a explicação clara dos assuntos abordados, assim como a desmistificação de alguns preconceitos sociais. A mais-valia deste livro é o facto de o autor, no seu currículo, ter muito trabalho de campo, em contacto com as pessoas e com as situações dos países que analisa, quer se trata da Bolívia ou da Polónia quando sofreram hiperinflação, quer se trate da pobreza na Ásia e na África.
Na versão portuguesa, este livro conta com os prefácios do músico Bono, e do padre Vítor Melícias.
Este livro, devido à sua importância (cultural, cívica e humanista), merecerá mais desenvolvimento neste blog, o que, por uma questão de espaço, não nos é permitido fazer agora neste texto.

Sobre o autor:
Jeffrey D. Sachs formou-se na Universidade de Harvard, onde leccionou durante 20 anos. Especialista na área da luta contra a fome, doença, pobreza e a dívida de países do Terceiro Mundo, tem escrito centenas de artigos sobre estas temáticas. É director do Instituto da Terra (Earth Institute), professor na Universidade de Colúmbia, conselheiro especial do anterior secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, e director do Projecto Milénio da ONU. O seu trabalho como conselheiro económico dos governos da América Latina, Europa do Leste, Ásia e África, trouxe-lhe reconhecimento internacional.

Fonte:
Sachs, Jeffrey; “O Fim da Pobreza – como consegui-lo na nossa geração”, Casa das Letras, Cruz Quebrada, 2006 – Tradução de Paulo Tiago Bento