O escritor italiano Emilio Salgari (1862-1911) é uma das referências mais perenes da cultura popular europeia, senão mundial. E, no entanto, como o Charlot que no imaginário do público substituía o Chaplin seu criador, fica muitas vezes na sombra de heróis como o Sandokan. Os livros de Salgari eram um dos supremos prazeres da juventude portuguesa desde o início do século XX, mas o autor terá ficado um tanto esquecido durante os anos ’80 e ’90. Outros heróis mais espectaculares, mas menos humanos, tomaram o lugar das suas personagens: lembramos, ao acaso, o Sangoku, as criaturas bizarras do Pokemon, os X-Men e as Tartarugas Ninja. Porém, há um certo amadurecimento que se consegue com o passar dos anos e dos trabalhos e que devolve aos antigos fãs destes heróis irreais o gosto por uma boa aventura salgariana, em espaços verosímeis, com personagens coerentes e humanas, deixando no leitor uma impressão saborosamente realista da ficção. Falamos assim, pois Emilio Salgari está a regressar às livrarias portuguesas em edições modernas. Para quem não o conhece ainda, este autor nasceu em Verona (Itália) a 21 de Agosto de 1862 numa família burguesa, estudou no Instituto Técnico Naval de Veneza, tendo podido viajar e descobrir o seu talento literário, pois “alguns apontamentos sobre as suas impressões de viagem despertaram nele a vocação de escritor e, em 1883, iniciou-se no periódico milanês La Valigia, com um conto intitulado Os Selvagens da Papuásia.”[1] Fixado na sua terra natal, Salgari começou a publicar em folhetins o romance Tay-See, que em volume teve o título A Rosa do Dong-Giang. “Deu assim início à sua, ao mesmo tempo feliz e atormentada, carreira de escritor”[2]. Casado e com quatro filhos, Emilio Salgari passou a vida preocupado com dívidas e cheio de trabalho, a fazer lembrar o nosso Camilo Castelo Branco (1825-1890), cujo génio literário nem sempre é evidente no meio do afã para assegurar mais uma refeição na mesa familiar. Assim, “da pampa às Caraíbas, da Malásia ao Oeste americano, de África ao Oriente, Salgari povoou a Terra de heróis e heroínas atormentados e arrojados, de injustiças, vinganças e paixões; não importa que nunca tenha sulcado os mares, nem tenha cruzado as selvas (...); não importa que toda a documentação tenha sido obtida na biblioteca pública, nem que nunca tenha sido um herói de verdade. Salgari foi algo mais, foi e é o pai dos heróis, o que permite que todos os seus leitores sulquem os mares, ele que nunca navegou [sic], e combatam a injustiça com a mesma valentia dos heróis com quem sonhou.”[3]
De Emilio Salgari estão disponíveis em Portugal:
Os Mistérios da Selva Negra, Temas e Debates, 2003
O Corsário Negro, Via Óptima, 2009 (ou Temas e Debates, 1997)
O Capitão Tormenta, Via Óptima, 2009
A Rainha das Caraíbas, Via Óptima, 2009
Viagem sobre o Atlântico em Balão, Sopa de Letras, 2010
Notas:
[1] Emilio Salgari, Os Mistérios da Selva Negra, Lisboa, Temas e Debates, 2003, p.5 (nota introdutória sobre a vida de Salgari, que aqui seguimos).
[2] Ibidem.
[3] Ibidem, p.6.
De Emilio Salgari estão disponíveis em Portugal:
Os Mistérios da Selva Negra, Temas e Debates, 2003
O Corsário Negro, Via Óptima, 2009 (ou Temas e Debates, 1997)
O Capitão Tormenta, Via Óptima, 2009
A Rainha das Caraíbas, Via Óptima, 2009
Viagem sobre o Atlântico em Balão, Sopa de Letras, 2010
Notas:
[1] Emilio Salgari, Os Mistérios da Selva Negra, Lisboa, Temas e Debates, 2003, p.5 (nota introdutória sobre a vida de Salgari, que aqui seguimos).
[2] Ibidem.
[3] Ibidem, p.6.
A imagem exposta acima vem da Nova Enciclopédia Larousse, dir. de Leonel de Oliveira, vol.20, Círculo de Leitores, 1999, p.6181.
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