segunda-feira, 27 de junho de 2011

Darwinismo na Literatura II

Parte 1 - O livro "Fragmento"

Uma equipa de biólogos participa num reality show, o Sea Life, que pretende dar a conhecer a vida dos investigadores numa missão científica por ilhas que, embora conhecidas, envolvem um certo encanto e fascínio, seja por estarem envoltas em misticismo, seja por serem associadas a importantes contributos históricos para a ciência, como a ilha da Páscoa e as Galápagos.

O programa que foi um enorme sucesso no início, tal era a expectativa, rapidamente começou a perder audiências porque os cientistas recusavam-se a fazer números de espectáculo para as câmaras, dedicando-se a realizar o seu trabalho. Mas tudo isto parece mudar quando o navio recebe um pedido de ajuda, sendo necessário alterar a rota para tentar socorrer uma embarcação em perigo. Assim, dirigem-se à ilha de Henders, uma enorme fortaleza rochosa, que havia sido descoberta pelo capitão Henders mas da qual existia pouca informação, para além de estar assinalada no mapa e dos parcos registos do diário de bordo do capitão.

Enquanto se tentava descobrir mais informações sobre a embarcação em perigo, alguns cientistas aventuraram-se no interior da ilha, tendo sido inesperadamente atacados e selvaticamente chacinados por criaturas misteriosas. Muito poucos foram os sobreviventes que conseguiram regressar ao navio, o programa foi retirado do ar e as autoridades cercaram o local para tentar descobrir o que realmente se havia passado.

Passados uns dias foi enviada uma nova equipa de cientistas ao local, cépticos do que tinham visto passar na televisão, acreditando que tudo aquilo não passara de uma manobra televisiva para aumentar audiências. Este novo conjunto de cientistas juntou-se aos militares que já tinham desembarcado na ilha e que os aguardavam num laboratório com a mais recente tecnologia. Após terem sido colocados a par do que realmente havia acontecido, formaram-se diferentes grupos de trabalho.

Um desses grupos analisou no laboratório o comportamento de algumas espécies capturadas, e constatou que a vida naquela ilha era extremamente diferente da que se conhece. Mesmo as mais básicas regras de ecologia não eram verificadas naquele local: normalmente na natureza encontra-se um grupo de seres vivos classificados como produtores (e. g. plantas) que servem de alimento a outros animais, que serão as presas, e estes servirão de alimento a outros seres, os predadores. Mas o que se observava na ilha contrariava esta lógica, ali as criaturas eram simbiontes de plantas, fungos e animais, e todos esses seres alimentavam-se belicamente uns dos outros, e até de indivíduos da mesma espécie.

Os cientistas e os militares tentaram colocar os mais ferozes predadores que podiam ser encontrados na nossa natureza naquele meio hostil, mas a verdade é que duravam poucos minutos em confrontos com aquelas criaturas sanguinárias. Cedo, os governantes que acompanhavam a situação aperceberam-se que se uma daquelas criaturas entrasse em contacto com o nosso mundo, verificar-se-ia a uma alteração drástica da natureza tal como a conhecemos. Tornava-se então necessário destruir imediatamente toda a vida naquela ilha. Esta solução imediatista parecia reunir consenso entre governantes, mas não tanto entre cientistas devido às questões éticas levantadas. E toda a situação se tornou mais complicada, quando se descobre vida inteligente.

Trata-se de um livro com humor, que aborda questões ambientais e ecológicas, e também de valor moral e ético. Encontramos questões como: Em que circunstâncias temos direito de extinguir vida diferente da que conhecemos? O facto de serem prejudiciais para nós ou para a natureza que nos rodeia é justificação? Não será também essa vida parte da natureza, apesar de possuir um ecossistema diferente? E no caso de vida inteligente? Podemos matar todas as espécies menos as espécies inteligentes? Só por ser inteligente é justificação? Só por isso terá mais direitos? É também um livro que trata da temática da liberdade de escolha, como essas escolhas influenciam a vida dos outros, e de como por trás de qualquer opção se encontra uma elevada dose de responsabilidade. As diferentes personagens revelam o que há de melhor e o pior na humanidade.

Bibliografia:
Warren Fahy, “Fragmento”, Porto Editora, Porto, 2010 – Tradução: Fernando Dias Antunes

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