segunda-feira, 23 de março de 2009

Sobre Evolução – IV – Darwin

Conhece Darwin?[1]
Charles Robert Darwin nasce em Shrewsbery em Fevereiro de 1809, filho de Robert Waring Darwin (médico) e Susannah Wedgwood. A sua mãe falece quando ele tem oito anos, tendo sido criado pelas suas três irmãs mais velhas. Neto de Erasmus Darwin, poeta, médico e um dos primeiros pensadores evolutivos e também do ceramista Josiah Wedgwood. Ambos contribuíram grandemente para a revolução industrial e florescimento intelectual do século XVIII. É assim «criado numa atmosfera familiar intelectual e científica e onde a liberdade de pensamento era cultivada.»[2]
Em Janeiro de 1839 casa-se com a sua prima e amiga de infância Emma Wedgwood, com quem tem diversos filhos: William, Anne, Henrietta, George, Elizabeth, Francis, Leonard, Horace e Charles.
Sobre a Origem das Espécies através da Selecção Natural, ou a Preservação das Raças Favorecidas na Luta pela Vida, da autoria de Charles Darwin, é publicado numa quinta-feira, dia 24 de Novembro de 1859, em Londres. Pela altura da morte de Darwin haviam sido publicadas seis edições desta obra, com ligeiras alterações, sendo que a expressão sobejamente conhecida «sobrevivência do mais apto» só aparece, pela primeira vez, na 5ª edição (1869).
Darwin morre em 1882, com 73 anos, tendo sido sepultado na abadia de Westminster, em Londres.
Sobre a Evolução pela Selecção Natural
Darwin afasta-se de Erasmus e Lamark, porque, ao contrário deles, não acredita que as modificações levem necessariamente a uma progressão, ou a “uma luta interior pela perfeição”. Na realidade, as modificações sofridas pelos organismos revelam-se de uma forma aleatória. “Um organismo bem adaptado pode ser extraordinariamente simples. Um insecto era tão maravilhosamente adaptado como um homem.”[3]
Creio que o livro “Evolução a Duas Vozes”[4], na parte escrita pela Doutora Teresa Avelar, resume muito bem o essencial do mecanismo evolutivo proposto por Darwin, isto é, Evolução pela Selecção Natural.
Podemos resumir este mecanismo a quatro pontos chave, como se segue:

- Variabilidade
- Crescimento populacional + recursos finitos à “luta pela existência”
- Algumas variações são vantajosas
- Sobrevivência de indivíduos e procriação

Assim, dentro de uma população de determinada espécie existe variabilidade intraespecífica, o que significa que os indivíduos são diferentes. Com o passar do tempo, o número de indivíduos dessa população ultrapassará os recursos disponíveis, originando uma “luta pela existência”. Devido às diferenças entre indivíduos, alguns terão características mais vantajosas, o que lhes permitirá sobreviver durante mais tempo, e por conseguinte, deixar mais descendência com essas mesmas características, em que também elas terão maior capacidade de sobrevivência e reprodução. Após várias gerações, em que os mais aptos se reproduzem mais dos que os menos aptos, verifica-se uma alteração lenta e gradual das espécies, ou seja, evolução.
Neo-Darwinismo
O mecanismo de selecção natural implica uma acção lenta sobre pequenas diferenças hereditárias entre indivíduos. No entanto, o que os geneticistas observam em laboratório são mutações e consequentemente uma evolução por saltos, e não gradual.
Foi necessário que vários cientistas se reunissem para que cada um, de acordo com a sua especialidade, pudesse explicar esta aparente divergência.
Deste modo, Ronald A. Fisher (1890-1962), com o seu livro The genetical theory of natural selection, demonstra a compatibilidade entre a genética mendeliana e a evolução por selecção natural, ou seja, com recurso a matemática, prova que o gene é fundamental para que a selecção natural possa actuar.
John Burdon Saunderson Haldane (1889-1988) coloca em prática o modelo da genética de populações de Fisher, realizando casos de estudo sobre alterações genéticas em populações naturais. Haldane é o responsável pelo exemplo da evolução da cor das asas das borboletas britânicas, frequentemente ilustradas nos manuais escolares (ver mais à frente).
Sewall Wright (1892-1964), tendo trabalhado no departamento de agricultura da América do Norte, apercebe-se que a variação genética não se distribui de modo uniforme pelas diferentes populações da mesma espécie. Deste modo, cada população de uma dada espécie terá uma distribuição genética própria. Assim, Wright propõe o modelo da Deriva Genética. Uma pequena população isolada fica impedida de reproduzir-se com indivíduos de outras populações, levando à fixação de uma composição genética particular (exemplo de uma ilha colonizada por um reduzido número de indivíduos de dada espécie).
O naturalista e geneticista russo, Theodosius Dobzansky (1900-1975), publica a obra que é considerada a fundação da Síntese Evolutiva Moderna, Genetics and the Origin of Species, em que inclui explicitamente a genética na teoria da evolução por selecção natural, reconciliando a matemática e genética com a selecção natural.
O zoólogo alemão, Ernst Mayr (1904-2005), explica que duas populações evoluindo de forma independente podem acumular variações genéticas que impossibilitam a reprodução, levando a um processo de especiação. Mayr define assim, portanto, geneticamente o conceito de espécie.
O paleontólogo Geoge Gaylord Simpson, estudando o registo fóssil com recurso a análise estatística, demonstra a compatibilidade dos elementos fósseis com a teoria evolutiva. Também o geneticista de plantas, G. Ledyard Stebbins, dá o seu contributo para a extensão da síntese moderna à botânica, publicando o livro Variation and Evolution in Plants (1950).

[1] De um modo exageradamente sintético, colocarei apenas o principal. Para saber mais sobre a vida deste naturalista e a sua principal obra, recomendo vivamente: Janet Browne, A Origem das Espécies de Charles Darwin, Gradiva, Lisboa, 2008 – tradução: Ana Falcão Bastos e Cláudia Brito.
[2] Janet Browne, A Origem das Espécies de Charles Darwin, Gradiva, Lisboa, 2008 – tradução: Ana Falcão Bastos e Cláudia Brito, pp. 19-20
[3] Idem, p.88
[4] Teresa Avelar, Padre Carreira das Neves, Evolução a duas vozes, Bertrand Editora, 2009

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