quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Fanatismo Religioso

O pastor norte-americano, Terry Jones, de uma pequena igreja evangélica, Dove World Outreach Centre de Gainesville, Florida, decidiu assinalar o 9º aniversário do atentado às Torres Gémeas queimando cópias do Corão, livro sagrado dos muçulmanos. Afirma que pretende “enviar uma mensagem clara aos radicais de que não seremos controlados nem dominados pelos medos nem pelas ameaças”, segundo noticia o jornal i (1). – Agora pergunto eu, quem é que está a ser radical?

Os líderes de várias religiões já se manifestaram. O Vaticano, preocupado, já condenou esta iniciativa afirmando que todas as religiões merecem ser respeitadas (2). O líder religioso da comunidade islâmica em Portugal considera esta atitude um desrespeito pela religião, mas acredita que "no mundo os muçulmanos irão reagir pacificamente e com prudência, fazendo orações a deus para que não haja distúrbios nem complicações nas relações entre países islâmicos e o ocidente", citado pelo jornal Diário de Notícias (3).

O governo norte-americano também já se manifestou, argumentando que se a vontade do pastor persistir, o exército americano no mundo árabe pode correr perigo.

Deixo aqui algo para pensarmos: Uma pessoa é cristã porque foi educada numa cultura cristã. Se essa mesma pessoa tivesse nascido e crescido numa cultura árabe, provavelmente seria muçulmana. Não existe nenhuma religião que seja a correcta. Ainda para mais, tendo em conta que as três religiões ocidentais (Judaísmo, Cristianismo e Islão) têm a mesma origem na cultura Semita (como já referido neste blog). Este fanatismo religioso (seja muçulmano ou cristão) resulta da ignorância das pessoas. Por isso a educação é de extrema importância. Para quando um mundo tolerante? Para quando um respeito sério pela Declaração Universal dos Direitos Humanos?

Termino com uma frase do poeta alemão Heinrich Heine (1797-1856): “Aqueles que queimam livros, acabam por queimar homens”.

(1) - Jornal i, Quarta-feira, 8 Setembro 2010, Ano 2, nº 418, p. 12
(2) - Correio da Manhã, Quinta-feira, 9 Setembro 2010 – versão on-line consultada http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/ultima-hora/vaticano-contra-queima-do-corao  
(3) – Diário de Notícias, versão on-line http://dn.sapo.pt/Inicio/interior.aspx?content_id=1658900 consultado no dia 9-9-2010.

4 comentários:

J. A. Pestana disse...

Também tenho estado com alguma atenção a essa notícia, e realmente é espantoso o quão tacanha pode ser a mente de quem supostamente seria uma figura líder da sua comunidade.

Que o pastor Terry Jones não tem um conhecimento profundo sobre a religião muçulmana, não tenho dúvidas.
Que ele possa ter algum medo do que não conhece, ao mesmo tempo que se apoia fortemente nos alicerces sobre os quais construiu a sua vida paroquial, quase em jeito de justificação para o seu ego que o Caminho que escolheu é o certo, também não me espanta, infelizmente.

O problema é que isso não implica que não possa (ou, dado a sua posição proeminente, não DEVA) ser capaz de respeitar os que pensam de forma diferente da dele.
A instigação de um clima de ódio tão generalizado sobre quem tem como livro sagrado o Alcorão apenas consegue demonstrar, além da estupidez do acto em si, uma falta de empatia que, de certa forma, vai marcando o passo lento a que o "abrir de olhos" da Humanidade progride.
Isto deixa-me triste, mas não perco a esperança que um dia as pessoas se aceitem. Mesmo com mentes pequeninas como a de Terry Jones a dificultar a coisa =)

João Lourenço Monteiro disse...

Bem, que maneira espectacular de começar o dia, ao ler um comentário teu!! ;)
É com enorme alegria que digo bem-vindo ao blog :D e já agora, obrigado pelo comentário.

Tocaste em vários pontos importantes. Não se trata apenas de intolerância de um adepto de uma religião face a outra diferente. A gravidade é que a intolerância parte de um líder religioso, que ao incitar este ódio está a ir contra os próprios ensinamentos cristãos, que deveria defender. Pelos vistos, para além de revelar desconhecimento de uma religião diferente, demonstra não praticar os valores da sua crença.

Eu, que sou bastante crítico de algumas atitudes/discursos do Vaticano, valorizo os passos que têm sido dados sensivelmente nos últimos 100 anos na aproximação à sociedade e às outras religiões. Refiro-me ao Concílio Vaticano II e ao Ecumenismo (que se reflete no diálogo inter-religioso), respectivamente.

Eu estou convicto que atingiremos esse período, que tu referes, em que as pessoas se aceitarão apesar das suas diferenças. E isso será possível, em parte, através da educação. Outro meio de atingir esse estado de compreensão e aceitação passará também pelo diálogo e por conversas como a que estamos a ter ;)

Mais comentários teus continuarão a ser recebidos com enorme agrado.

J. A. Pestana disse...

A verdade é que, pelo menos no que toca à comunicação e interajuda com os outros, todas as religiões, todos os profetas dizem mais ou menos a mesma coisa, give or take :P

Este mundo está cheio de gente a não cumprir os valores da sua crença... por outro lado, se formos rígidos nessa questão, então prepara-te para começares a espancar muita gente no meio da rua, porque muita alarvosidade é escrita em milhares de anos de "interpretações", "re-interpretações" e agendas pessoais escondidas :P
Com isto, o que eu quero dizer é que acho que o problema desse pastor não reside em seguir a fé mais ou menos à letra (não posso defender isso, nem que seja pelos milhares de exemplos em que eu agradeço que tal não aconteça! :P), mas sim numa maior consciência, mais expansiva e sensata, e acima de tudo, ciente da total responsabilidade dos nossos actos.

Há que saber "tirar o suminho" bom de cada religião, aquilo que é verdadeiramente útil para nós... e isso todas têm algo positivo a transmitir =)

João Lourenço Monteiro disse...

Estou de acordo. Mas isso exige das pessoas capacidade de discernir o que é bom e mau dentro de cada religião; mas como isso é capaz de dar algum trabalho intelectual, receio que as pessoas optem pelo mais simples, seguindo a religião segundo a qual foram educadas e defendo o que a doutrina tem de mau do mesmo modo que defendem o que tem de bom, e assim chegamos ao fanatismo.
E há ainda uma outra questão: o que é o bom e o mau, numa religião? Haverá uma resposta objectiva a esta pergunta? Haverá só bom e mau, ou poderá haver algo intermédio? Duvido que a maioria das pessoas tenha interesse em reflectir nisto.
Mas concordo com a tua sugestão final, acho que é bastante tolerante ;)