quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

História Regional de Portugal III - A vida quotidiana na Ericeira de 26 de Setembro de 1909 a 31 de Agosto de 1916

A Ericeira é uma vila marítima portuguesa pertencente ao concelho de Mafra e ao distrito de Lisboa. Tem praia, aliás muito conhecida, um pequeno porto de pesca, uma nascente de água mineral e alguns monumentos que, à semelhança de outros no nosso País, nos recorda a beleza do nosso passado - por exemplo, um pelourinho manuelino, a Igreja de S. Pedro - restaurada no tempo do Magnânimo -, um cruzeiro de 1782, a ermida de Santo António - com azulejos de 1789 representando este Santo e também a Nossa Senhora da Boa Viagem -, e um forte do tempo de D. Pedro II. Regista ainda a memória dessa terra alguns acontecimentos importantes como o embarque da família real para o exílio, após a revolução de Outubro de 1910 - que celebra um século no ano que vem -, o estabelecimento da corte de um D. Sebastião regressado, cujo verdadeiro nome era Mateus Álvares, morto no cadafalso em 1584, e o desembarque do Prior do Crato que vinha derrubar Filipe de Espanha. A vila, que em 1991 contava cerca de 4500 habitantes (N.E.L., v.9, p.2638), é muito antiga - data de 1129 um foral dado por D. Frei Fernando Rodrigues Monteiro, grão-mestre da ordem de Avis, depois confirmado por D. Dinis e renovado por D. Afonso IV e D. Manuel. Dela diz a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira (c. 1940), v.9, p.932: "A Ericeira é uma praia fartamente concorrida no verão. A pov. fica apinhada no alto de uma arriba, num emaranhado de pequenas ruas, em volta de uma praça (Jôgo de Bola). Sobre o Oceano levantam-se alguns terraços. As praias de banhos são duas, a do Norte a do Sul, abrino-se entre elas o portinho da Ribeira, com os cais em declive, onde varam as embarcações pesqueiras. Sobranceiro à praia há um forte, que foi edificado por D. Pedro II. Na costa, entre os rochedos, há curiosas furnas, produzidas pelos desabamentos da costa e a erosão marítima." Manuel Pinheiro Chagas (1842-1895) dedicou a esta terra um romance: Tristezas à Beira-Mar, 1866 e Raul Brandão faz-lhe uma descrição como colaborador do Guia de Portugal (1ºvol., 1924, pp.570-571, cujo animador principal era Raul Proença (1884-1941), director e coordenador). Arreliado, o poeta satírico Nicolau Tolentino de Almeida (1740-1811), desabafava: "Contra o mal que me têm feito/Raivosos caniculares/Me oferece a fresca Ericeira/Seus claros, sadios mares. (v. o mesmo Guia, p.569)". Apresentada ou recordada que está a vila da Ericeira, permitimo-nos avançar para o assunto principal. Uma das mais importantes fontes para o estudo das terras, e especialmente para quem se debruce sobre as mal-estudadas e pertinentes matérias da História Regional, é a imprensa. Divulgando acontecimentos nos vários locais do Mundo, quer fossem novas descobertas científicas, quer fossem novidades na Arte ou outras, ficaram-nos como o espírito das épocas passadas, reflexo das preocupações e sensibilidades dos nossos maiores, tal como nós nos nossos jornais e revistas estamos deixando as nossas. Neste contexto, o jornal semanário "Mala da Europa", fundado em Agosto de 1894, "com edição para o Brasil e possessões portuguesas" (G.E.P.B., vol. 15, p.982), tinha a função de dar a conhecer aos portugueses espalhados pelo Mundo notícias sobre os seus compatriotas. "A intenção era, agora, a de estreitar relações entre «Portugueses de todos os continentes». Mantinha-se, contudo, o essencial da anterior atitude perante a vida política: liberal, patriótica, independente e suprapartidária. (...) Desde o primeiro número, uma secção local referente à metrópole, com subtítulos de cidades e vilas portuguesas, e uma outra "Através da Europa", ocupavam lugar destacado em termos de espaço (...). À partida, a intencionalidade informativa (e não tanto interpretativa) era dominante: tratava-se de dar a conhecer aos Portugueses espalhados pelo mundo notícias dos seus compatriotas que viviam noutros lugares - com destaque, naturalmente, para os do Portugal metropolitano -, dos seus conterrâneos cujo contacto se perdera na distância. O estreitar de laços entre as comunidades portuguesas era conseguido pela fixação e difusão de fragmentos de memória local e regional, memória imediata dos homens , de pequenos eventos da vida quotidiana, de afectos - a alimentar a saudade da terra natal." (A Vida Quotidiana na Ericeira, pp.10-11). (Continua...)

Fontes:
  • Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Editorial Enciclopédia Limitada, vol.9, pp.931-933 e vol.15, p.982;
  • Nova Enciclopédia Larousse, Círculo de Leitores, vol.9, p.2638;
  • Guia de Portugal - Lisboa e Arredores, Fundação Calouste Gulbenkian, pp.569-572;
  • A Vida Quotidiana na Ericeira nos Começos da I República - vista através da correspondência de Jaime Lobo e Silva para a "Mala da Europa", Mar de Letras, col. Lugares de Memória, 1998.

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