quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Os Nok

Os Nok

Em 1928 foram descobertas na Nigéria Central (v. este país assinalado a azul no mapa), mais precisamente na localidade chamada Nok, situada “nas colinas do mesmo nome, próxima de Jos, na meseta de Bauchi”[1], várias estátuas de terracota (barro cozido no forno), que são as mais antigas terracotas do continente. Os homens que as produziram – denominados Nok – eram principalmente agricultores sedentarizados que cultivavam o inhame (para alimentação) e produziam óleo de palma, sendo provável que não criavam gado. Parecem ter sido pioneiros também na metalurgia, já que foram os primeiros ao sul do Sara a fundir o ferro. “A língua Nok estava possivelmente ligada à dos Protobantos, que enxameavam toda a África Central e Meridional. (...) Precedendo de vários séculos a cultura de Ifé, a civilização de Nok constitui um elo essencial para o conhecimento da antiquíssima história do continente africano. Nada se sabe sobre como terá desaparecido esta cultura, se de forma brutal ou na sequência de um progressivo declínio.”[2] Os Nok habitaram uma ampla área de “480 quilómetros por 160 quilómetros”[3] a norte da confluência do rio Níger com o Benué, entre cerca de 500 e 200 a. C.

A arte Nok

A sua arte tem algumas características que se devem assinalar. Os Nok representaram pessoas e animais. As cabeças humanas são modeladas segundo as formas geométricas em uso: esféricas, cónicas e cilíndricas; são em tamanho quase natural[4] e as feições são estilizadas. “As cabeças humanas, mesmo quando mostram alguma tendência para o naturalismo, nunca são retratos. Em contrapartida, os animais são tratados de forma realista, o que leva a pensar que as representações humanas se afastam da realidade voluntariamente e não por falta de habilidade dos artistas.”[5] De facto, há estudiosos que sugerem que existia uma recusa em fabricar retratos, pois o modelo poderia ficar exposto à acção de forças maléficas. Ainda assim, há uma preferência pela representação humana, embora tenham aparecido elefantes, macacos, serpentes e carraças.

A Cabeça de Jemaa

A peça considerada mais importante da cultura Nok é a Cabeça de Jemaa, descoberta em 1942. Modelada em forma esférica, a cara é uma superfície lisa, com olhos triangulares e nariz pouco saliente a que adere o lábio superior; os olhos, o nariz e a boca são perfurados e as orelhas estão “no ângulo do maxilar”[6].











A Arte Antiga da Nigéria

A arte Nok precedeu o aparecimento de outras manifestações importantes na Nigéria, como os bronzes de Igbo-Ukwu (IX-X d. C.), os mais antigos da África Ocidental; as referidas estátuas de Ifé (desde, pelo menos IX d. C. até XIV ou XV), em terracota e bronze, os únicos retratos da África Negra, representando monarcas e dignitários; as terracotas de Owo (entre Ifé e Benim), pelo século XIV, de temas macabros; e, já no Benim, estátuas e ornamentos em bronze e adereços cerimoniais de marfim.



No mapa podem ver-se a meseta de Bauchi e Jos, sítio perto do qual fica Nok, no centro país; Ife no sudoeste; Owo a sudeste de Ife; e Lagos - a capital, onde o Museu Nacional guarda estas peças arqueológicas - a sudoeste de Ife e Owo.





[1] Moderna Enciclopédia Universal, Círculo de Leitores, vol.14, p.41.
[2] Memória do Mundo – Das Origens ao Ano 2000, Círculo de Leitores, 2000, p.98.
[3] Idem.
[4] A cultura de Ifé foi, com a Nok, a única que também nos deixou terracotas destas dimensões.
[5] Idem, p.99.
[6] Idem.

Nota: Os mapas vêm da Moderna Enciclopédia Universal, idem, pp. 26 e 27; a imagem da Cabeça de Jemaa vem de Memória do Mundo, p.98.

Sem comentários: