terça-feira, 20 de janeiro de 2009

As Pupilas do Senhor Reitor

José das Dornas, velho agricultor, é pai de dois filhos, Pedro e Daniel. Pedro, o mais velho, é detentor de robusta figura, enquanto seu irmão mais novo, Daniel, em oposição, é uma frágil criatura de aparência.
Mediante estas características que adjectivam a compleição da prole, o pai prevê que Pedro tem todas as condições para seguir o seu trabalho nos terrenos, mas cuida do que poderá ser o futuro do seu outro filho. Com receio de que o franzino possa sucumbir ao trabalho do campo, entrega-o ao senhor Reitor, António de nome, para que lhe dê educação de modo a torná-lo um futuro padre.
De início, Daniel dá-se bem com as lições e revela uma enorme capacidade de aprendizagem, mas cedo se percebe que este não é o melhor caminho para um jovem, que já de novo, pretende passar o tempo com uma rapariga, Margarida. De modo a que o filho não perdesse o rumo aos estudos, o pai decide enviá-lo para o Porto, com o intento de ingressar no curso de Medicina.
O tempo passa e os filhos crescem. Pedro, com vinte e muitos anos, finalmente decide casar-se, com Clara, irmã da Margarida. Por essa altura, Daniel, seu irmão, regressa do Porto, já licenciado, e com ideias novas, que são estranhas para os da terra.
O pai comenta com um dos vizinhos, as ideias que o filho defendera na tese. Uma delas, que muita estranheza causa, é a dos homens serem macacos. O pai tentara explicar a evolução humana, conceito estranho para as gentes da terra, que não tinham tido acesso a uma educação digna, nem qualquer contacto com alguma iniciativa de divulgação científica. De facto, vivendo no interior, longe das grandes cidades, numa pequena terriola em que todos se conhecem, sem contacto com as novas ideias do exterior, o pouco conhecimento de que se alimentam é o dos evangelhos e da superstição. Devido a estas condicionantes, nem o pai consegue explicar, nem o receptor tem abertura de espírito para entender tais ideias. Segue o excerto:

“- [...] Mas o sr. João admira-se? E então se eu lhe disser que ele provou também que um homem é a mesma coisa que um macaco?
João da Esquina fechou com impetuosidade o livro dos assentos.
- Irra! Está a caçoar comigo, sr. José? Ele podia lá dizer semelhante coisa!
- Pergunte-o ao sr. Reitor, que assim o explicou; pergunte, se não acredita.
- Eu não, pois... Macaco! Então eu sou macaco? Então vocemessê é macaco? Então ele é macaco? Então nós somos... ora, isso não pode ser.”[1]

João Semana, o velho cirurgião da aldeia, mesmo esse tem contendas com Daniel acerca dos preceitos de exercer a profissão. É a medicina moderna, contra a medicina do velho cirurgião, a teoria contra a prática.
Um dia, Pedro leva Daniel a conhecer sua futura mulher, Clara, de quem está noivo. Daniel, após tantos anos de ausência, não reconhece que Margarida, irmã de Clara, é a mesma rapariga por quem nutriu sentimento de paixão durante a sua infância.

Este irmão mais novo, jovem sempre apaixonado, encanta-se com tantas raparigas, e por supérfluos sentimentos se deixa levar. Até por Clara, noiva de seu irmão Pedro se julga apaixonado. Como terminará esta história? Estará mesmo Daniel destinado à sua Margarida? Será que desposará Clara? De que modo esta confusão de sentimentos irá afectar a relação dos dois irmãos? Aproximar-se-á uma desgraça junto desta família?
Coíbo-me, neste momento, de mais revelar sobre a obra, deixando entregue ao leitor o prazer de mais saber sobre a estória.
Boas leituras.

[1] Júlio Dinis, As Pupilas do Senhor Reitor, Obras Completas de Júlio Dinis, nono volume, Círculo de Leitores, 1980

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