Este post poderia também ter sido intitulado de Tesouros Esquecidos.
Tesouros esquecidos porque numa biblioteca há livros pelos quais passamos e neles nunca pegamos. Alguém os leu e lá os colocou, em repouso, aguardando nova visita. É exemplo deste livro de que falarei.
A biblioteca é a do meu avô. Biblioteca é uma hipérbole que uso para descrever uma fila de prateleiras, numa apertada casa, onde descansam os livros que o meu avô já só a muito custo é capaz de ler. O livro, que me acompanhou neste dia chuvoso de Fevereiro, até nem estava escondido. Destacado de todos os outros, esperara pacientemente por alguém que se recordasse da sua existência.
Da autoria de Francisco Moita Flores, O Carteirista que fugiu a tempo[1] conta a estória de um conjunto de indivíduos, do mais baixo estrato social, que descontentes com a vida que levam, ousam aventurar-se numa ambiciosa escalada até ao nível das elites do país. Fred Astaire, conhecido por esse nome devido ao seu talento para a dança, recorda os áureos tempos em que praticava a arte de fazer sumir as carteiras dos “otários” que encontrava na rua ou nos transporte públicos. Com o advento das caixas multibanco, as pessoas deixaram de carregar quantias consideráveis de dinheiro consigo, tornando-se assim o carteirismo uma profissão (ou arte) com os dias contados. Como resultado do avanço das tecnologias, Fred vê-se forçado a abandonar a sua outrora recompensadora profissão, para mendigar nas ruas de Lisboa. É aqui que conhece casualmente uma prostituta, Gabriela, que ulteriormente o apresenta a um drogado, o “Doses”, a um ex-polícia, o Messias, e a um ex-bancário, o “Porcalhão”. Juntos, sob a liderança de Fred formam uma quadrilha. Após um assalto gorado a um banco, arranjam um estratagema para subir na vida, através de concursos televisivos e várias tramóias à mistura.
Cabe agora ao leitor descobrir, mergulhando neste enredo, se as personagens conseguirão atingir o seu propósito. Permanecerão juntos? Terão conseguido enriquecer? De que modo usarão o dinheiro?
F. Moita Flores é licenciado em História, autor de diversos livros, presidente da Câmara Municipal de Santarém. No entanto, foi a sua experiência enquanto investigador na Polícia Judiciária, que lhe terá permitido conhecer a fundo, a vida dos marginais da sociedade. Essa experiência encontra-se reflectida nesta obra, podendo ser facilmente encontrada na gíria utilizada pelas personagens.
[1] Francisco Moita Flores, O Carteirista que fugiu a tempo, 5ª edição, Editorial Notícias, Lisboa, 2002
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