segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Artistas Rebeldes




A primeira geração formada na Academia de Belas Artes de Lisboa (criada em 1836) fez-se representar em 1855, pelo pintor João Cristino da Silva, pintando ao ar livre. “Cinco Artistas em Sintra” representa um acto de revolta liderado por Tomás da Anunciação contra o Mestre Manuel da Fonseca (professor durante 2 gerações na Academia em Lisboa) e contra a falta de recursos financeiros necessários para o investimento dos artistas-aprendizes. Tomás da Anunciação, João Cristino da Silva, José Rodrigues, Francisco Metrass e Vitor Bastos (o único escultor do grupo de pintores) reinvindicam assim a vontade de pintar sobre o motivo (pintar ao ar-livre), criticando deste modo a formação neoclássica conservadora que o Mestre Fonseca trouxera de Roma, baseada em cópias produzidas em atelier, de mestres antigos, de estampas de paisagens e na produção de uma pintura de História apoiada nas iconografias clássicas (considerada ultrapassada pela nova geração).

Do atelier para o ar-livre, os Cinco Artistas fazem-se representar em Sintra (terras do romantismo de D. Fernando e do seu Palácio da Pena) a ensinar o povo, demonstrando um programa simbólico muito significativo, próprio de um novo regime político (fontismo). O campo vai, deste modo, receber esta nova geração sedenta de novas temáticas que olham para a Natureza intocada pelo Homem, para a população rural e seus costumes. Olhando para o contexto europeu, entre as décadas de 50 a 70 de Oitocentos, criou-se a consciência de que se estava a perder a cultura e a tradição camponesa e rural. Criou-se um momento de nostalgia por aquilo que se estava a fazer, o que veio reforçar as temáticas anti-académicas (paisagem e retrato) e abrir caminho para um culto da Natureza.

Estes artistas, apesar de apenas produzirem esboços iniciais ao ar-livre e terminarem as suas obras em atelier sobre fundos de betume (tratamento que permite absorver melhor o óleo mas que acaba por deteriorar as cores), vão abrir caminho para uma nova geração – a geração do Grupo do Leão.

É de referir, no entanto, que o Romantismo em Portugal reside sobretudo na literatura (com Almeida Garrett e Alexandre Herculano) e na arquitectura (Palácio da Pena, Quinta da Regaleira, Buçaco). Por sua vez, a pintura “romântica” iniciada pela geração de Anunciação não tem o pathos romântico que a legitimiza, assim como a temática mística, poética e de ruínas está ausente. É neste argumento que se funda a opinião de alguns autores (como R.H.S), que olham para este ciclo como um pré-naturalismo.

1 comentário:

Anónimo disse...
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