Foi reeditada este mês pela Esfera dos Livros A Sociedade Medieval Portuguesa - aspectos de vida quotidiana, do falecido Professor A. H. de Oliveira Marques. Publicado pela primeira vez em 1964, este livro, que aborda vários temas da vida dos nossos antepassados da Idade Média, teve várias reedições, mas encontrava-se actualmente esgotado. O Prof. Oliveira Marques, competente pioneiro nos assuntos de História Medieval e da I República, analisa aqui a alimentação, o vestuário, as relações de trabalho, os passatempos, a saúde e outros temas, servindo-se quer de fontes primárias (sem descurar o que a literatura e a gravura podem revelar), quer de outros excelentes autores que, antes dele, trabalharam sobre os mesmos assuntos, como Henrique da Gama Barros (História da Administração Pública em Portugal nos Séculos XII a XV, 1885-1922) e António de Sousa Silva Costa Lobo (História da Sociedade em Portugal no Século XV, 1903), por exemplo. A reedição desta obra é tanto mais importante quanto é um facto que faltam outras acessíveis e manipuláveis sobre aspectos da vida quotidiana portuguesa. Entre o que há, podem citar-se um pouco ao acaso e sem esgotar os títulos, as de Nuno Luís Madureira (Lisboa. Luxo e Distinção. 1750-1830, 1990, p. ex.), de José Leite de Vasconcellos, do ponto de vista etnográfico (Etnografia Portuguesa, p. ex.) e os capítulos que sobre isso falam nas Nova História de Portugal e Nova História da Expansão Portuguesa (esta para o nosso antigo Ultramar). Já sem considerar o que nos diz a mera observação da vida, estas incursões científicas vêm provar que não há anedotas da História, nem histórias da História. Qualquer facto pode ser inserido num capítulo da História. Por muito pitoresco que pareça, pode e deve ter um tratamento científico, pois traz uma marca do passado. O que faz falta ir dizendo é que é necessária a submissão de todos os acontecimentos ao estudo científico: a sua crítica e a sua inclusão no sistema organizativo dos temas em História.
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