Soeiro Pereira Gomes e Manuela Reis iam muito a Lisboa nos anos '30. Manuela Reis colaborava na Orquestra Ligeira da Emissora Nacional, como compositora de música popular. Pereira Gomes participava em tertúlias da capital, onde, entre outros, conviviam Manuel da Fonseca, Mário Dionísio, Alexandre Cabral e Alves Redol. Por essa altura despontava nas mentes de certos intelectuais portugueses a ideia de um novo realismo artístico que, lembrando vagamente (e talvez só pelo objectivo de descrever realidades vivas e actuais) as obras de uma geração de escritores falecidos há muito - Eça de Queiroz (1845-1900), Abel Botelho (1856-1917), Teixeira de Queiroz (1848-1919), Cesário Verde (1855-1886) - descrevesse a realidade das relações humanas no âmbito da economia industrial, ou seja, a exploração dos operários pelos patrões e dos camponeses pelos latifundiários. Mas sobretudo a exploração dos cidadãos pela Ditadura. Era uma Arte pela cidadania, um protesto político e social em romance, conto ou poesia. Em 1935, Pereira Gomes - que desde a juventude cultivava a poesia - envia o conto O Capataz ao semanário O Diabo. Em Maio de 1936, o director - o filólogo Rodrigues Lapa (1897-1989) - responde-lhe: "Comunico-lhe que a sua novela "O Capataz" foi cortada pela censura." (1) O conto, que descrevia as relações laborais numa fábrica, não podia vir a público. Era o primeiro contacto pessoal de Pereira Gomes com o Regime. De facto, numerosos cidadãos achavam-se há muito descontentes com os efeitos da Ditadura. Em Abril de 1931 sublevara-se a Madeira em peso; em Agosto do mesmo ano fora Lisboa; em 1934, a questão da Marinha Grande; os navios Afonso de Albuquerque e Dão rebelaram-se em 1936; 1943 e 1944 foram anos de greves. É neste contexto que surge o Neo-Realismo. Durante vários anos de oposição política ao regime, os seus adversários produziram algumas das mais dolorosas páginas da literatura portuguesa.
(1) Soeiro Pereira Gomes - Uma Biografia Literária, Giovanni Ricciardi, 1999, p.54.
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