O programa “Gato Fedorento – Esmiuça os Sufrágios”, a passar na SIC às 21h30 de Segunda a Sexta, é uma novidade em Portugal. Não nos lembramos de um programa de humor político nas últimas décadas, mas ainda que existisse, as frequentes tensões entre a população e o governo – evidentes nas manifestações, por exemplo – fizeram supor que era impossível inserir humor na vida política. O panorama frio, racionalista e um tanto cinzento da discussão política e até das campanhas é desanimador. O que o grupo de humoristas conseguiu foi relativamente simples. Através das montagens com as imagens de debates, discursos e entrevistas, mostraram o lado engraçado e às vezes non-sense do discurso político, denunciando um certo artificialismo que terá alguma inspiração em técnicas de marketing. E humanizaram seguidamente os políticos que vão à entrevista e que podem mostrar uma face diferente, bem-humorada e diversa da faceta distante do quotidiano. Uma das razões do desinteresse pela política pode estar na falta de identificação da população com os políticos. Isto acontece porque dia-a-dia, ao aparecerem na televisão, estes assumem um papel que não parece humano. É um papel de excessiva seriedade que os pretende transformar em super-homens, invencíveis, insensíveis, longínquos e concentrados nos assuntos do Estado. Obviamente o que se quer num político e também num governante é uma honestidade, uma franqueza, uma dedicação e um trabalho sérios. Mas o que de artificial lhes é acrescentado fá-los parecerem-se cada vez menos com o povo que representam e governam. Como podem os comerciantes, os operários, os professores, os intelectuais, etc., identificar-se com homens que parecem tão distantes? O que os Gato Fedorento vieram fazer foi devolver essa humanidade aos políticos através do humor, que sempre gera sentimentos e respostas inesperadas. Talvez a partir daqui, mais do que na "Grande Entrevista" da RTP1, possamos ficar a conhecer melhor os políticos no seu raramente aparecido lado humano.
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