segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O estranho caso do padre ateu

Muito brevemente, refiro a existência de um livro intitulado “Deus maldito” (1999), escrito pelo teólogo Hermínio Araújo. O próprio título é um irónico jogo de palavras, dirigido aos que fazem uma interpretação literal da bíblia (ou seja, uma interpretação incorrecta) (1), encontrando nela, assim, um deus maldito. Isto porque o deus do Antigo Testamento aparenta ser uma entidade vingativa, que castiga e que destrói (em oposição do deus do novo testamento) (2). Defende o teólogo que esta é uma descrição incorrecta do deus cristão, logo, deus torna-se mal dito (ou, como salienta, dito mal). Deste modo, o padre assume-se como ateu, mas ateu perante este deus “mal dito”. Informa o padre que o verdadeiro deus cristão é um deus de amor e de perdão, e é neste deus que ele crê.

Trata-se de um livro bastante curto e com informação sucinta. São sete os capítulos: 1 –Sou ateu; 2 – Deus inútil; 3 – Deus impotente; 4 – Deus imoral; 5 – Deus injusto; 6 – Deus ilógico; 7 – Amor maldito. Esta técnica, utilizada na apresentação dos capítulos, é a mesma usada em alguns sermões para que a audiência se questione e preste atenção ao modo como o orador explicará as suas afirmações (recordar sermões do padre António Vieira). Assim, o padre desmistifica (ou justifica) cada um dos títulos, ou as concepções erradas de deus.

O padre franciscano escreveu este livro com o intuito de apresentar “tópicos para uma reflexão teológica”(3).

Sobre o autor do livro:
“Frade e padre franciscano. Licenciado em teologia (Lisboa) e especializado em ética teológica (Roma). Reitor do Seminário das Missões Franciscanas. Assistente Nacional da Juventude Franciscana Portuguesa e Capelão da Clínica Psiquiátrica de S. José.” (4)

Fonte:
Araújo, H., “Deus maldito”, Editorial Franciscana, Lisboa, 1999

Notas:
(1) – A Bíblia é um conjunto de livros com uma escrita simbólica, não devendo ser interpretada literalmente. Na introdução da maioria das Bíblias (pelo menos nas católicas) vem a informação de que as mesmas não servem como livros de história nem de ciências, são livros de religião, logo, apenas de crenças. A sua interpretação literal (ou de qualquer livro sagrado) tende a levar ao fanatismo religioso.
(2) – O Antigo Testamento tem uma origem na cultura Semita, e é comum às três religiões ocidentais, a saber: judaísmo, cristianismo e islamismo. O Jesus histórico vem criar uma ruptura epistemológica com esta religião e apresentar uma nova doutrina e, por conseguinte, uma nova cultura, logo, também uma nova visão de deus – o deus cristão.
(3) – Hermínio Araújo (1999), p. 9
(4) – Idem, p. 5

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