sexta-feira, 1 de maio de 2009

Alte

Há uns meses atrás, estando eu no Algarve com a família, ficou estabelecido que iríamos dar um passeio. O destino da viagem acabou por ser Alte, local que fui visitar pela segunda vez, e em boa hora, pois trouxe comigo informação para partilhar neste nosso cantinho cultural, que é o armarium libri.

Alte no passado
“Alte – Freguesia, Algarve, comarca, concelho, e 18 km de Loulé, 50 de Faro, 215 ao S. de Lisboa, 800 fogos.
(...) Situado em um profundo vale, entre quatro serros, que apenas lhe deixam descobrir uma pequena nesga do mar, junto a Albufeira, e nas margens da ribeira do seu nome, que corre arrebatada por entre broncas penedias. Esta ribeira tem a sua origem em duas grandes nascentes de água, que ficam a N. E. da aldeia, a uns 250 metros de distância dela, e coisa de 40 distantes uma da outra nascente.
Rega muitas várzeas de milho, pomares e hortas, e laranjais de óptima laranja, que exporta. Desagua no mar.
Igreja boa, de três naves.
A ocupação principal da gente desta freguesia é a lavoura, fazer redes, baraços e outras obras de esparto, as quais vão vender por todo o Algarve. O esparto [as pessoas] vão comprá-lo a Faro, e é por esta cidade que Alte faz toda a sua exportação.
(...) Do serro chamado Rocha dos Surdos, 1 Km ao N. da aldeia, se avista até à cidade de Lagos, a 50Km. Serve de guia aos navegantes.
(...) Há aqui várias matas de zambujeiros e carrasqueiros, e muitos medronheiros, de cujo fruto fazem aguardente.
A serra nesta freguesia toma os nomes de S. Barnabé e Malhão, que são braços da Serra do Algarve.
(...) Na serra há muita caça grossa (lobos, javalis, veados) e miúda.”[1]

No presente
“A Freguesia de Alte (...) estende-se por terras serranas e do barrocal, com a Serra do Caldeirão a erguer a norte. A Rocha dos Soidos, com 482 metros de altitude, é a zona mais elevada da freguesia, tendo outrora servido de referência aos navegantes.”[2]
A aldeia de Alte, já foi considerada a mais típica de Portugal, e é aí que se encontra a Igreja Matriz, provavelmente edificada no século XVI, continuando a ser a mais antiga referência histórica de Alte.












A freguesia de Alte é visitada anualmente por muitos milhares de turistas que, após um delicioso almoço, procuram adquirir “o artesanato tradicional da terra, os doces regionais, os brinquedos de madeira, a olaria e os trabalhos de esparto.”[3]
Quem passear pelos agradáveis jardins de Alte, poderá desfrutar das belas serras envolventes que compõem a paisagem, da refrescante ribeira junto da qual se observam várias espécies de aves, de um parque ideal para merendar em grupo, e de vários poemas da autoria de Cândido Guerreiro (1871-1953), gravados em placas de azulejo espalhadas pelo local. É, portanto, um passeio não apenas lúdico, como também cultural.

Quem foi, então, este Cândido Guerreiro autor daqueles poemas? De nome completo Francisco Xavier Cândido Guerreiro, nasce em Alte em 1871 e morre em Lisboa em 1953. Frequenta o Liceu e o Seminário em Faro, e com 31 anos dirige-se a Coimbra com o intuito de estudar Direito, tornando-se, assim, o primeiro altense com curso universitário. Entre os vários cargos que deteve, é de salientar a sua actividade enquanto presidente da Câmara municipal, tendo a vila de Loulé conhecido grande progresso durante o seu mandato. Desde cedo revela interesse pela poesia, área em que aborda diferentes temas, “filosóficos, eróticos, lendários, históricos e bíblicos”[4]. Na poesia demonstra o carinho que possui pela terra onde nasceu. Muitos dos seus versos encontram-se traduzidos em diferentes línguas e recolhidos em várias antologias.
Este é um interessante caso em que conheci Cândido Guerreiro após ir a Alte, e um modo de conhecer melhor Alte será lendo a obra do poeta.


[1] Augusto Soares d’Azevedo Barbosa de Pinho Leal, Portugal Antigo e Moderno – Diccionario geographico, estatistico, chorographico, heraldico, archeologico, historico, biographico e etymologico de todas as cidades, villas e freguezias de Portugal (...), Vol. I, Livraria Editora Tavares Cardoso & Irmão, Lisboa, 1873, pp. 164-165 – traduzido para português actual.

[2] Site da Câmara municipal de Loulé: http://www.cm-loule.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=125&Itemid=177

[3] Idem

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