"Trabalhamos apenas para encher a memória e deixamos vazios o entendimento e a consciência. (...) Sabemos dizer: Cícero diz assim; eis o que fazia Platão; são as próprias palavras de Aristóteles. Mas nós, que dizemos nós próprios? Que pensamos nós, que fazemos nós? Um papagaio poderia fazer o mesmo. (...) Recolhemos as opiniões e o saber dos outros e é tudo. Mas é preciso torná-los nossos. (...) Tanto nos deixamos andar ao colo dos outros que deixamos desvanecer as nossas forças. Quero armar-me contra o terror da morte? Faço-o à custa de Séneca. Quero arranjar consolação para mim ou para outrem? Vou buscá-la a Cícero. Porém, poderia encontrá-la em mim próprio se me tivesse exercitado. Este saber relativo e mendigado não me diz nada. Ainda que pudéssemos ser sábios com a ciência dos outros, só com o nosso próprio pensamento poderemos ser conscientes."
Montaigne, Do Professorado, 1993
Cit. em Marcello Fernandes e Nazaré Barros,
Introdução à Filosofia (10ºano), Lisboa, Lisboa Editora, 1998, p.5
Sem comentários:
Enviar um comentário