Clara Pinto-Correia, no livro “O Ovário de Eva”, fala-nos de uma das teorias da reprodução, a Preformação, levando-nos numa viagem ao passado de modo a conhecer os intervenientes que defendiam e os que se opunham a esta teoria, juntamente com os seus argumentos.
A Preformação consiste na ideia de que “o organismo primordial já contém dentro de si todos os outros organismos da mesma espécie, perfeitamente preformados, por mais minúsculos que possam ser”.(1)
Foi o fascínio pela beleza desta doutrina, da qual tomou conhecimento através de um livro de embriologia, que terá levado a autora a interessar-se por este tema. Havia também o interesse em tentar compreender “como é que uma teoria tida como ridícula e obscurantista por vários escritores modernos dominaram as ideias da reprodução desenvolvidas durante a Revolução Científica”.(1)
O preformacionismo divide-se em duas vertentes, o ovismo e o espermismo. Os defensores do ovismo defendiam que todas as gerações se encontravam enclausuradas no interior dos ovos, enquanto que os espermistas defendiam que eram os animálculos(2) que continham todas as gerações já preformadas.
Quando há diferentes opiniões para um mesmo tema podemos esperar um entusiasmaste esgrimir de ideias e argumentos, principalmente quando proferidos por pessoas cultas que foram os cientistas que nos antecederam, assim como maravilhosas, e por vezes até mesmo assombrosas, experiências realizadas para tentarem lançar alguma luz sobre esta temática.
Há dois nomes que não posso deixar de mencionar, são eles o de Charles Bonnet que acabou por perder a visão ainda novo em prol do conhecimento científico, e Lazaro Spallanzani pelas suas engenhosas experiências para refutar a teoria da geração espontânea, assim como por demonstrar ser necessário o contacto do esperma com os ovos para que haja fertilização, mesmo que para isso seja necessário vestir rãs com calções.
(1) Conforme o prefácio.
(2) Animálculos era a designação atribuída aos espermatozóides no início das observações microscópicas. O termo espermatozóide apareceu mais tarde.
Sobre a autora:
Clara Pinto Correia licenciou-se em Biologia pela Universidade de Lisboa e doutorou-se pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, no Porto. Deslocou-se para os Estados Unidos da América, onde prosseguiu uma carreira universitária e de investigação com um pós-doutoramento na área da clonagem de mamíferos. Foi também aí que realizou uma especialização em História das Ciências, na Universidade de Harvard, sob a orientação de Stephen Jay Gould, da qual resultou o livro “The Ovary of Eve” (Un. Of Chicago Press, 1997).
Actualmente lecciona no curso de Biologia (do qual é coordenadora), na Pós-Graduação em Ciência Biológicas e Sociedade e no Mestrado em Biologia do Desenvolvimento, na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.
Versão em Inglês: Clara Pinto-Correia, "The Ovary of Eve - Egg and Sperm and Preformation", Un. of Chicago Press, 1997.
Versão em Portugês: Clara Pinto-Correia, "O Ovário de Eva - Ovo e esperma e Preformação", Relógio d'Água Editores, 1998 - tradução de Miguel D'Abreu.
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