sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

"Como nos tornámos humanos?"

Para o Luís

Pretendo com este texto, deixar um breve resumo do que foi falado na conferência que ocorreu no dia 21 de Janeiro de 2009,na Fundação Calouste Gulbenkian, com o título “Como nos tornámos humanos?”, proferida pela professora Eugénia Cunha da Universidade de Coimbra.
Contributo de Darwin para o estudo da evolução.
A ideia de que os animais não são imutáveis já era discutida no século XVIII, mas ganha maior importância no século XIX com Charles Darwin (1809-1882) e uma das suas mais importantes obras A Origem das Espécies[1] (1859), em que explica que a evolução das espécies ocorre através de um processo designado de Selecção Natural. Aqui, apesar de ser discutida a evolução não só das espécies animais como também das plantas, Darwin evita abordar a temática da evolução humana, apesar de possuir dois cadernos de apontamentos referentes ao assunto. Este motivo viria a ser tratado posteriormente em Descent of man (1871).
Humanos e outros símios.
Darwin já afirmara que os humanos eram uns dos muitos símios. Mas então coloca-se a questão: o que nos distingue dos outros símios? Somos bípedes, temos grandes cérebros e colonizámos todo o Mundo. Mas esta resposta não é suficiente.
Somos de facto os únicos primatas bípedes. O Bonobo, por mais que se estique, não consegue ficar em pé, e com o bipedismo conseguiu poupar-se energia. Temos cérebros maiores (cerca de três vezes maiores) do que seria de esperar num primata de igual tamanho corporal. Mas sabendo que o cérebro é muito caro em termos energéticos, é necessário obter energia, que será conseguida através da comida (dieta), que é obtida através da locomoção. Está tudo interligado! Ingerir carne e alimentos cozinhados na dieta também possibilitou o aumento cerebral, mas este factor não é suficiente por si só. São várias as causas, como vamos ver, a actuarem para o aumento do cérebro. “O aumento do cérebro parece ter sido contrabalançado por uma concomitante redução do aparelho gastrointestinal”, também ele responsável por um enorme gasto de energia. Assim se explica que uma mudança na dieta poderá ter possibilitado o aumento do cérebro. Recentemente, foi descoberto um gene responsável pelo crescimento do cérebro. No entanto, o mais provável é que tenham havido várias alterações em muitos genes. Para este caso, um grande avanço foi dado com a sequenciação do genoma do chimpazé, que é o nosso parente mais próximo, como retratado num dos números da Nature em 2005. Estas alterações terão levado a que os nossos ancestrais com cérebros maiores, terão tido vantagens selectivas. No entanto, para além do genoma, bipedismo e tamanho do cérebro, há um outro factor que permite-nos distinguir dos outros símios, que é a linguagem. Não é possível exercer um pensamento estruturado sem uma linguagem mais complexa, o que leva a uma maior socialização. O gene FOXP2, ligado à linguagem, terá sofrido duas mutações sucessivas há 2 milhões de anos. Apesar de este gene também estar presente nos chimpazés, acontece que é expresso de maneira diferente.
Evolução Humana
Durante a palestra, muito tempo foi dedicado a esta temática, mas não pretendo alongar-me muito mais neste texto, tentando apenas realizar uma breve síntese das várias espécies humanas tratadas, juntamente com algumas informações.
África é considerada o berço da humanidade, e de facto, já havia sido proposto por Darwin, devido à proximidade com gorilas e chimpazés.
Os primeiros hominídeos apareceram a oriente do rifte africano. Toumai (siginfica esperança de vida – Hope of life); do Homem do Milénio (por ter sido encontrado em 2001) não se encontrou nenhum crânio, só peças craniais e fósseis de ossos que revelam bipedismo; Ardipithecus; Australopithecus afarensis (Lucy, é o exemplar mais conhecido) teria a estrutura de uma criança normal, 3,3M.A.; Australopithecus africanus, fóssil de uma criança com cerca de três anos; Paranthropus robustus, 2M.A.; Homo habilis (significa habilidoso, devido ao fabrico de utensílios de pedra) e Homo rudolfensis; Homo ergaster, realizam a primeira saída de África de um modo natural, pois sendo caçadores-recolectores, seguiram as rotas migratórias dos animais de que se alimentavam; Homo erectus (colonização da Europa); Homo antecessor, há mais de 750 000 anos, descobertos em Espanha e Itália; Homo heidelbergensis, descobertos na Alemanha esqueletos completos de 35 indivíduos, os ossos estavam dispersos e não estavam enterrados; Homem de Neandertal, nasceu na Europa e habitou também o próximo Oriente, praticavam enterramentos, o que revela consciência da morte e consciência do Eu. Sequenciação de ADN mitocondrial de vários Neandertais revela que estes não são nossos “avós”, separámo-nos há mais tempo. Convivemos muito tempo, ao mesmo tempo, e há a possibilidade de ter havido cruzamentos ocasionais. O Homo sapiens sapiens aparece no Quénia e na Etiópia, só chegando à Europa há aproximadamente 36000 anos, e já os Neandertais lá existiam.
E assim fica uma simples lista dos antepassados humanos. Contudo, nunca é de mais esclarecer (ou relembrar) que a evolução não é um processo linear, isto é, uma espécie não se extingue para originar outra. Pelo contrário, a evolução é ramificada, como os ramos de uma árvore, em que várias espécies podem coexistir, como foi o caso dos Neandertais e do Homo sapiens.

[1] De título completo: Sobre a Origem das Espécies através da Selecção Natural, ou a Preservação das Raças Favorecidas na Luta pela Vida

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